Brasil

Mais um amigo que se vai. Fernando Pacheco Jordão (1937-2017).

Faleceu nesta quinta-feira (14), em São Paulo, Fernando Pacheco Jordão, 80 anos, um dos jornalistas mais atuantes na luta contra violações de direitos humanos na ditadura civil-militar (1964-1988) no Brasil.
Era amigo próximo de Vladimir Herzog, um dos jornalistas que foi torturado e assassinado pela repressão no Doi-Codi, em São Paulo, em 1975. Os dois se conheceram na BBC, em Londres, e chegaram a dividir um apartamento naquela época.
“Para mim até hoje é muito difícil, as memórias são muito vivas”, declarou Jordão, em uma entrevista em 2012, ao falar sobre o assassinato do amigo. “Trabalhar com Vlado era estimulante. Ele era uma excelente cabeça, um jornalista de primeira linha, éramos muito próximos desde muito tempo”.
Na ocasião, era diretor do Sindicato dos Jornalistas. Junto do então presidente, o jornalista Audálio Dantas, organizou o ato na Catedral da Sé para cobrar da ditadura uma explicação pela morte de Herzog.
Foi um dos elaboradores do dossiê “Em nome da verdade” e do livro “Dossiê Herzog – prisão, tortura e morte no Brasil”, dois dos principais documentos sobre violações cometidas pelo regime militar contra jornalistas entre 64 e 88.
“Perdi um pai. Perdemos uma pessoa que era puro amor com os outros. Caberiam mil palavras aqui para ele. Não tá dando…”, lamentou Ivo Herzog, filho de Vladimir.

Herzog e Pacheco Jordão na BBC (Foto: Instituto Vladimir Herzog)


“Não cabe usar verbos no passado para o Fernando, a quem temos de dizer um adeus pleno de comovida tristeza. Sua inteligência, lealdade, generosidade, resiliência e permanente bom humor inspiram que ele esteja sempre presente. Não queremos, não admitimos que ele se vá”, lamentaram os conselheiros, dirigentes e colaboradores do Instituto Vladimir Herzog por meio de nota.
Era casado com a socióloga Fátima Pacheco Jordão, pai de Rogério, Bia e Júlia e avô de sete netos.
O velório de Jordão está sendo realizado na sede da TV Cultura, na Barra Funda.
Leia abaixo a íntegra da nota do Instituto Vladimir Herzog sobre a trajetória de Fernando na imprensa.
“Fernando Pacheco Jordão começou no jornalismo em 1957, como redator e locutor de rádio-jornal, na antiga Organização Victor Costa em São Paulo, que abrangia as rádios Nacional, Excelsior e Cultura. Passou depois para a Radio Difusora, dos Diários Associados, onde foi secretario dos rádio-jornais e também locutor. Durante dois anos acumulou esse trabalho em rádio com o de copydesk no jornal O Estado de S. Paulo. Mais tarde atuou na TV Excelsior, como editor e apresentador do “Show de Notícias”, um telejornal diário que inovou o jornalismo televisivo e, em 1964, foi contratado pelo Serviço Brasileiro da BBC em Londres, onde se reencontrou profissionalmente com Vladimir Herzog, com quem havia trabalhado em O Estado de São Paulo.
Em seu regresso ao Brasil, em 1968, foi convidado a atuar na TV Cultura, onde criou o jornalismo com o programa “Foco na Noticia”, que posteriormente passou a se chamar “Hora da Noticia”. Também produziu programas didáticos, documentários e até dirigiu um teleteatro que foi premiado num festival interno. Em 1974 foi para a TV Globo, onde editou o Jornal Nacional em São Paulo e a seguir tornou-se diretor do Globo Repórter.
Diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do assassinato de Vladimir Herzog, escreveu o livro “Dossiê Herzog – prisão, tortura e morte no Brasil”, hoje sua sexta edição, que constitui documento fundamental para a história de nosso país.
Fernando Pacheco Jordão trabalhou na TV Globo até 1979. Depois disso ainda foi correspondente da revista IstoÉ em Londres e da Editora Abril em Paris, quando se despediu das redações, atuando a seguir como assessor de imprensa em campanhas eleitorais”.

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