Brasil

Juca Kfouri sobre o banimento de Del Nero: “Mudam só as moscas”


Transcrição da entrevista 
Juca, quer dizer que o Marco Polo Del Nero não teve que viajar para nos deixar livre
Então, Del Nero está banido do futebol. Uma decisão da Fifa que tardou e portanto falhou, porque deram a ele quase dois anos para que ele fizesse toda a articulação para eleger o seu sucessor – o tal do Rogério Caboclo, braço direito dele, que caiu de paraquedas no futebol brasileiro.
A Fifa está fazendo uma mudança cosmética, é uma mera maquiagem. Como dizia o autor italiano Lampedusa no Leopardo, mudar para deixar tudo como está. Na verdade, mudam só as moscas. Porque a questão é estrutural, na superestrutura do futebol brasileiro.
Basta dizer que caiu Ricardo Teixeira, veio José Maria Marin. Caiu o Marin, veio o Marco Polo Del Nero. Ricardo Teixeira não pode sair do Brasil, se sair é preso pela Interpol. Marin está preso em Nova York pela Interpol. E Del Nelo, que não viaja, também não pode sair do Brasil, se sair é preso pela Interpol. Mas fez o sucessor, fez o testa de ferro.
Significa dizer, qual é a única interrogação? Sobre mudanças no futebol brasileiro não há. Vai continuar igual. É provável que Marco Polo Del Nero seja traído por Rogerio Caboclo, como sói acontecer com apadrinhados que acabam se voltando contra o padrinho porque passam a ter a caneta para exercer o poder e escanteiam o padrinho.
Vimos isso com Quércia e Fleury, Pitta e Maluf, vimos isso na história da política brasileira. Mas o essencial é ter isso em mente: a Fifa está botando para fora uma velha geração corrupta para permitir que surja uma nova geração com os mesmos métodos.
Então não tem o que esperar de novo?
Infelizmente não há razão alguma para ficar otimista. Muita gente me pergunta: está feliz hoje, Juca? Mais um que você denunciava que caiu. E eu digo: passo a ter novos trabalhos, novas investigações com o novo velho que está surgindo. Não há motivo nenhum para fazer festa.
É possível estabelecer alguma semelhança entre a gestão da CBF e a gestão do nosso país?
Sem dúvida nenhuma. A gestão da CBF é a das elites brasileiras. A prova disso é que, por incrível que pareça, precisou que a justiça americana, suíça, espanhola, denunciasse nossos cartolas, porque aqui dentro eles estão impunes. Tão impunes, que Marco Polo, que não viaja, e Ricardo Teixeira, que também não viaja, continuam circulando pelo Rio de Janeiro nos melhores ambientes porque a nossa justiça não os incomoda.
Como você enxerga um jeito de conseguir mudar a gestão da CBF para que ela se torne algo importante para o futebol brasileiro?
É preciso, antes de mais nada, para mudar a superestrutura do nosso esporte, a democratização das eleições nos clubes, nas federações, de maneira tal a que o presidente de uma federação, o presidente da CBF, ou de um Comitê Olímpico Brasileiro, o presidente do Corinthians, do Flamengo, do Inter, do Atlético Mineiro sejam fruto da vontade dos torcedores desses clubes, e não apenas de uma pequena corriola

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