Lula: os golpistas estão destruindo uma Nação.

 
Paulo Pimenta: Prezados companheiros e companheiras, estimados amigos e amigas de todo o Brasil, temos a alegria de receber um convidado especial aqui na nossa página hoje. Essa página aqui presidente, é uma página da resistência democrática, de combate ao golpe, de defesa do senhor. Todos os dias nós damos um pau nos golpistas aqui, presidente. Não deixamos passar barato as atrocidades do Moro, dos Golden Boys. Senhor sabe que eu inventei um verbo: “dallagnar”.
 
Lula: Olha, a primeira coisa é dar os parabéns ao companheiro Pimenta pela dedicação, pela desenvoltura com que ele trabalha a questão da internet. Eu penso que em algum momento você tem que fazer um cursinho para ensinar todos os deputados do PT, todos os vereadores do PT, todas as pessoas que têm uma representação pública, poder aprender a utilizar esse instrumento, não para ficar vendo bobagem o dia inteiro, mas para ficar tentando passar informações corretas, informações sérias que a gente não consegue ver nos meios de comunicação.
 
Paulo Pimenta: Pessoal precisa, presidente. Pessoal sente falta de receber argumento para se contrapor.
 
Lula: Eu penso que como o Brasil vive um instante de muita mentira, muitas inverdades, muitas delações, eu acho, eu penso, sem ninguém confirmar coisa nenhuma, eu quero, inclusive, te agradecer, porque no meu caso, eu já provei a minha inocência de cada uma das acusações que eles fizeram a mim. continuo desafiando eles a provarem algo. Que tragam algo por escrito, que tragam algo que possa fazer valer o massacre que eles, da forma mais irresponsável possível, fizeram contra mim. Porque quando eu critico a força tarefa da Lava Jato eu separo do Ministério Público, porque eu continuo defendendo o Ministério Público como uma instituição séria, necessária e pelo fato dela ser séria e necessária e ser muito importante e ter muito poder, as pessoas que compõem o Ministério Público têm que aprender a respeitar a instituição, não permitir que o ego, a vaidade, a pirotecnia ocupe o lugar da seriedade e da responsabilidade. Essa é minha queixa. Eu disse para o Moro que a gente pode ter um processo sério de apurar corrupção sem quebrar a economia brasileira e utilizando a inteligência, ao invés de subordinar o poder judiciário à imprensa. Ao invés de subordinar as acusações à imprensa. Porque, na verdade, eles não estão procurando a verdade, eles estão procurando manchetes de jornais. Porque na manchete que eles imaginam que eles podem condenar as pessoas, sobretudo aqueles covardes que têm o rabo preso. Como eu não tenho o rabo preso e já provei minha inocência, eu resolvi enfrentar essa situação de cabeça erguida para garantir o estado democrático de direito desse país. Então quero te agradecer pelo trabalho que você tem feito, porque eu acho que você está fazendo escola. É uma coisa extremamente importante. Ao invés da gente ficar reclamando do espaço que eles não dão pra gente, vamos criar o nosso espaço. Então, é isso, por isso, os meus parabéns.
Outra coisa, querido Pimenta, é que eu, nesse momento em que a gente está vivendo, eu vejo a cada vez que sai a ideia de que o Temer vai cair amanhã ou vai cair depois de amanhã, eu vejo muita gente feliz. Eu só queria lembrar o seguinte: nós do PT, somos o partido que mais quer afastar o Temer da Presidência porque ele está lá ilegalmente. Agora, é importante que a gente consiga dizer pra sociedade que a razão pela qual nós queremos tirar o Temer é porque nós queremos eleições diretas para presidente. Nós não queremos votar a reforma trabalhista, a reforma da previdência, é porque nós não concordamos com a emenda que limitou os gastos nesse país. Porque eles chamam de gastos aquilo que nós tratávamos como investimento, que era educação, saúde e tecnologia. Então, importante a gente ter consciência que a razão pela qual nós queremos tirar o Temer e fazer eleição direta é uma, a razão pela qual a Globo quer tirar o Temer é outra. É preciso a gente especificar que nesse instante histórico da política brasileira, a análise que eu faço, a compreensão que eu tenho é que eles estão ansiosos para procurar um candidato para 2018. Ou seja, qual é a lógica? A lógica é que se o Temer continua ele vai chegar em 2018 moribundo. Porque quem tem 3% não tem nada, é a margem de erro. Então, eu não sei onde vai alguém que tem 3%, alguém que não tenha credibilidade na sociedade. Então o que eles estão tentando fazer é criar condições de aparecer alguém que eles possam garantir que possa ser candidato em 2018. Eu acho que, eu não sei se o povo aguentará essa situação até 2018, porque o desemprego é muito grande, as pessoas voltaram a pedir esmola no semáforo, as crianças estão voltando a pedir esmola. Eu não sei se as pessoas estão se dando conta que está aumentando o número de gente dormindo nas ruas, sabe? E graças às políticas de inclusão social que foram feitas no nosso tempo a gente não tem coisa mais violenta nesse país. Eu que sou de uma região como o Nordeste brasileiro que faz seis anos que tem seca, em outra ocasiões o povo estava saqueando supermercado. Você não vê isso hoje, nós garantimos um milhão e quatrocentas mil cisternas, garantimos aposentadoria, bolsa família, muito crédito do Pronaf, então as pessoas estão sobrevivendo e eles