Brasil

O balcão de negócios da mídia com a política está sempre aberto


Por Gabriel Priolli
 
Um dia desses, uma parlamentar de um estado menor da federação comentava comigo como funciona a mídia por lá.
O principal cacique da política local, que é também um parlamentar federal e adversário dela, é dono de dois canais de televisão, afiliados às redes Record e Bandeirantes.
Ele também possui ou controla as principais rádios do estado, todas as de maior audiência. Tem um jornal diário e financia inúmeros blogs.
Além disso, a afiliada local do SBT é de um grande aliado seu.
Isto significa que, em todos esses veículos, jamais são veiculadas notícias negativas para esse político dono da mídia, embora ele as produza às dúzias na mídia nacional.
O que os veículos publicam são denúncias quase diárias contra os adversários do chefão.
De neutra, nesse estado, há apenas a afiliada da Globo, que não tem alinhamento com nenhum grupo político.
Mas basta  o governo estadual ou a prefeitura da capital atrasarem um dia os pagamentos de publicidade, que os telejornais dessa emissora começam a jorrar críticas e denúncias de todo tipo contra eles.
Quase todos os cidadãos desse canto do Brasil, mesmo os mais desatentos, sabem que as coisas funcionam assim por lá. E consideram tudo muito normal, como se tudo fizesse parte da paisagem natural.
Esta é a realidade da mídia no país. O que vale para esse estado vale para todos os outros, inclusive os grandes, ainda que existam diversas exceções.
Quando a mídia não é controlada diretamente pelo poder político, para usá-la a seu bel prazer, é ela quem tenta controlá-lo, usando para isso o seu poder de moldar a opinião pública.
O noticiário, de um lado, e a destinação das verbas públicas de publicidade, de outro, são as moedas de troca nessa negociação permanente da mídia com a política.
Foi exatamente por conta dela que, no ano passado, Michel Temer cortou as verbas de publicidade da mídia de oposição e aumentou as dos veículos que davam apoio ao seu governo, como comentei aqui no Nocaute.
Agora se revela que a Record, o SBT e a Rede TV negociaram apoio editorial ao Governo Temer, em troca de providências do governo contra as operadoras de TV por assinatura, com quem elas travam uma disputa comercial.
A notícia é de Daniel Castro, editor do site Notícias da TV,  jornalista de credibilidade reconhecida. Sintomaticamente, ela não foi repercutida em nenhum grande jornal, TV ou rádio.
Outra revelação do momento é a do cartunista Osmani Simanca, ao publicar nota de esclarecimento sobre a sua demissão do jornal baiano A Tarde.
Ele conta que foi defenestrado da empresa porque contrariava interesses poderosos com as charges políticas que fazia. “Fui advertido para não mexer em determinados temas e personagens”, diz ele.
A imprensa corporativa brasileira gosta de afirmar que não tem o rabo preso com ninguém e uma boa parte do público gosta de acreditar nisso.
É esse jogo dos contentes que mantém sempre aberto o balcão de negócios.

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