Brasil

A miséria informativa compromete a democracia.


 
Informação correta sobre as coisas e reflexão sobre o que é informado são condições necessárias para o exercício da cidadania, que pressupõe a consciência crítica dos cidadãos, ou seja, a sua capacidade de entender o que se passa e de formar opiniões fundamentadas.
 
Isso em teoria, é claro, porque não é bem assim que funciona aqui no país tropical.
 
Aqui a informação é aviltada de múltiplas formas, tem a densidade do isopor e produz mais submissão do que reflexão.
 
O Brasil lê muito pouco e muito mal. A pesquisa Retrato do Livro no Brasil anotou em 2016 um crescimento de 6% no número de leitores, desde 2011, pelo aumento da escolarização. Mas metade da população ainda ignora o que seja um livro.
 
O índice de leitura per capita é inferior a 5 livros por ano, sendo que a Bíblia é, de longe, o título mais procurado. O restante é auto-ajuda, material didático ou sub-literatura.
 
O mercado editorial como um todo, incluindo também a indústria jornalística, está em queda acentuada. Recuou 16,1% em 2016, na comparação com 2015, segundo o IBGE.  A circulação média dos 5 principais jornais caiu 6%.
 
O consumo de vídeos vai substituindo a leitura, o que é perfeitamente visível nas redes sociais. No Facebook, qualquer escrito com mais de 3 parágrafos já é considerado “textão” e requer advertência prévia ao internauta, para não assustá-lo.
 
Para complicar, a velocidade de consumo da informação audiovisual está aumentando, em nível mundial. As pessoas já não têm paciência em acompanhar vídeos ou áudios na velocidade normal.
 
Segundo o pesquisador digital Ronaldo Lemos, aplicativos como o Overcast ou o Rightspeed já respondem a esse novo comportamento dos consumidores, acelerando a velocidade de transmissão de áudio e vídeo.
 
Boa parte desses usuários são estudantes, assistindo audiovisual educativo rapidinho, para se livrar logo do dever acadêmico.
 
Não é preciso ter mais do que o Tico e o Teco na cabeça, mal falando entre si, para entender que a superficialidade das informações e o seu consumo acelerado, desatento, não fomentam exatamente a reflexão.
 
Ao contrário, eles comprometem a consciência crítica e a compreensão da cidadania como direito social e como dever.
 
Produzem uma esfera pública com nível de debate grosseiro, rudimentar, e um exercício de voto inconsequente, em que as escolhas são feitas pela cara do candidato, não pelo conhecimento e a reflexão sobre as suas ideias.
 
Para o arremedo de democracia e o sistema de dominação do reacionarismo reinante, isso está de bom tamanho. Bom cidadão é o obediente, não o consciente.
 
Mas o Brasil quer superar esta era de trevas e, para isso, não tem atalho.
 
Sem informação de qualidade, reflexão e debate, não haverá luz no fim do túnel.

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  1. Avatar
    PEDRO SANCHES says:

    EXCELENTE COMENTÁRIO É ESTA QUESTÃO DA INFORMAÇÃO SÉRIA É IMPORTANTÍSSIMA PARA REALMENTE PODERMOS REFLETIR E AGREGAR VALORES A NOSSAS INTELIGENCIAS E NÃO NOS DEIXARMOS ENGANAR POR ESTA MISERÁVEIS MÍDIAS MONOPOLIZADAS QUE TEMOS AQUI NO BRASIL ONDE PARTIDOS POLÍTICOS DE DIREITAS COM ELAS FAZEM UMA SIMBIOSE DE CARICATAS INFORMAÇÕES NOS JOGANDO NA LAMA, NO CASO NOSSA DEMOCRACIA E NOSSA SOBERANIA NACIONAL.
    Não é preciso ter mais do que o Tico e o Teco na cabeça, mal falando entre si, para entender que a superficialidade das informações e o seu consumo acelerado, desatento, não fomentam exatamente a reflexão.
    Ao contrário, eles comprometem a consciência crítica e a compreensão da cidadania como direito social e como dever.
    Produzem uma esfera pública com nível de debate grosseiro, rudimentar, e um exercício de voto inconsequente, em que as escolhas são feitas pela cara do candidato, não pelo conhecimento e a reflexão sobre as suas ideias.

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