Brasil

Callegari denuncia o que está por trás do projeto de educação a distância

Educador respeitado e membro do Conselho Nacional de Educação, Callegari falou ao Nocaute sobre o anúncio nesta manhã de que o governo Temer destinaria 40% do Ensino Médio à educação a distância. Nesta mesma tarde, após o recuo do ministro Mendonça Filho, Callegari reiterou: “Não é a primeira vez que há um recuo depois de uma repercussão negativa das medidas tomadas. Nós precisamos ficar atentos. É possível que o próximo golpe venha com a apresentação da proposta de Base Nacional Curricular do Ensino Médio.”

Nós acabamos de receber no Conselho Nacional da Educação (CNE) uma proposta discutida no Ministério da Educação, do atual governo brasileiro, que pretende regulamentar a lei do ensino médio.
Todos sabem que há um verdadeiro bombardeio, o Governo Federal tem gasto milhões de reais em propaganda de reforma do ensino médio que nem está no papel, quanto mais na realidade. Mas ele pretende regulamentar essa lei, aprovada cerca de um ano e meio atrás, através de uma reformulação das diretrizes curriculares do ensino médio, isso é papel do Conselho Nacional da Educação.
Dentro dessa proposta encaminhada, e que começou a ser discutida no CNE, tem uma medida que é uma das mais nefastas para a educação brasileira: permitir que parte do ensino médio, parte grande do ensino médio seja feita à distância.
Nós não concordamos com esse tipo de visão. Nós temos que fortalecer a escola, isso significa fortalecer os professores, toda a equipe escolar, a estrutura da própria escola deve ser fortalecida e tudo isso representa necessidade de investimentos maiores em educação. Mas nós não podemos permitir que aos jovens brasileiros seja sonegado o direito de conviverem com eles próprios.
Nós sabemos que tem muita coisa que aprendemos na escola que não estão nos livros. Aprende a respeitar as diferenças, aprende os elementos fundamentais de solidariedade, de união, de laços afetivos fundamentais. Isso se constrói com relações sociais concretas, no território dos afetos que é a escola, não atrás de uma tela de computador num quarto escuro. Não é assim que se constrói uma sociedade solidária que nós queremos pro país. Tem muita gente que não quer isso e quer abrir o ensino médio para que seus recursos sejam aproveitados pelos grandes grupos econômicos privados da área de educação, que pretendem abocanhar parte significativa dos recursos educacionais sobretudo na área pública.
Não podemos permitir que essa medida prospere e para isso precisamos nos mobilizar. A reforma do ensino médio é algo necessário, mas é algo que precisa ser discutida com a sociedade, em primeiro lugar com os professores e estudantes, que têm muito a dizer a respeito da escola em que pretendem estudar.
O ensino médio brasileiro vai mal, menos de 7% dos jovens que vão para o ensino médio alcançam um nível de proficiência minimamente adequado em matemática e menos de um terço conseguem passar no ensino médio com os conhecimentos elementares em língua portuguesa. Então isso precisa mudar, mas tem que mudar pra valer, mudar verdadeiramente, apoiando aquilo que é fundamental na educação que são professores e alunos nas suas condições de trabalho para que seja possível avançar na educação.
O que eu quero dizer é que nós precisamos nos levantar contra esse tipo de medida apresentada agora ao CNE que em nada contribui para a melhoria da educação e em nada contribui para a melhoria do nosso país.

Às 13h10, o Ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho (DEM) declarou à Folha de São Paulo que vetará a proposta de liberar 40% de aulas a distância no ensino médio.
Mendonça Filho afirmou que não concorda com a abertura e que não havia sido consultado sobre o tema.
“O governo não quer isso, não foi discutido no MEC. Não concordo e não passará”. “O debate no CNE é livre, e eu até desconheço a proposta. “Quem fala pelo MEC é o ministro”.
Depois da declaração de recuo do ministro Mendonça Filho, o Nocaute voltou a falar com Cesar Callegari que afirmou que “podemos comemorar pelo fato da repercussão que está havendo. Mas não é a primeira vez. Eles já tentaram passar, por exemplo, a educação a distância já no Ensino Fundamental. Quando nós denunciamos isso, eles também recuaram. Mas, enfim, esse pessoal sentiu o gosto de sangue, de golpe e vão procurar golpear o tempo inteiro”.

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  1. Avatar

    Sou professora e quero dizer que o ensino médio bem como o fundamental precisa de estender sua carga horária para um mínimo de pelo menos 7 horas diárias.Vamos aproveitar o momento para manifestar nossa indignação com estes golpistas de plantão que estão destruindo o pouco que há.

  2. Avatar

    Na região onde estou a escola pública tem laboratório de ciências, horta , laboratório de robótica, quadra coberta …boa estrutura e tudo sem uso. Professores e Diretoria tem vontade zero de usar esses recursos. Vou na escola, cobro, brigo e eles dão de ombros e fazem corporativismo, inclusive na secretaria municipal de educação. Quando vou ouvir comentários cobrando deles ? Quando vou ouvir que podem ser demitidos caso não esteja com vontade de ensinar ? O salário deve ser bom porque os carros no estacionamento não são velhos nem populares. O diretor anterior tinha uma BMW.

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      Lafaiete de Souza Spínola says:

      Isso é uma aberração! Talvez, haja o dedo de quem deseja a tal educação à distância. Degradam para alcançar o que desejam!

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