Brasil

Na quaresma carnavalesca da mídia, é melhor ficar em casa – e chamar o “Uber humano"


 

Os tempos correntes são pródigos em fatos, factóides e facciosidades, no maravilhoso mundo da mídia.

​Nas últimas semanas, tivemos uma verdadeira enxurrada de episódios, que renderam muita polêmica nas redes sociais, embora acrescentem pouco ao que sabemos do jornalismo e podemos esperar dele.

Acompanhamos o relançamento da edição impressa do Jornal do Brasil, que foi recebida com esperança porque deu emprego a ótimos jornalistas da esquerda, marginalizados pelo macartismo subterrâneo vigente​. Mas o jornal é apenas mais uma tribuna liberal entre tantas, plataforma política para o empresário que a empreende.

Vimos pela enézima vez a TV Globo chegar antes a uma batida da Polícia Federal em casa de petista – no caso o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner -, a tempo de escolher os melhores ângulos para, quem sabe, produzir boas imagens constrangedoras para o Jornal Nacional.

Soubemos por uma pesquisa da FGV que robôs de internet foram usados intensamente para obter o cancelamento da exposição Queermuseu, em Porto Alegre. De 778 mil tuítes analisados, quase 13% deles vieram de gente que não existe, mas isso já é tão rotin​eiro​ que nenhuma preocupação mereceu.

Vimos um jovem jornalista, convertido em animador de auditórios, ditar cátedra sobre o bom comportamento em estádios de futebol e defender a separação total entre esporte e política – como se a Globo onde ele trabalha praticasse qualquer coisa remotamente parecida com isso.

Soubemos pela agência Reuters, de fonte mantida em off, que o querido líder da Coréia do Norte, Kim Jong-un, teria usado um passaporte brasileiro – o que nem o seu governo nem o nosso confirma, o denunciante não diz como Kim o obteve, e a própria agência diz que não é capaz de discernir se a cópia que viu foi adulterada.

Tivemos uma suposta entrevista coletiva do interventor militar do Rio de Janeiro à imprensa livre e democrática, que concordou em enviar as perguntas antecipadamente e obedecer a regras de comportamento que, na ditadura, fariam os jornalistas abandonar a sala.

Enfim, um carnaval em plena quaresma. E se assim foi – ou é, por que está em curso -, prefiro adentrar a avenida com outras fantasias.

Prefiro me animar com o vertiginoso crescimento de 1% da economia brasileira em 2017, confiante de que os quase 13 milhões de desempregados ficaram tão felizes como eu, até porque logo estarão ocupados, agora que o Facebook também trabalha em seu favor , como agência de emprego.​

Caso essa melhoria fenomenal da economia se limite apenas ao 0,1% do topo da pirâmide, que é quem está gostando do Brasil de 2018, não é caso da patuléia reclamar.

Agora podemos chamar o “Uber humano”, inovação japonesa que logo poderá estar por aqui.

Se a vida estiver insuportável, recomendando que fiquemos em casa, fugindo de tudo, podemos enviar o nosso avatar aos nossos compromissos. Só teremos o trabalho de interromper por instantes aquela série bacana do Netflix.

Isto sim é revolução na mídia, para a boa qualidade de vida em tempos insanos

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