Brasil Cultura

Um outro Neymar é possível


Em tempo de copa do mundo fala-se muito e fora da copa vai continuar se falando o nome de Neymar. Não estou aqui para patrulhar quem vai torcer pelo Neymar Junior. Não acho que essas coisas sejam excludentes, mas gostaria de aproveitar esse gancho para chamar a atenção para um outro Neymar.
Um outro Neymar é possível. O outro Neymar, chamado Neymar Dias.
Neymar Dias é, em um certo sentido, um músico muito brasileiro. Porque é um cara que realmente transcende todo o tipo de fronteira e qualificação. Conheci o trabalho do Neymar quando eu achava que ele era simplesmente um bom contrabaixista erudito.
Aí ele começou a pegar esse contrabaixo e expandir muito o que esse contrabaixo fazia. Ele usa muito com o arco, conversando com o popular, tocando o popular com muita verve. E depois de simplesmente admirar o Neymar como contrabaixista popular e erudito e já achar que isso é suficiente, era para mim, mas não era para ele, eu descobri que o Neymar é um violeiro, é um grande virtuose da viola caipira.
E aí o Neymar, recentemente, lançou um disco, em que ele em sua viola caipira brasileira toca a música do barroco alemão de Johann Sebastian Bach.
Como é que ele fez isso? Ele fez isso de um jeito em que o Bach na viola caipira continue sendo Bach. E que a viola caipira continue sendo a viola caipira. Ou seja, ele pega a música como Bach escreveu, faz adaptações e mantém a viola caipira afinada como viola caipira. Não tenta aproximá-la do violão.
Ele toca quatro obras nesse disco. Uma partita BWV 1006 que é originalmente para violino, a Suíte N°1 BWV 1007 que é para violoncelo, depois o Prelúdio Fuga e Allegro BWV 998, que já fez a alegria de muitos violonistas e alaudistas, e no fim, três pequenas peças bachianas, corais bachianos como Wachet auf, ruft uns die Stimme e Jesus Alegria dos Homens quase que um brinde para fechar o disco.
O Neymar vai mostrar essa sua versatilidade, além de estar disponível em plataformas a gravação, agora no Festival de Inverno de Campos do Jordão, agora no dia 20 de julho, lá na Capela do Palácio do Governo, ele vai fazer um recital, justamente, com esse repertório bachiano brasileiro.
Talvez até a possa colocar o Neymar Dias como um sucessor da boa linhagem do Villa-Lobos, um bachiano brasileiro. Alguém que olha para os contrapontos de Bach e os traduz dentro da linguagem da nossa terra.

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *