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Afinal, o que é uma ditadura?


Não deixa de ser absolutamente simbólico que, pouco mais de uma semana depois de presenciarmos a nossa Constituição ser mais uma vez mandada às favas sem pompa nem circunstância, os governos da região se encontrem para discutir, nada mais nada menos, do que a “Governança Democrática contra a Corrupção”.
O cinismo da temática da oitava Cúpula das Américas – ao que tudo indica, apenas uma reunião ampliada do Grupo de Lima -, sem Trump, e talvez sem Santos e Macri, é de levantar desconfianças até nos menos atentos. E sua composição, de causar arrepios. O que isso quer dizer? Quer dizer que vamos ter governos como o de Juan Orlando Hernández, resultado de uma eleição abertamente fraudulenta, ou mesmo Temer, que todos sabemos como chegou onde chegou, discutindo formas de combater “democraticamente” a corrupção. Que vamos ter governos como Colômbia, um dos países que mais assassina líderes sociais, e Argentina, que não mede esforços para implementar a agenda de Washington às custas da sua população, discutindo “saídas” para a “crise” venezuelana. Que vamos ter países como Estados Unidos e Canadá, que, não contentes em asfixiar economicamente nosso país vizinho, partem agora para ameaças de intervenção direta caso as eleições (que eles vêm pedindo que sejam antecipadas a meses) sejam levadas a cabo na Venezuela.
A ironia é admirável: esses países, que se dizem os baluartes dos valores democráticos, pretendem agora não só impor quais candidatos podem participar dos pleitos (como acabamos de presenciar no Brasil), mas quando e como os processos de consulta popular podem ou não ser legítimos. E aí pergunto: afinal, o que é uma ditadura? Porque é tão importante caracterizar uma das raras democracias realmente participativas como um “regime autoritário”, enquanto governos impostos por golpes institucionais continuam sendo chamados assim, de “governos”, como se representassem a legitimidade que a palavra empresta?
O Brasil deu, essa semana, mais um passo rumo ao aprofundamento do Estado de Exceção. Tivemos de tudo: de ameaças de militares a ministros do STF rasgando a letra da lei em nome de convicções pessoais. Vimos, mais uma vez, que as instituições não são garantes da democracia. Enquanto isso, povo venezuelano, que desafiou a inevitabilidade da política representativa e abriu novos espaços para experiências democráticas participativas e protagônicas, segue enfrentando as tentativas imperialistas de ditar os rumos do seu país – como fizeram com o nosso. A participação do Brasil na Cúpula não está sendo contestada. A da Venezuela, foi barrada.

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  1. Avatar

    Cara Aline , concordo com tudo o que vc escreveu, so faço uma ressalva:*ironia e ademiravel esses paises que se dizem baluartes dos valores democraticos*, so se forem democraticos quando seus interesses nao sao contrariados,porque senao mandaram o exercito dos seus paises voltarem a ser cordeirinhos das suas vontades.
    Isto para mim nao e democracia e sim totalitarismo de força.
    Apos a segunda guerra os demoniocratas americanos sempre estiveram em guerras pelo mundo inclusive no Vietna de onde sairam correndo com o rabinho entre as pernas.Este sim foi um povo patriota que defendeu seu pais contra a tirania dos gringos belicosos e antidemocraticos.

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