Brasil

A PM contra os direitos humanos e a mídia contra os fatos


 
O que é notícia, atualmente, para a grande imprensa brasileira? Que fatos devem ser noticiados ou ocultados do conhecimento público?
 
Cerca de cem policiais militares, muitos deles fardados, compareceram na sexta-feira, 11 de agosto, ao campus da Universidade Federal de São Paulo em Santos. Foram participar de uma audiência pública convocada pelo Conselho Estadual da Condição Humana.
 
Em pauta, a discussão do texto para o Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos.
 
A presença incomum de tantos policiais no campus chamou a atenção de professores e estudantes para a audiência pública, que foi pouco divulgada. E eles decidiram participar, com tanto direito a isso quanto os PMs tinham.
 
Mas os policiais não gostaram dessa adesão de última hora da comunidade acadêmica. Tentaram impedí-la, argumentando que alunos e professores não participaram do debate desde o começo.
 
Os acadêmicos insistiram e foram insultados e intimidados pelos policiais. Foram chamados de “vagabundos”, fotografados e filmados.  “Depois morre e não sabe porque”, ouviram dos PMs.
 
Os policiais defendiam “direitos humanos aos humanos direitos”, mudar a nomenclatura Ditadura Militar de 1964 para Revolução, e retirar a discussão de gênero das escolas, entre outras pepitas do ideário ultraconservador.
 
Na votação do texto, graças à pressão dos PMs, foram aprovadas a supressão de qualquer referência a direitos humanos no plano estadual e da obrigação de formar agentes de segurança pública com base nos princípios dos direitos humanos.
 
Não por acaso, parte dos policiais ostentou cartazes pregando “Bolsonaro 2018”. E não por acaso, o deputado militarista, defensor de todas as causas reacionárias do universo, agora está isolado no segundo lugar da corrida presidencial do próximo ano, despontando como o candidato anti-Lula na eleição.
 
Até o momento deste comentário, o ocorrido na UNIFESP não é assunto na grande imprensa. Apenas o portal UOL deu notícia dele, quatro dias depois.
 
Se o ocorrido em Santos não é pauta para uma imprensa que se diz liberal e se entende progressista, fica impossível saber com quais critérios ela opera agora. O avanço do autoritarismo em todo o país, que se expressa claramente no avanço de Bolsonaro, ainda não mereceu nenhum debate na grande mídia, nem, muito menos, a obstrução esperável.
Apenas a blogosfera de esquerda tem denunciado essa ameaça crescente à democracia. Foi ela que noticiou o incidente de Santos.
 
Atacar Trump, o reaça americano, no conforto da distância, é muito fácil e talvez acalme a consciência da grande imprensa. Difícil é conter os impulsos fascistóides de milhões de brasileiros, que foram despertados justamente pelo seu jornalismo de campanha,  anti-PT e antiesquerda em geral.
 
A imprensa dita liberal criou o monstro reacionário. Será engolida como foi no passado, se continuar fingindo que ele não existe.

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