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Mentira e cadeia contra o novo jornalismo.


 
Donald Trump é odiento, odioso e odiável, mas tem ao menos uma utilidade para o mundo: serve para entender como o poder e a informação vão se relacionar, nesta era de “pós-verdade”.
 
O que acontecer nos Estados Unidos nos próximos anos, em matéria de enfrentamento do estado e da sociedade nas questões de comunicação,  tenderá a ser o parâmetro para os demais países, pela influência e o alcance mundial da indústria norte-americana de mídia.
 
E se é assim, não há como fugir às evidências: estamos lascados.
 
Os atos iniciais do Governo Trump são muito preocupantes para o exercício do jornalismo e a liberdade de expressão.
 
Diante das imagens que mostraram um público muito menor em Washington, na cerimônia de posse de Trump, comparado com o que prestigiou a posse de Obama, oito anos antes, porta-vozes negaram a realidade evidente.
 
Apresentaram números para sustentar que o público foi até maior, foram contestados pela imprensa, mas não se abalaram. Batizaram a sua versão falsa, conscientemente mentirosa, de “fatos alternativos”.
 
Agora, vem a notícia de que seis jornalistas, detidos pela polícia ao fazer a cobertura de protestos contra a posse de Trump, receberam acusações de crimes graves e podem ser condenados a até dez anos de prisão, além de multa pesada.
 
São dois jornalistas independentes, um freelancer, um produtor de documentários e dois repórteres de veículos grandes: o canal de televisão RT America, ligado ao governo russo, e o site Vocativ, de Nova York.
 
O que Trump sinaliza, com as suas medidas iniciais, é que vai insistir na técnica do nazista Joseph Goebbels, de mentir reiteradamente até que a mentira torne-se verdade para a opinião pública.
 
E vai combinar o uso da mentira com a repressão político-judicial, contra jornalistas que ousarem contestar os tais “fatos alternativos”.
 
Tudo, evidentemente, em nome dos mais altos interesses do povo americano, já que o novo mandatário acredita que “os jornalistas estão entre os seres humanos mais desonestos da Terra”.
 
O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil – dizia um antigo sabujo, o chanceler da ditadura de 1964. O atual governo brasileiro já deu provas cabais de que também acredita piamente nisso.
 
Não é muito animador, portanto, imaginar como as iniciativas de Trump contra a mídia serão interpretadas e adaptadas ao Brasil, nesta nova fase colonial do país.

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      a diferença é que a polícia e a justiça vão perseguir ainda mais os jornalistas sérios, que escrevem nos blogs “sujos”, e que vão sofrer intimidações mais contundentes.

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