Recentemente a gente teve escrita, talvez até agora, a página mais trágica desse silenciamento; o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, nosso museu bicentenário, esse museu com esse acervo enorme que virou cinzas.
Mais de uma vez, a gente já disse aqui no Nocaute, que parece cada vez mais claro que existe um projeto evidente e sistemático de silenciar a música, as arte, a cultura, o saber, a inteligência e o conhecimento neste país.
E recentemente a gente teve escrita, talvez até agora, a página mais trágica desse silenciamento; o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, nosso museu bicentenário, esse museu com esse acervo enorme que virou cinzas.
E como nessa época nós estamos normalizando tudo, já vejo nas redes sociais uma espécie de bolão macabro das pessoas se perguntando que é a bola da vez, quem vai ser o próximo.
Então, por exemplo, aqui em São Paulo tem um modelo de gerenciamento que muita gente quer replicar para o resto do país. Aqui em São Paulo que já queimou o Museu da Língua Portuguesa, já queimou o Instituto Butantã, já queimou o Memorial da América Latina, as pessoas dizem: o risco é o nosso Museu do Ipiranga, nosso Museu Paulista, que está fechado desde 2013 e está com 3% da verba para as reformas.
No Rio de Janeiro falam que o risco, o problema, que não queimou ainda por milagre é a Biblioteca Nacional que está há dois anos sem o alvará dos bombeiros.
Parece que a gente fica a beira do abismo, petrificado, olhando e esperando a próxima desgraça que vai se abater sobre nós.
Obviamente começou uma disputa bastante acirrada de narrativas para saber quem é o responsável pelo incêndio. Isso seria inevitável em qualquer situação, mas especialmente agora em ano eleitoral.
Eu resolvi ir atrás do jornalista cultural que eu mais respeito neste tipo de cobertura que é o JB Medeiros. JB escreveu em seu blog uma análise concisa e direta, acho que vale reproduzir.
Para o JB, como para muita gente, essa era uma tragédia anunciada e ele diz: “Sua articulação começou com a interrupção, pelo governo Temer, de diversos programas de apoio à museologia federal nos últimos dois anos. Vários programas tiveram descontinuidade e foram cortados cerca de 60% dos recursos pelo Ministério da Educação (MEC|) e pela UFRJ, a quem cabia a gestão do museu.
Entre os programas cortados, estava o de prevenção de riscos. Como as universidades federais foram algumas das instituições mais penalizadas pela gestão Temer, o desmonte respingou nos museus”.
Além disso, surgiram vários dados, vários números que parecem corroborar com essa visão, como por exemplo a queda, a despencada drástica, nos repasses de recursos da União para os museus – em dados corrigidos pela inflação – em 2013 de 1 milhão de reais caiu pela metade 665 mil em 2017. E nesse ano de 2018 não chegou a 100 mil reais, nesses meses de 2018.
Os gastos com segurança entre 2015 e 2017 estavam em um pouco menos de 17mil reais, você acha isso pouco? Eu também. Mas quando eu vi que em 2018 esses gastos não existiram eu fiquei ainda mais estarrecido.
Agora teve um dado que circulou menos que me parece ligado a isso e que talvez ajude a explicar.
No ano passado, 2017, o Museu do Louvre – museu francês – recebeu mais visitantes brasileiros que o Museu Nacional. Isso mesmo, não é que eles receberam mais gente, porque aí que museu pode concorrer com o Louvre, mais gente do Brasil foi visitar o Louvre do que foram ao Museu Nacional, e não é pouca a diferença.
O Museu Nacional recebeu 192 mil visitantes ano passado. O Louvre, só de brasileiros, recebeu 289 mil.
Aí você me pergunta: mas e daí? O Museu estava caído, evidentemente tinha menos condições de atrair visitantes.
Talvez, faz parte um pedaço da resposta. Aliás, eu não sou contra ir ao Louvre. Se eu pudesse ir até lá de Bilhete Único estava lá todos os dias. Eu acho que no mundo ideal, todo o cidadão deste planeta deveriam poder, pelo menos uma vez na vida, entrar no Louvre.
Mas a questão é, eu acho que isso diz muito sobre a mentalidade da nossa elite. Essa elite que quando viaja até começa falar inglês entre si na doce ilusão que não vai ser reconhecida, que não quer nem passar por brasileira.
Essa elite que só reconhece como cultura o que está fora, o que vem de fora, o que é validado fora e não daqui.
Então, essa elite que está se lixando para o Museu Nacional. Que olha para o artista, olha para o educador como um inimigo a ser exterminado, como um vagabundo que vive de verba pública e de Lei Rouanet.
E essa elite que tem então uma parcela fundamental nesse programa sistemático e cada vez mais avançado, que parece não dar amostra de arrefecer, de silenciamento da música, das artes, da cultura, da inteligência, do saber e da educação do nosso país.
Mais Nocaute:
O Cardeal quer impor à PUC um decreto que vai matar a democracia e o pluralismo da Universidade.
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