Brasil

Pastor Ariovaldo Ramos: temos de nos reorganizar, esquecer as diferenças e ocupar o país


O historiador Eric Hobsbawm tinha a tese de que o tempo não se mede apenas cronologicamente, mas, também, a partir de eventos que demonstrem uma mudança radical na descrição do significado do tempo, isto é, na prática um século pode ter mais ou menos que 100 anos, desde que um evento acontecido nesse período marque uma mudança de estado do tempo, uma mudança de era, por exemplo. Isto equivale a dizer que o século XX começa, de fato, no início da era industrial, que, cronologicamente, aconteceu no século XIX.
O historiador procurava demarcar os avanços na história, entendendo-os como marcações temporais que anunciavam salto, evolução. Não sei se o nobre mestre teria uma tese para explicar o que aconteceu no Brasil no ano de 2016, onde tivemos, de fato, uma mudança radical na história, mas, não foi um salto para o alto e avante, senão uma queda para o fundo do poço do século XX, e, em alguns casos, para algo do ruim do século XIX.
Em seis meses vimos o fim da democracia; a desfiguração da Constituição de 1988; a flexibilização da Consolidação das Leis Trabalhistas; o fim da Seguridade Pública; o congelamento dos investimentos em saúde, educação, e infraestrutura; o fim da Petrobras e do monopólio da exploração do petróleo; a mudança conceitual da educação de fator de desenvolvimento para fator de adestramento; e o desmonte do estado social brasileiro: uns já consolidados, outros em andamento, isto é, voltamos para o pior, e não foi mero retorno para o período ditatorial iniciado em 1964 e encerrado em 1985, mas para o período pré Getúlio Vargas e, em alguns casos, para o período pré abolição da escravatura.
Tudo operacionalizado pelos piores representantes da política brasileira, em toda a nossa história, todos comprometidos, segundo delatores, com esquemas intrincados de corrupção, inclusive, alguns sob acusação de prática de crimes hediondos. Sustentados por uma elite econômica subdesenvolvida, por uma mídia que se corrompeu em relação a sua finalidade; e pela inoperância do sistema judiciário brasileiro, que intencionalmente ou não, em alguns casos se omitiu, em outros coniviu, e, nas situações em que admitiu a exceção se acumpliciou. Se o que parece é.
A única reação, de nota, a todo esse movimento de usurpação, pelo golpe ao Estado de Direito, foi do movimento estudantil, com apoio de parte do professorado. As demais forças vivas e democraticamente organizadas da sociedade civil, perplexas e aturdidas, vitimadas pela desmobilização e divisões pré golpe, reagiram de modo pífio, considerada a virulência e a extensão do golpe.
Bem… 2017 vem aí, precisamos retomar o governo que conquistamos pelo voto, temos de nos reorganizar, esquecer as diferenças e ocupar o país. Temos de dividir o país em quadras, bairros, cidades, setores, especialidades. Temos de promover ocupações em todos os níveis, em todos os setores, autarquias e empresas públicas. Temos de apoiar intensiva e ostensivamente a mídia alternativa. Temos de protestar em todos os quadrantes e de todas as formas legítimas. Temos de entrar em um estado permanente de greve até que o Brasil volte à estrada da democracia.
O nossa luto vem do verbo lutar! Feliz 2017!

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    Washington Fazolato Barbosa says:

    “A única reação, de nota, a todo esse movimento de usurpação, pelo golpe ao Estado de Direito, foi do movimento estudantil, com apoio de parte do professorado.”
    Como dizia o saudoso Gonzaguinha: “Eu levo fé é nessa rapaziada”.

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    Aldimar peixoto says:

    é importante conscientizar nosso povo de quanto eles podem influenciar a mudança desse pais, melhorar sua autoconfiança e auto estima, mostra – los que não podemos abaixar a cabeça e cantar – “deixa a vida me levar” – Martinho da vila – que mesmo em meio a manipulação e o desrespeito que o sistema de governo demonstra para conosco, precisamos mostrar a força de nossa resignação e consciência de quem nos somos e do direito que a nós pertence e do destino que podemos com a força do todo poderoso Deus e uma boa orientação de nossa verdadeira identidade como cidadãos é possível mudar essa situação.

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    Prezado Pr. Ariovaldo,
    Eu fico simplesmente pasmo de ver homens tão inteligente, culto, conhecedor da palavra de Deus fazer declarações públicas subliminalmente em defesa de uma política de esquerda que levou nosso país a bancarrota.
    O processo de impeachment foi reconhecido internacionalmente como um processo legal e democrático feito por um colegiado de autoridades que servia um interesse geral da nação que está cansada de tanta roubalheira e falcatruas articuladas por políticos de direita, esquerda, central, etc. Enfim, onde todos aqueles que puderam se beneficiar o fizeram independente do partido político.
    Já é de conhecimento de todos que não há ninguém de mãos limpas para conduzir nosso país a um desenvolvimento sustentável sem que haja tanta sangria de recursos para alimentar a suposta “elite”, alias, seria bom definir elite no nosso contexto de hoje. Porque chamar os de direita de elite e chamar os de esquerda de classe trabalhadora vai além de inocência, é idiotice.
    Lula é elite a muito tempo!
    Elite no contexto social, político e inclusive financeiro e no entanto rotulamos os de direita e central de elite, está não é uma leitura muito equilibrada do cenário!
    Então, creio que seria mais interessante conclamar a população a união para o bem geral da nação mas a partir de uma abordagem menos tendenciosa.
    Nos cristãos devemos nos posicionar em favor da integridade, da verdade, da justiça social, mas com o devido cuidado de não associar nosso posicionamento cristão a um grupo de políticos que já se declarou contra a igreja, seu povo e princípios.

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    Parabéns Pastor Ariovaldo!
    Grata surpresa ouvir uma voz tão corajosa, num meio em que só vemos discursos prontos.
    Uma voz que fala de Deus, mas com os pés na Terra.
    Que fala exatamente do Evangelho que Jesus veio nos ensinar.
    Nossa. Que bom!
    No meio de tanta intolerância, tanto ódio, tanta ignorância, ouço vozes de esperança.
    Temos dois caminhos: pela dor ou pelo amor.
    Infelizmente nossa gente escolheu o segundo. Mas o povo parece estar se dando conta desse pesadelo!
    Dias melhores virão.
    Que o Mestre Jesus esteja conosco!

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