Pelo visto, Obama não está disposto a fazer o jogo do Lame duck, como é conhecido esse período de transição presidencial aqui nos Estados Unidos.
Lame ducks normalmente são períodos que não trazem muitas surpresas, reforçando essa percepção já generalizada de que não há diferenças entre democratas ou republicanos. Especialmente no que concerne ‘a política exterior.
Mais além, tradicionalmente, as decisões tomadas nesse período de transição são negociadas entre a administração em exercício e o presidente eleito. Garantindo a continuidade das políticas iniciadas no mandato anterior.
Um dos casos notórios disso, por exemplo, foi a decisão de Bush-Pai de enviar tropas para a Somália, o que só aconteceu depois que Bill Clinton, o então presidente eleito, deu o sinal verde.
A administração Obama, por sua vez, tem tomado decisões e feito declarações em clara oposição ao que vem sendo delineado por Trump. Emprestando uma inédita tensão ao Lame duck.
A mais recente delas foi a abstenção histórica na decisão do Conselho de Segurança da ONU de condenar os assentamentos de Israel em território palestino. O que foi seguido por uma declaração do atual Secretário de Estado John Kerry, que entre muitos posicionamentos importantes, históricos, disse pela primeira vez em 36 anos, afirmou que os assentamentos de Israel na Palestina são uma afronta ao Direito Internacional.
Essa decisão do Conselho de Segurança e a declaração de Kerry vêm apenas alguns dias depois das nomeações de Jason Grinblat, o judeu ortodoxo e homem de confiança de Trump como “negociador especial” da nova administração e de David Friedman como novo embaixador dos Estados Unidos para Israel.
Friedman é um defensor histórico desses assentamentos.
Rússia e China também têm se tornado temas espinhosos entre Trump e Obama. Obama e outros membros do Partido Democrata vêm acusando Putin de ter interferido no resultado das eleições presidenciais.
Trump não só minimizou essa questão mas foi mais além, e escolheu um Secretário de Estado notório por sua proximidade pessoal com a Rússia.
Ao mesmo tempo Trump aponta para uma importante mudança em relação ‘a China. Além de ter recebido uma ligação de Taiwan desafiando a política de One China, que vem persistindo desde Nixon, Trump nomeou o economista Peter Navarro, conhecido pelas duras críticas ‘as práticas comerciais chinesas. Ele vai comandar o recém criado National Trade Council.
Trump é conhecido por ser um pragmático, ou seja, é difícil dizer se tudo não passa de um jogo de cena. E a prova de fogo talvez chegue antes do esperado.
Montenegro quer ingressar na OTAN, e para isso precisa da aprovação do congresso estadunidense, agora dominado pelos republicanos.
Qual será o posicionamento do Trump? Fortalecer a OTAN, a que ele mesmo vem fazendo duras críticas e o que seria entendido como um ato não amistoso em relação ‘a Rússia ou pedir para o congresso congelar a entrada de Montenegro e melhorar o diálogo com a Rússia?
Uma coisa é certa – mesmo que a tendência seja sempre se falar que ganhe um ou outro não há mudanças, dessa vez os Estados Unidos podem estar entrando numa nova fase nas relações entre democratas e republicanos.
Uma fase de crise entre as elites governantes.
