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Trump é capaz de promover a paz entre Israel e Palestina?

Imagens Coil Lopes:
 
Ora, vejam só. Em uma semana em que o noticiário nacional ganhou uma densidade e uma imprevisibilidade tão grande, mesmo algumas questões internacionais têm a sua importância, a sua relevância.
Por exemplo, o que está ocorrendo na Europa depois da eleição de Emmanuel Macron para presidente da França, eu decidi conversar hoje sobre uma coisa que pode não parecer tão importante. Mas, que, no fundo, é muito importante. Porque, de certa maneira, aponta para um dos grandes focos de tensão mundial. Uma das grandes ameaças à paz.
Estou me referindo à viagem do presidente Trump ao Oriente Médio. Ele esteve na Arábia Saudita, em Israel. Em Israel, deu um salto na Palestina para conversar com os dirigentes da Autoridade Palestina.
E tudo isso encheu o noticiário de especulações sobre qual é o papel que os Estados Unidos poderão ter no desfecho desta questão que se arrasta há décadas.
E que é, sem dúvida nenhuma, um dos primeiros e mais importantes focos de instabilidade e de tensão no mundo. A questão entre Israel e Palestina. O Trump emitiu uma série de sinais confusos, como foi desde sua campanha eleitoral. E ambíguos.
Se, por um lado, as suas posições apareciam com uma certa mudança na inserção internacional dos Estados Unidos (inclusive em alguns momentos parecendo que ele iria recuar para uma posição isolacionista, como foi tradição em alguns momentos na vida daquele país), por outro, ele também compartilhava também algumas posições clássicas do velho imperialismo norte-americano.
Trump vai se defrontar com Israel em uma situação difícil. A própria autoridade do ministro Netanyahu já não é tão forte como foi no passado.
Netanyahu e uma maioria ultraconservadora que governa o país reagem às possibilidades de um acordo com Israel que fosse centrado na existência de dois Estados e no partilhamento efetivo daquela região, com dois Estados independentes, pacíficos. E evidentemente com amplas garantias de coexistência.
O próprio Trump, em determinado momento, ele disse que não sabia se ia manter a tese dos dois Estados, não era tão dogmático, depois voltou atrás.
De qualquer maneira, o problema com o qual ele vai se defrontar, basicamente, é que, para encontrar uma solução de paz lá, em primeiro lugar, ele vai ter que deter a expansão das colônias israelenses nos territórios palestinos ocupados, que têm um efeito devastador.
Eles estão introduzindo um cenário de quase Apartheid naquela região. E ele vai ter também que enfrentar um novo problema. O problema de Jerusalém.
Jerusalém é aspirada, defendida por todas as partes do conflito como uma capital da Palestina e como uma cidade que possa ser aberta ao mundo.
Essa tese é insustentável aos ouvidos de Israel. E às reflexões e aos pensamentos de Israel.
Basicamente, então, nós temos que ver até que o ponto a persuasão do Trump na condição de grande chefe de uma potência com o peso que os EUA têm, a maior potência mundial. A persuasão deles sobre os israelenses vai ser suficiente para que essa questão possa avançar.
Para aqueles que têm esperança de que esses problemas possam ser resolvidos – e a esperança é sempre bom manter nas questões de política internacional – é fundamental pensar que grandes inflexões progressistas, mudanças efetivas da política externa americana foram feitas sob governos Republicanos.
E não sob governos Democratas, que são muitas vezes vistos como mais “liberals”, à esquerda, para usar o linguajar da política.
Lembrem-se de que foi Nixon, um homem extremamente conservador, que abriu efetivamente as possibilidades de que houvesse essa conciliação entre Estados Unidos e China.
A pergunta que fica é saber se será um conservador, um homem errático, imprevisível como Trump, confrontado inclusive com problemas internos graves, que muitos até associam aos problemas que o presidente Temer enfrenta no Brasil (talvez com não tanta intensidade), se ele terá a capacidade efetivamente de oferecer uma cobertura para uma solução de paz.
Por que essa solução de paz é importante?
Eu diria que, em grande medida, se este problema tivesse sido resolvido, isto é, a criação de dois Estados, em base as fronteiras de 1967, fim das colônias que foram se estabelecendo, Jerusalém como uma cidade aberta, se tudo isso tivesse existido, é muito provável que uma série de subprodutos violentos, erráticos, que ocorreram nas últimas décadas, não teriam sido produzidos.
Eu não tenho a menor dúvida de que, neste confronto de pequenos países, está embutido um perigo, mas ao mesmo tempo uma enorme oportunidade para que a paz mundial possa se materializar. O último resquício da Guerra Fria que deveria ser, de uma vez por todas, eliminado.

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