Brasil

Após recuo de Temer, rodovias, aeroportos e abastecimento continuam paralisados.

Michel Temer se reuniu na manhã desta quinta-feira (24) com os ministros Eduardo Guardia (Fazenda), Moreira Franco (Minas e Energia), Valter Casemiro (Transportes, Portos e Aviação), o presidente da Petrobras, Pedro Parente, e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, para discutir o impasse em torno dos preços dos combustíveis.
A reunião ocorreu no dia seguinte ao anúncio da Petrobras de redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 15 dias. Com essa decisão, o governo esperava conseguir tempo para negociar com o movimento dos caminhoneiros, que hoje atinge o quarto dia de greve, paralisando o abastecimento de vários setores no país.
A greve impôs pressão ao Planalto e cobrou alguma medida da Petrobras que anunciou queda de 10% no combustível (redução de R$ 0,25 nas bombas).
A greve dos caminhoneiros provocou um desabastecimento de combustível em diversos aeroportos do Brasil. Com isso, alguns voos tiveram de ser cancelados. Em Brasília, só pousa quem tiver combustível para decolar.
Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o transporte público foi reduzido. Mais de 20 rodovias paulistas tiveram protestos nesta quinta.
A greve também causou o desabastecimento de alimentos em feiras e supermercados por todo o país.
As empresas transportadoras de carga aderiram ao movimento dos caminhoneiros, que até então era predominantemente conduzido pelos autônomos, elevando para mais de 1 milhão de caminhões a adesão à paralisação.
Na noite de ontem, os deputados aprovaram no plenário versão reduzida do projeto de reoneração da folha de pagamento, medida proposta pelo governo para zerar a CIDE, que incide sobre o diesel e aumenta em R$ 0,05 o valor do litro. A eliminação do PIS/Cofins também foi incluída.
A greve começou na segunda-feira (21) e já atinge 23 estados e o Distrito Federal. São 384 rodovias bloqueadas acelerando o processo de desabastecimento nas capitais do país. Já ocorrem relatos de falta de combustíveis em postos e aeroportos e de alimentos em supermercados.
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou, nesta manhã, que o movimento de paralisação da categoria só terminará quando a redução de impostos dos combustíveis for publicada no Diário Oficial da União (DOU). De acordo com a associação, o movimento “não acredita mais nas promessas do governo” e que, por isso, a paralisação só terminará quando a decisão “virar lei”.
O desdobramento da paralisação passa a englobar outras categorias. Em Minas Gerais, os petroleiros da Refinaria de Gabriel Passos, em Betim, se uniram ao movimento dos caminhoneiros e, em assembléia realizada no início da manhã de hoje, decidiram paralisar suas atividades por um período de oito horas.
De acordo com o coordenador do Sindpetro de MG, Anselmo Braga, “os petroleiros não estão lutando por melhores salários, nem por benefícios ou privilégios. Estamos lutando para que o gás de cozinha volte a ter o preço que tinha antes, pela baixa da gasolina, pela baixa do preço do diesel”.
Para Anselmo Braga, o movimento contra a política de reajustes e de importação pela Petrobras deverá ser estendido às demais refinarias e plataformas da estatal em todo o País já nos próximos dias.
“Esse é o início de uma greve que está sendo construída nacionalmente que pretende paralisar todas as refinarias do país e as plataformas”, afirmou. Segundo Braga, “as refirmarias estão trabalhando com carga baixa a mando do governo para que os importadores tragam combustível mais caro para o país”.
Em nota, a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) se solidariza aos consumidores brasileiros e reafirma que é perfeitamente compatível ter a Petrobrás forte, a serviço do Brasil e os preços dos combustíveis mais baixos e condizentes com a capacidade de compra dos brasileiros.
Confira na íntegra o comunicado da AEPET.
A AEPET reafirma o que foi expresso no Editorial “Política de preços de Temer e Parente é ‘America First!’ “, de dezembro de 2017.
A Petrobras adotou nova política de preços dos combustíveis, desde outubro de 2016, a partir de então foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.
Ganharam os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. Batizamos essa política de “America first! ”, “Os Estados Unidos primeiro!”.
Diante da greve dos caminhoneiros assistimos, lemos e ouvimos, repetidamente na “grande mídia”, a falácia de que a mudança da política de preços da Petrobrás ameaçaria sua capacidade empresarial. Esclarecemos à sociedade que a mudança na política de preços, com a redução dos preços no mercado interno, tem o potencial de melhorar o desempenho corporativo, ou de ser neutra, caso a redução dos preços nas refinarias seja significativa, na medida em que a Petrobrás pode recuperar o mercado entregue aos concorrentes por meio da atual política de preços. Além da recuperação do mercado perdido, o tamanho do mercado tende a se expandir porque a demanda se aquece com preços mais baixos.
A atual direção da Petrobrás divulgou que foram realizados ajustes na política de preços com o objetivo de recuperar mercado, mas até aqui não foram efetivos. A própria companhia reconhece nos seus balanços trimestrais o prejuízo na geração de caixa decorrente da política adotada.
Outra falácia repetida 24 horas por dia diz respeito a suposta “quebra da Petrobrás” em consequência dos subsídios concedidos entre 2011 e 2014. A verdade é que a geração de caixa da companhia neste período foi pujante, sempre superior aos US$ 25 bilhões, e compatível ao desempenho empresarial histórico.

Geração operacional de caixa, US$ bilhões
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
33,03 27,04 26,03 26,60 25,90 26,10 27,11

A Petrobrás é uma empresa estatal e existe para contribuir com o desenvolvimento do país e para abastecer nosso mercado aos menores custos possíveis. A maioria da população quer que a Petrobrás atue em favor dos seus legítimos interesses, enquanto especuladores do mercado querem maximizar seus lucros de curto prazo.
Nossa Associação se solidariza aos consumidores brasileiros e afirma que é perfeitamente compatível ter a Petrobrás forte, a serviço do Brasil e preços dos combustíveis mais baixos e condizentes com a capacidade de compra dos brasileiros.
*Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
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