Brasil

Pela terceirização geral da mídia


 
Neste momento auspicioso da vida nacional, em que 85 anos de proteção ao trabalhador são encerrados na aprovação de uma moderna e vibrante lei de terceirização da mão de obra, todos nós devemos refletir.
 
Cientistas dedicados à economia de mercado, políticos do mais grosso calibre moral, totens do verdadeiro jornalismo, todos eles são unânimes em afirmar que a  nova lei fará jorrar o leite dos bons empregos e o mel dos grandes salários, para milhões de brasileiros.
 
A começar dos 12 milhões de felizes desempregados, agora revigorados por uma excelente perspectiva de futuro, porque estão livres das amarras celetistas, para negociar os melhores contratos que o mundo do trabalho pode oferecer.
 
Se a terceirização é tão boa, se fará tanto bem para este país sofrido, devemos parar com o mimimi lulopetralhista comunobolivariano, e adotá-la onde mais for possível. Na mídia, por exemplo.
 
Terceirizemos, para começar, a regulação da atividade jornalística, e mesmo a definição do que é jornalista.
 
Quem deve cuidar desse assunto técnico são os sábios juristas, insuperáveis no mister, desde que o STF esclareceu que qualquer um pode ser jornalista e o juiz Sergio Moro teve o cuidado de excluir os insidiosos blogueiros sujos desses quaisquer.
 
Terceirizemos o jornalismo investigativo, porque um país que vai pra frente não precisa de repórter algum, quando têm juízes, promotores e delegados encarregando-se de vazar quem é ou não é corrupto, e de produzir as principais manchetes, como ocorre há abençoados três anos, para grande júbilo da Nação.
 
Terceirizemos o jornalismo político e o econômico às assessorias de imprensa e agências de relações públicas, para alívio financeiro dos veículos, porque ao fim e ao cabo, ou desde o o princípio, tudo vai dar no mesmo e o que valerá para a opinião pública midiotizada serão os seus próprios recalques e preconceitos.
 
Mas talvez o melhor mesmo seja terceirizar de vez o nosso provimento de informações.
 
Deixemos que a grande mídia corporativa se atenha às suas graves preocupações, sempre distantes das nossas, e contratemos assinaturas dos veículos da mídia independente, progressista, para fortalecê-los na tarefa de nos ajudar a enxergar melhor o mundo, com olhos de cidadãos e não otários, patos manipulados.
 
Terceirizemos, por fim, a quem possa resgatá-lo com rapidez e baixo custo, o respeito que outrora tivemos pelas instituições nacionais, a imprensa entre elas, porque tornou-se um fardo insuportável confiar em qualquer uma.
 
Um país que podia ser de primeira grandeza já não passa de uma republiqueta de segunda. Vamos agir antes que ele se consolide como uma colônia de terceira.

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