Brasil

A música clássica, como tantas outras coisas aqui, está sob ataque


A música clássica no Brasil, acredite, como tanta outras coisas aqui, está sob ataque. E o irônico é que essa forma de arte que tanta gente diz que é elitista está sob ataque das elites, veja bem.
Não, não é que teve uma montagem de ópera que foi lá uma milícia fascista impedir que acontecesse ou pedir para sair de cartaz. Isso não teve. Não é que veio para cá algum maestro, alguma cantora que pediram para enxotar o cara do Brasil ou para não receber aqui. Isso não aconteceu.
Então, o que aconteceu, acontece e vem acontecendo? No Brasil, como costuma acontecer na Europa, essa atividade é iminentemente uma atividade estatal. Uma atividade financiada com dinheiro público.
E o nosso Estado mínimo e esfacelante vem cuidando sistematicamente de podar as fontes de receita da música de concerto do Brasil. Aliás, a gente fala Brasil, os centros de excelência seriam Rio-São Paulo, então vamos só olhar Rio e São Paulo, porque aqui a gente tem um limite de tempo e concentração e paciência.
Rio de Janeiro tem um teatro municipal, avisar para quem está do lado de cá da via Dutra que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro é um órgão estadual. Não preciso falar muita coisa, vocês sabem o que acontece, ou melhor, o que não acontece no estado do Rio de Janeiro.
Os funcionários do Teatro Municipal do Rio de Janeiro tiveram e vem tendo os mesmos problemas de todo o funcionarismo público do Rio de Janeiro. De não receber dinheiro e de ter que se virar de formas impensáveis para sobreviver e chegar ao final do mês.
Isso obviamente rebate na programação esse drama humano terrível.
O Teatro Municipal do Rio de Janeiro fez uma coisa muito original recentemente, anunciou uma temporada grande, ambiciosa e já anunciou que não vai ter dinheiro para cumpri-la.
Eu me pergunto para quê fazer um anúncio desses?
E aqui em São Paulo? Será que gente está melhor? Em São Paulo nós temos, o que foi definido pelo colega jornalista Nelson Rubens Kunze, da Revista Concerto, como um torniquete na música clássica.
Como funciona música clássica no âmbito do estado de São Paulo. Governo do estado de São Paulo contrata OS (Organizações Sociais) para gerenciarem os diversos grupos artísticos e repassa dinheiro a essas OS.
Então, de agora até 2022 foram anunciados que o repasse será o mesmo nos próximos quatro anos e no patamar de 2017. Isso já seria um problema porque a gente não vive na Suíça e tem inflação e aumento de custos então você projetar esse mesmo custo para daqui a quatro anos já é problemático.
Agora, isso fica especialmente dramático se a gente acompanhar os dados do Nelson Rubens Kunze e olhar que em 2017, o patamar que foi decidido para essas Organizações Sociais as contas já não fechavam. O dinheiro já era inferior ao necessário.
Aí depende da OS, mas em 2014 todo mundo teve que começar a fazer cortes para se adequar a essa realidade cada vez mais complicada, para caber nesse cobertor cada vez mais curto.
A gente está falando, sempre de acordo com os dados do Nelson, em cortes de 15% na EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo) a 37% do Projeto Guri. Estou falando de iniciativas educativas. Então, além de atingir músicos, você atinge professores e alunos, muitas vezes população carente.
Aí o pessoal da Osesp, Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que é a joia da coroa, foi poupada? Não foi. A gente tem aí 34% de corte.
Então, o cenário, obviamente é, não apenas de diminuição da programação, mas um cenário de desemprego, por exemplo, a extinção da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, da redução da orquestra do Teatro São Pedro e da diminuição da oferta de cultura para a população.
Eu acho que não há exagero na gente considerar que está em curso um projeto sistemático de silenciamento da música, da cultura, das artes, da educação e da inteligência no nosso país.
Assista também:

Inveja, de Iuri Oliécha. Mas o que é isso? Quem foi Oliécha?

Assista à íntegra do programa Caixa-Preta, com Ana Roxo e Fernando Morais


 

O Nocaute viajou até Curitiba para conhecer o acampamento Lula Livre


 

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  1. Avatar

    Sim Irineu,eu acredito.Mas podemos,por hora,contornar essa ridícula falta de orçamento.Vamos convocar o povo,aqueles que quiserem,para ouvir musica clássica de gravações em CD e com explicações que possam levar o ouvinte a entender oque estão ouvindo.Isso pode ser uma forma de politizar as pessoas com música!

  2. Avatar
    Martinho Lutero says:

    Ha,ha,ha. Até que enfim…a água bateu no “sederino” não é queridos ?
    Há quanto tempo estamos falando e vivendo isso ?
    Onde estavam vcs, revista concerto …os “chapa branca “ ???
    Agora que atingiu os nichos das “zelite” musical, então voces saem para denunciar ?
    Ok. Muito bom. Antes tarde do que nunca . Mas deixa para lá a Osesp porque ainda roda muito dinheiro lá dentro . Vamos da realidade musical de base .
    Acorda querido !!!

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