querem acabar com isso. Eu tenho a impressão quem apresentou a proposta de reforma da Previdência não tem a menor noção de quem sustenta as pequenas e médias cidades desse país. Não é o emprego rural: é a aposentadoria rural, a aposentadoria das LOAS que sustenta essas pessoas. Às vezes o aposentado é um cara que cuida da filha, que é mãe, que tem três, quatro filhos, e esse cara é que sustenta com o salário mínimo. E eles querem acabar com isso. É preciso que nós nos insurjamos contra isso porque o que está em jogo hoje é uma coisa chamada soberania nacional. Estão destruindo aquilo que tentamos construir, que é uma nação. Uma nação toma conta de suas fronteiras, toma conta de seu território, toma conta de sua floresta, da sua água, petróleo, tem bancos públicos, coisa que eles querem destruir. Estão num processo de desmonte do Estado brasileiro.
Paulo Pimenta: Eu vi um vídeo do senhor no g20. O Temer não queria ir na reunião.
Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Eu sempre disse, desde o tempo do movimento sindical. Ninguém respeita… O que acontecia com o Brasil? O Brasil viva com um bando de autoridades com complexo de vira-lata. Tudo que é bom é de fora, os americanos e os europeus são os melhores do mundo, não posso fazer nada porque os americanos e europeus não deixam. Como se nós não tivéssemos direitos, poder de decisão, o comportamento de uma nação livre, que conquistou sua independência quase 200 anos atrás. Eu fazia questão de dizer: não sou melhor do que ninguém, mas também não sou pior do que ninguém. Eu quero ser respeitado como eu respeito os outros. Isso acabou porque o Brasil voltou ao complexo de vira-lata, voltou à subserviência. Então você pega o chefe de gabinete do presidente da República, do gabinete institucional, se reunindo com um cara da CIA, sem necessidade. Você vê o desmonte que eles estão fazendo da indústria naval brasileira, o desmonte da lei da partilha da Petrobras, entregaram nosso território vendendo terra nossa aos estrangeiros, minando a ideia de construir um submarino de propulsão nuclear porque isso daria autonomia ao Brasil, que tem uma costa marítima não só interna, mas nossa fronteira com a África… tem só um riozinho chamado Oceano Atlântico, mas você vai de Cabo Verde até África do Sul. O Brasil é o país mais próximo, o que pode ter mais relações. O Brasil não pode pagar a dívida com o mundo africano com dinheiro, tem que pagar com transferência de tecnologia, investimentos em educação, compartilhando as coisas que o Brasil pode ajudar. E tudo isso a gente vai abrindo mão, em nome de um desenvolvimento. É muito engraçado. Para fortalecer uma coisa chamada Estado Nacional, os EUA para os americanos, a Alemanha para os alemães, o Brasil está tomado de uma decisão vergonhosa, quer vender tudo que nós temos. Parece que já vendeu a alma de quem governa esse país, já vendeu alma de alguns empresários, querem vender a alma da Petrobras, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ou seja das coisas públicas que temos no nosso país, acabar com a ideia de que podemos ser uma grande nação. Acabar com a ideia de que podemos ter uma política industrial, de desenvolvimento, que o Brasil pode voltar a ser o país mais otimista do mundo. Eu vivi esse momento, em que a gente sonhava que o Brasil seria a quinta maior economia do mundo, chegamos perto em 2008. Lamentavelmente, depois as coisas desandaram. Mas acho que está tudo por ser reconstruído. E quero que você saiba que o povo brasileiro está acordando. Tudo aquilo que contaram de mentira contra o PT, o povo está descobrindo. Que com todos os defeitos que o PT tem, é melhor do que todos os outros juntos, é isso que eles não suportam. Imagina como a Globo se comporta: depois de triturar o PT 10 anos seguidos, massacrar desde 2005, faz uma pesquisa para saber qual o partido de preferência nacional e o PT sozinho tem mais que todos os outros partidos juntos. Isso deve ser uma coisa muito triste para eles. A gente tem que fazer as coisas sem rancor, sem raiva, ter um discurso maneiro, tranquilo. As coisas vão andando. Eu acredito que Deus escreve certo por linhas tortas. A verdade vai aparecer. Eu acho que hoje, por exemplo, no caso da Operação Lava Jato, os procuradores que estão lá estão com mais problema do que eu. Porque eu já provei minha inocência e eu quero saber como que eles vão provar as mentiras que foram contadas a meu respeito no processo. Nos autos do processo, os nossos advogados…
Paulo Pimenta: Aquelas alegações finais do MPF, o doutor Cristiano já desmontou aquilo.
Lula: Por isso que eles inventaram o powerpoint e a tese. Eu penso que combater a corrupção é necessário, mas sem destruir o emprego nesse país, a engenharia nacional, a Petrobras, a indústria naval, o setor produtivo brasileiro, usando a inteligência ao invés de usar a imprensa. Agora, qual é o problema? É que quando você mente uma vez, duas vezes, três vezes, você é obrigado a mentir a vida inteira para poder justificar a primeira mentira. O meu papel é provar minha inocência. O papel deles é pedir desculpas para mim. Se Deus quiser, um dia eles vão pedir desculpas. Não sei daqui quanto tempo. Vou fazer 72 anos em outubro, pretendo viver até uns 120 anos, porque dizem que o homem que vai viver até os 120 já nasceu, então por que não eu?