Brasil

Quem cria corvos compartilha a carniça.


 
Na penúltima vez em que a imprensa brasileira incentivou e sustentou uma aventura golpista, ela levou muitos anos para se arrepender e voltar ao campo democrático.
 
Só se arrependeu, na verdade, porque a tão incensada “revolução redentora” de 1964 exorbitou na missão que lhe deram, e se pôs a redimir o Brasil com censura, o que atrapalhou os negócios de jornais, revistas, rádios e televisões.
 
O golpe de 2016 deixou muito clara a hipocrisia do mea culpa que alguns veículos fizeram sobre 1964. Pediram perdão apenas para pecar de novo.
 
Por isso mesmo, é ocioso gastar energia criticando os desatinos atuais da imprensa.
 
Isso tem milhares de pessoas fazendo, o tempo todo, nas redes sociais, mas serve apenas para desabafo, porque a imprensa não vai mudar.
 
Ela é sócia do golpe e ainda não pulou desse barco, embora possa jogar alguns tripulantes ao mar e até mesmo o timoneiro, se outro lhe parecer melhor para domar o vento.
 
Dentro de algum tempo, que pode levar anos, veremos novamente a imprensa se apresentar como paladina da democracia, inimiga do autoritarismo e intransigente defensora da lei. Uma multidão de ingênuos vai aplaudir e lhe dar audiência.
 
Por enquanto, essa brava mídia coonesta um simulacro de democracia, tolera autoritarismos de toda ordem e defende a Operação Lava-Jato, que descumpre a lei em nome da lei e pouco tem a ver com justiça.
 
Quando voltar à democracia, entretanto, a imprensa brasileira talvez não encontre mais a benevolência que teve no retorno anterior.
 
Mesmo os reacionários que ela inspirou e atiçou para fora do toca, para rosnar nas micaretas amarelistas e nos perfis de extrema-direita, já conhecem o apito e sabem como ela toca.
 
Se ficarem apenas na crítica, como faz a esquerda, já estará ótimo para a grande mídia. Porque ela mesma noticia que, em outras latitudes, a sua batata está assando em fogo alto.
 
“Suecos de extrema-direita gravam conversas para constranger jornalistas”, informa a BBC Brasil, reproduzida pela Folha de S.Paulo.
 
Eles estão produzindo pegadinhas com repórteres e comentaristas, para impor na marra a pós-verdade e melhor instilar a peçonha fascista.
 
Já sabemos que, na guerra, a primeira vítima é a verdade. No jornalismo de guerra, a última vítima talvez seja a própria imprensa.

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