Cultura

No cinema e nas livrarias, o drama dos refugiados


Conflitos e perseguições levaram a mais de sessenta e cinco milhões de pessoas a abandonarem suas casa nos últimos anos. É um número que só dá para comparar com o que aconteceu com o planeta durante a segunda guerra mundial. Dessas pessoas, pelo menos vinte milhões são refugiados, são pessoas que saíram de seus países por conta de conflitos armados, perseguições ou graves violações de direitos humanos, como a gente tem observado na questão da Síria.
Apesar desses números, que são de fato assustadores, só conseguimos dimensionar o tamanho dessa tragédia quando fazemos um exercício de aproximação, quando a gente consegue olhar para além dos números, além de uma aglomeração de pessoas, e consegue observar que cada uma delas tem uma história que ficou pra trás, uma história que está se iniciando, uma história de sonhos e de desejos que acabaram ficando pra trás e começam a ser reconstruídos nessa travessia que tem sido noticiada, às vezes muito mais pela questão numérica do que pela aproximação de exercício de humanização desses números.
Na última semana entrou entrou em cartaz o filme “Exodus – de onde eu vim não existe mais”. Um filme do Hank Levine que acompanha a vida de várias pessoas que tiveram que deixar suas casas, não só pelo conflito na Síria, a gente tem pessoas, como por exemplo, do Sudão do Sul, Saara Ocidental, Myanmar e do Reino de Tonga. Pessoas que, depois desse deslocamento, contam como é a vida delas, por exemplo, uma ativista que sai do Sudão do Sul e luta para permanecer na Alemanha e hoje ela define a situação dela com uma frase “somos criminalizados sem ter cometido crimes”.
Nesse documentário o diretor faz um voo panorâmico para mostrar como o planeta está cheio de campos minados, em alguns casos literalmente como as pessoas que saíram do Saara Ocidental e não podem se deslocar por conta dos muros que o marrocos colocou em direção a elas. E ajuda a gente a compreender a dimensão global da questão dos refugiados.
Nessa semana também o Gabriel Bonis, um jornalista que trabalhou comigo na Carta Capital e hoje faz trabalhos de pesquisa e se especializou em direito internacional, ele veio ao Brasil lançar: “Refugiados de Idomeni” região da Grécia, para quem não conhece, quase na fronteira da Macedônia, em que ele trabalhou durante sete meses na região para acompanhar como funciona um acampamento de refugiados. Ali fazia parte da rota chamada “O caminho dos Bálcãs” pra quem saia das regiões de conflito do oriente médio, do norte da África, entraram pela Europa e tentavam chegar no centro da Europa, principalmente, pela Alemanha.
Diferente do filme que faz essa análise global, ele se aprofundar em uma questão regional para se ter uma dimensão da tragédia que é a questão dos refugiados hoje. Por exemplo, ele vai conversar tanto com os refugiados mas também com as pessoas que fizeram trabalho voluntário no local, ele vai conversar com pessoas daquela vila (o Idomeni) que é uma vila de mais ou menos 150 pessoas, uma área de camponeses e de repente no auge da crise de imigração chegou a ter quatorze mil pessoas tentando um espaço ali, um espaço que na época de chuva era alagado, você tinha a questão logística de alimentação, pessoas com dificuldade de movimentação. A gente começa a entender um pouco mais de como as pessoas que eram sobreviventes, que sobreviveram a uma travessia traumática, e chegando ali eles encontram as portas fechadas. Na fronteira com a Macedônia, a rota do Bálcãs, ela se fecha e as pessoas ficam com a travessia interrompida e começa a existir uma densidade populacional nos lugares onde elas tentavam abrigo.
Um dos ativistas nos ajuda a compreender como também fazemos parte disso tudo. Ele é um Alemão, que passava as férias em caxias do sul, e quando descobre que estavam fechando as portas para essas pessoas ele fala: “poxa mas se eu estou em um lugar onde os meus antepassados conseguiram construir uma história praticamente do nada, que tipo de história não está sendo barrada nessas regiões, na Alemanha ou na Europa. Quem me garante que no meio desses refugiados não estaria o próximo Einstein, quantos talentos não estão deixando de desenvolver o próprio talento porque são tratados como a escória do planeta” – como um pré candidato a presidência do Brasil já declarou a respeito de pessoas em deslocamento, de pessoas em busca de refúgio.
Tanto o livro quanto o filme ajudam a gente a compreender onde a insensatez humana nos leva. É mais que uma questão numérica, são histórias de vida, são dramas humanos que a gente tem destroçado, ajudado a arrebentar, por conta da nossa insensibilidade por conta da nossa insensatez.
“Êxodos – de onde eu vim não existe mais” e “Refugiados do Indomeni”, tanto na literatura quanto no cinema, a gente tem a possibilidade de se aproximar dessas pessoas, emprestar a ela um lado humano que só os números não ajudam a contar.
São essas as minhas duas dicas dessa semana.
Um abraço e até a semana que vem.

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