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A quem interessa o desmonte da Cultura


 
 
A Cultura no Brasil e no Estado de São Paulo está sendo desmontada. A quem interessa? Primeiro acho que a gente tem que delimitar aqui o que eu estou chamando de Cultura. Quando eu falo de Cultura eu estou falando de arte e não cultura que é a vida cotidiana, os nosso modo de vida. Mesmo porque um modo de vida que não inclui a arte e que não inclui as expressões artísticas é um modo de vida que não vale a pena ser vivido. Um modo de vida pobre, um modo de vida sem reflexão, sem a sensibilidade, sem a arte, né? Um modo de vida sem arte é um modo de vida sem arte com tudo que isso acarreta.
 
A quem interessa isso? Outra coisa que a gente tem que delimitar que quando eu falo de arte e cultura nesse sentido eu não estou falando de cultura erudita. Eu estou abarcando também a cultura popular. Porque os pontos de cultura popular, pontos de resistência de cultura de matriz africana, pontos de resistência de cultura popular como o maracatu, como o jongo. Essas tradições populares também sobrevivem de pontos de cultura e também sobrevivem de grupos que são vinculados a um pensamento artístico e cultural.
 
A quem interessa esse desmonte? Interessa a quem quer que você fique na frente da televisão ouvindo esse monte de pós verdade. Interessa a quem quer que você consuma apenas cultura de massa e cultura de massa não é arte. Cultura de massa é entretenimento. Entretenimento não traz reflexão, cultura de massa massifica. Não te parece óbvio que cultura de massa massifica o pensamento. Ela não permite a reflexão individual. E é em cima dessa cultura de massa que muitas vezes é propagadora de pensamentos preconceituosos e propagadora do senso comum do mais baixo nível que eles estão desmontando a cultura com um discurso de que artista é tudo vagabundo porque fica cantando. Ai grafite é sujeira.
 
Tudo isso é em cima de um sendo comum que não tem dialética, não inclui sociedade, não inclui uma decisão democrática, que não inclui uma reflexão sobre a nossa cidade, sobre como a gente está vivendo. Como a gente está fazendo as políticas no país porque política é relacionamento. Como a gente está se relacionando. E a quem interessa isso. Interessa a essas pessoas que querem continuar no poder. Porque arte traz aglomeração, traz reflexão, tira você da frente da televisão. Tira você da atitude passiva da vida. Mexe, transforma.
 
E a quem interessa um povo que não se transforma? Eles estão desmontando a cultura em São Paulo, e a cultura em São Paulo não equivale nem a 1% do orçamento da cidade. E ela está com 43% do seu orçamento congelado. Tem projetos parados. Projetos de educação e iniciação artística que estão sendo desmontados. Estão parados. Existem há quinze anos, atravessaram diversos governos, que têm uma construção. O que pra cidade não é nem 1%, para as pessoas que estão envolvidas tanto os trabalhadores da arte quanto os jovens, muitas vezes em situação de risco, quanto as pessoas que só estão tendo contato com arte, algum tipo de contato com o sensível por esses programas, para eles é 100%.
 
O que a cidade está ganhando com isso? A cidade não está ganhando nada. O que a gente está tendo é um sucateamento da inteligência com o desmonte da Cultura. Isso precisa parar agora! As pessoas precisam ficar sabendo disso.

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  1. Avatar

    Oi Ana, excelente esse vídeo!
    Gostaria de sugerir a você e a Tati: o que vocês acham da ideia de marcar os vídeos das quintas-feiras com esse viés de denúncia a respeito do atual momento “fascistóide” que estamos vivendo? Na minha opinião, eu acho que seria muitíssimo importante, porque diante da produção do discurso único na grande mídia – que é próprio da ditadura – as pessoas, na melhor das hipóteses, estão contando com a mídia alternativa para se informar, para trocar ideias, enfim, para se agrupar com outras pessoas que ainda pensam, que não foram massificadas, cooptadas. Neste momento, sobretudo, os blogueiros, os jornalistas independentes, os vídeos “O Mundo Segundo Ana Roxo” são de fundamental importância no sentido de promover espaços, ainda que virtuais, para possibilitar o agrupamento de pessoas e a construção do diálogo, da dialética, do pensamento vivo. Deixo aqui, minha sugestão e meus cumprimentos, mais uma vez, pelo belo trabalho que vocês estão fazendo.

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