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Reforma política reforça personalismo e não acaba com 'puxador de votos'

*Da Rede Brasil Atual
A proposta de reforma política discutida no Congresso Nacional é um “remendão”, que acirra distorções já presentes, reforça personalismo dos políticos e diminui a importância dos partidos. Essa é a avaliação do pesquisador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) Rafael Castilho, em entrevista ao programa Seu Jornal, da TVT.
Para Rafael Castilho, o voto distrital não vai acabar com a figura do “puxador de voto”. Tem candidato que chama atenção no horário eleitoral e essa espetacularização irá aumentar, porque o candidato vai precisar de voto”, explica.
O pesquisador afirma que os principais prejudicados com a reforma serão os partidos pequenos. Ele alerta que um dos pontos que deveria ser discutido são as coligações. “A reforma política deveria enfrentar a questão da coligação transferir o tempo de televisão. São partidos que não têm afinidade ideológica. Por exemplo, o PSB faz parte do mesmo governo que o PSDB. Se a reforma focasse nisso, já daria uma grande mexida no quadro eleitoral, mas não foi feita”, critica.
O pesquisador também explica os parlamentares aproveitam o clamor popular por mudanças na política para fazer a reforma, que segundo ele, será apenas para interesses próprios, sem espaço para novos representantes populares. “Nesse sistema distrital ganha: aquele que já está estabelecido na política ou quem tem capacidade de comunicação de massa.”
Veja abaixo a entrevista:
Parece justo dizer que os candidatos mais votados serão os eleitos. Mas por que não é?
A sociedade clama há muito tempo por uma reforma política. Muito dos problemas que o Brasil tem passado é pela carência da reforma. Agora, tenta se fazer um remendão. É um Congresso que tem um problema sério, com um governo ilegítimo e instável.
Tenta-se fazer uma reforma a toque de caixa, “passando o trator”, sem discussão com a população, sem envolver a sociedade.
Muita gente defende o voto distrital, mas o distritão aumenta distorções da política brasileira. O Brasil tem um problema de crise de identidade dos partidos políticos, isso vai aumentar, pois eles perderão mais poder. Então, o distritão reforça o personalismo na política e diminui a importância dos partidos.
Quem defende o distritão cita o caso do deputado Tiririca que, sozinho, elegeu mais quatro deputados com poucos votos.
De fato, você tira a figura do puxador de votos, mas, de alguma forma, os partidos ainda podiam eleger seus quadros. Porém, não diminuirá o número de “Tiriricas”, ao contrário, vai aumentar. O absurdo dá voto. O candidato que chama atenção no horário eleitoral, essa espetacularização, irá aumentar, porque o candidato vai precisar de voto.
Fala-se que os partidos perderão o protagonismo. Quais os prejuízos para os partidos pequenos?
Muitos. A reforma política deveria enfrentar a questão da coligação transferir o tempo de televisão. São partidos que não têm afinidade ideológica. Por exemplo, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) faz parte do mesmo governo que o PSDB. Essa barganha política se dá pelo tempo de televisão. Se a reforma focasse (sic) nisso já daria uma grande mexida no quadro eleitoral, mas não foi feita. É uma reforma para eles mesmos, sem interesses pelo país. Estão reforçando o que já está errado.
O distritão vai dificultar a eleição de novas lideranças políticas?
Sim. Podem aparecer novos nomes, mas não serão grandes lideranças populares ou que signifiquem a renovação da política. Nesse sistema distrital ganha aquele que já está estabelecido na política ou quem tem capacidade de comunicação de massa. A tendência é aumentar a bancada evangélica, a da bala, da bola, apresentadores de televisão.
Isso prejudica bastante a representação do trabalho.
Claro. Nós tivemos dois episódios recentes da população para entender qual o nível do Congresso. Na redemocratização tivemos figuras nacionais importantes no Legislativo, com capacidade de integrar os poderes. Agora, nós tivemos aquele show de horror na votação do impeachment e o mesmo na votação do Temer. Ali a população viu o nível dos parlamentares.
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