*Por Víctor David López
A escravidão do século XXI não é, na maioria dos casos, como a escravidão no colonialismo. A escravidão atual tem jornadas laborais de quinze horas por dia, salários ínfimos e às vezes retidos, discriminação e proibição de organização e negociação coletiva, trabalho infantil, falta de segurança no trabalho, ameaça e máfia na terceirização.
Responsabilidade de quem? Primeiramente, da empresa onde a pessoa trabalha. Mas, nessas empresas, não estão os únicos responsáveis. Os governos, com as leis de terceirização e a falta de controle federal sobre a empresa terceirizada, e a falta de exigências sobre a companhia que contrata, também é responsável.
Essas grandes companhias, principais responsáveis pela sua falta de humanidade, não recebem as denúncias de trabalho escravo no país de origem (a Espanha, por exemplo). Elas têm os escândalos lá, onde é mais barato fabricar o produto.
Em 2013, mais de mil trabalhadores em condições análogas à escravidão morreram no colapso de um armazém da capital de Bangladesh que tinha cinco oficinas da Primark, da Mango ou da Benetton entre outras marcas. Marcas como o Inditex (grupo proprietário da Zara), a Tommy Hilfiger, a Timberland, a H&M ou a C&A também protagonizaram escândalos na Índia.
O exemplo das denúncias da Zara no Brasil é perfeito para mostrar a responsabilidade da mídia também. A Zara reconheceu a falta de controle, pagou uma multa, e depois foi obrigada a pagar uma outra multa porque as promessas de auditorias internas e de aumento de controle não foram cumpridas. Ao contrário, a Zara utilizou as auditorias internas para continuar discriminando e fechar oficinas com imigrantes, criminalizando sem estudar a problemática.
Nesse caso, a maior parte da mídia espanhola justificou os problemas da Zara no Brasil falando da terceirização. A agência espanhola de notícias EFE mudou a nota de imprensa, de maneira suspeita, horas depois da publicação original.
Então, a maioria dos jornais espanhóis mentiu quando conheciam a verdade: parecia que a Zara e o governo brasileiro tinham negociado para a companhia se transformar na salvadora dos direitos humanos dos trabalhadores brasileiros fazendo uma doação contra à escravidão no trabalho.
Agora que a gente sabe a verdade e conhecemos as estratégias das empresas, poderíamos dizer que existe uma responsabilidade dividida? Será que a população não tem uma opção de consumo melhor do que participar dessa horrível maquinaria? Tem sim, existe o comércio justo, humano e solidário. Se falamos de necessidade de uma justiça mais severa, de julgamentos, também precisamos de ações sociais, boicote contra às empresas envolvidas nesses escândalos. Porque está demonstrado, o exemplo da Zara não é o único, que não dá para confiar nas auditorias internas das companhias. Eles conhecem fórmulas para continuar escravizando. E o povo não pode ser testemunha passiva.
