Brasil

Retrospectiva de um ano imaginário


A menos que o freguês seja masoquista ou goste muito de ver figurinhas, no caso bastante animadas e sonorizadas, não há qualquer razão para assistir às retrospectivas de 2016.
 
Esse formato tradicional do telejornalismo, como o nome indica, procura rever os fatos do ano e, ainda que seja o produto premium do entretenimento aplicado ao noticiário, guarda um mínimo de compromisso com a verdade. Resenha o que terá acontecido, como terá se passado.
 
E, se é assim, há um problema intransponível neste 2016: todas as retrospectivas mentem. Todas elas falseiam. Todas escondem o essencial.
 
Qual seria ele? O fato de que foi a mídia, em especial da televisão, a maior responsável por grandes desastres desse ano inesquecível, de tão infeliz.
 
As retrospectivas não dirão que foi a TV quem mentiu, omitiu, distorceu e criou, na maioria dos brasileiros, o estado odiento de ânimo necessário para que um golpe de estado fosse possível – e as pessoas ainda achassem que tudo se passou dentro da normalidade, e que haveria grande benefício para todos.
 
As retrospectivas não dirão que esse governo que a mídia trabalhou para instalar no poder promove o maior ataque ao patrimônio nacional e aos direitos dos trabalhadores já registrado na história brasileira. Dirão o contrário disso, que estão em marcha uma recuperação econômica e uma depuração política que ninguém vê.
 
As retrospectivas não dirão, como o noticiário diário não diz, que é o alinhamento político da mídia a interesses corporativos globais, construindo uma realidade virtual, retórica, ideológica, que leva a esse estado atual de “pós-verdade”, em que os fatos não são analisados para produzir compreensão e consciência, mas são manipulados para obter adesão e obediência.
 
As retrospectivas não dirão que, por trás de fatos como o Brexit, a eleição de Donald Trump, o conflito na Síria e outros tantos, existe sempre a mão da grande mídia corporativa, controlando os fios dos fantoches, dizendo aos atores como devem atuar e à audiência, quando deve rir ou chorar, aplaudir ou odiar.
 
Não é o caso, portanto, de perder tempo com retrospectivas. Tudo que é necessário saber sobre 2016 é que ele não se passou como a mídia mostrou.
 
Exatamente como acontecerá com esse pobre e desavisado 2017, que ainda nem começou.

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