Brasil

Para os valores da imprensa, não há déficit fiscal


 
Por Gabriel Priolli
 
A grande imprensa corporativa brasileira tem valores muito sólidos, mas um problema incontornável é que eles são absolutamente mutantes.
 
As convicções firmíssimas de hoje podem ser opostas amanhã, mas serão sempre igualmente firmes e inabaláveis.
 
Veja-se o exemplo da publicidade oficial.
 
Quando Lula e Dilma estenderam os anúncios do governo à imprensa regional e à alternativa, observando critérios estritos de circulação dos veículos, a grande mídia fez um escarcéu.
 
Disse que os presidentes estavam comprando apoio de “blogs sujos”, que isso era uma imoralidade.
 
Há poucos dias, entretanto, o venerando Estadão noticiou que o Governo Temer pede apoio da mídia, em especial do rádio e da televisão, para o seu projeto de reforma da Previdência.
 
“Os veículos de comunicação que aderirem à campanha terão direito à publicidade federal”, disse o jornal.
 
“Com esse roteiro, o Planalto mostra que, além da concessão de cargos e emendas parlamentares, a propaganda também virou moeda de troca em busca da aprovação da reforma no Congresso”, acrescentou o Estadão.
 
Segundo ele, “os responsáveis pela indicação da mídia que receberá a verba publicitária são justamente deputados e senadores”.
 
Editoriais indignados? Comentários candentes de articulistas? Uma mísera matéria ouvindo o governo e continuando o assunto?
 
Nem no Estadão, nem em qualquer outro jornalão, revista ou “blog limpo” do mesmo campo ideológico.
 
Apenas a informação adicional de que Temer procurou pessoalmente Silvio Santos para encomendar a opinião do SBT, e a rede já está entregando.
 
Diante desses fatos, uma única conclusão é possível.
 
Quando a grande imprensa corporativa esfregar na nossa cara o seu inarredável compromisso com os mais altos valores jornalísticos, vamos entender bem do que se trata.
 
São valores a serem creditados em caixa, não a serem acreditados pelo distinto público.
 
Porque os valores mesmo, os que contam não em dinheiro, esses não valem coisa alguma, se podem mudar tão fácil com o vento da política e dos interesses.

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