Católicos conservadores atacam democracia na PUC-SP

A democracia brasileira, muito infelizmente, vai levar mais um golpe profundo se a gente deixar. No dia 29 de agosto, a reitora da PUC-SP recebeu um pacotão de medidas enviado pela Fundação São Paulo, que é a fundação mantenedora da PUC, vinculada a cúria católica de São Paulo, com uma proposta, na verdade um decreto, de reforma dos estatutos da PUC.
Entre outras coisas, essa reforma diz o seguinte:

• O reitor não vai ser mais eleito pela comunidade da PUC, vai ser diretamente escolhido pelo Cardeal.

• Todos os cargos intermediários de chefia também não vão ser eleitos, eles vão ser escolhidos pelo reitor.

Isso aí por si só já é um golpe profundamente autoritário em uma das instituições mais importantes para democracia brasileira. É difícil explicar para quem não conhece história a importância que tem a PUC.

Durante a ditadura militar, quando a cúria em São Paulo era comandada por Dom Paulo Evaristo Arns, a PUC representou um espaço importantíssimo de resistência à ditadura. Na PUC trabalharam, por exemplo, Florestan Fernandes, Perceu Abramo, Paulo Freire e muitos outros que foram perseguidos pela ditadura.

Agora esse espaço está correndo risco de ser fechado, por esse decreto do cardeal Dom Odilo, que é o presidente da Fundação São Paulo. E por que isso está acontecendo agora?

Bom, a gente está se perguntando, os professores lá da PUC, onde eu dou aula, no departamento de jornalismo os professores estão se perguntando: por que justo agora veio esse pacotão?

Muita gente já começa achar, já começa especular, já começa opinar que na verdade se trata de um problema de dimensão bem maior. Na nossa opinião não é um acaso que esse golpe contra a PUC venha justamente no momento em que os setores mais conservadores e mais fundamentalistas da igreja católica de todo o mundo querem a demissão do Papa Francisco.

Na verdade está acontecendo um movimento mundial para demitir o Papa e nós achamos que aqui em São Paulo, esse movimento para impor o autoritarismo na PUC, faz parte desse processo global dos setores mais conservadores da igreja católica, que querem, justamente, assestar um golpe profundo nos grandes espaços de liberdade que estão existindo hoje na igreja graças a militantes do Papa Francisco.

Portanto, o momento é muito grave. Junto com esse decreto de não ter mais eleições, existem muitos outros decretos autoritários, incluindo um que estabelece a demissão compulsória, ou melhor, a aposentadoria compulsória, de todos os professores com mais de 75 anos de idade, o que fere profundamente o Estatuto do Idoso e a própria Constituição brasileira, além do outras medidas de caráter extremamente autoritário.

Isso aí, como disse no começo, representa um golpe profundo na democracia brasileira dado o caráter simbólico que a PUC tem, o espaço que ela ocupa. Basta lembrar a invasão da PUC em 1977, comandada pelo coronel Erasmo Dias e tudo que a resistência dela representou para acelerar o declínio e o fim da ditadura militar.

Portanto é lamentável que isso tudo esteja acontecendo, a gente sempre acha que não vai ter mais uma nova maldade depois das demências do Trump na Casa Branca, depois da farsa eleitoral no Brasil, a gente acha que chegou no fim das maldades, mas parece que sempre tem espaço para mais um.

Agora, a comunidade da PUC vai ter que resistir, vai ter que ir para luta, vai ter que fazer o que for possível para barrar mais essa medida autoritária. Vai ser difícil, mas com o apoio da sociedade brasileira eu acho possível barrar esse golpe.