Brasil

Opiniões voláteis num Brasil sem rumo.


 
Um problema sério que a mutação ambiental da mídia produz, e que se agrava cada vez mais, é volatilidade da opinião pública e o impacto desse fenômeno sobre o jogo democrático.
 
Os assuntos entram e saem de foco no debate público com uma velocidade estonteante.
 
Um dia é o avião de Teori Zavascki, no outro é o AVC de Marisa Letícia, no terceiro já é Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal.
 
Nada dura mais do que dois ou três dias no noticiário e nas redes sociais.
 
O ritmo vertiginoso de consumo dos fatos, obviamente, compromete a sua devida fruição. Impede que eles sejam bem analisados, pesados, compreendidos de verdade.
 
Quem se dá ao trabalho de fazer isso – mergulhar em um assunto para dissecá-lo -, não tem com quem falar quando volta à tona. Todos os interlocutores possíveis já estão no próximo tema.
 
O ritmo vertiginoso da produção social da notícia acarreta a sua superficialidade e as opiniões voláteis.
 
O jornalismo não informa muito, porque a atenção do público não resiste mais a textos ou vídeos longos.
 
A informação rala produz opiniões grosseiras, muitas vezes equivocadas, porque são pouco racionais e enormemente emotivas.
 
E logo amanhã, ou mesmo ainda hoje, já haverá outro assunto para saber pouco dele e comentar sem nenhuma base.
 
O efeito cumulativo desse processo é um profundo mal estar das pessoas e uma compreensão muito limitada dos problemas.
 
E é assim que são feitas as escolhas políticas. O que é bom e o que é ruim. Quem se odeia e quem se idolatra. Quem se elege e quem se bane.
 
Agora, todos olham para 2018, imaginando que o pote de ouro da salvação nacional está lá, no fim do arco-iris de uma nova eleição presidencial.
 
Mas, como encontrar o pote, se não se debate a sério, e a fundo, o que deve ser o ouro?
 
Se não há projeto nacional, se não há horizonte, se não há utopia de nenhuma ordem? Se há apenas imediatismo, incompreensão, inconsequência?
 
Opinião pública volátil pode ser uma contingência dos tempos, um daqueles problemas que já estão resolvidos porque não têm solução.
 
Mas é péssima conselheira, quando um país precisa dramaticamente reencontrar algum rumo.

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  1. Avatar

    Difícil à uma pessoa como eu , que nasceu no século passado, e foi educada no século XIX , com autores como Dostoiévski, Tostoi, V Hugo, Cervantes, Marx. No século XX, Sartre, Celso Furtado, Darci Ribeiro entre outros. Nasci depois da segunda grande guerra e espero morrer antes de uma terceira que se aproxima a passos largo. Aparentemente não será total. Mas em pedaços que se encaixam num apocaliptico quebra cabeça. A utopia de um mundo mais justo e solidário se perdeu nesses tempo de imediatismo e consumismo.
    Feliz daqueles que viveram como eu , sempre acreditando no humano.
    Tempos sombrios.

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