Brasil

Manifestações darão o ritmo da luta pelo impeachment

Só a presença do povo trabalhador e da juventude pode mudar o caráter da luta contra Bolsonaro e levar a agenda democrática às suas últimas consequências: reformas estruturais que distribuam a renda, a riqueza e a propriedade hoje concentradas em 1% ou, no máximo, em 10%, principal causa da pobreza, miséria e desigualdade.

A realidade se impõe. O governo é militar e Bolsonaro, um instrumento. Seu isolamento é cada vez maior, sua ofensiva autoritária e golpista contra a Suprema Corte e sua criminosa política de desmonte do isolamento social e solapamento da ação dos governadores e prefeitos mobilizam cada vez mais e mais setores da sociedade contra seu governo, em defesa do impeachment e do estado democrático de direito.

Várias iniciativas surgiram. As mais relevantes foram os manifestos que, em comum, colocam foco na importância da questão democrática. Aos lançados na semana anterior somou-se, neste final de semana, de igual importância e peso, senão mais relevante, o documento assinado por todas as centrais sindicais, de diferentes correntes políticas, em defesa de proteção aos trabalhadores na luta contra a pandemia e pela união de todas as instituições, partidos, entidades contra o governo discricionário e pela defesa da democracia.

Mas foram e serão as manifestações nas ruas, nas janelas e nas redes que darão o ritmo e a direção da luta pelo impeachment e pela defesa da democracia. As manifestações de rua de domingo, em todo país – realizadas com todas as cautelas por causa da pandemia e para evitar as provocações dos fascistas – trouxeram uma forte rajada de esperança, mostrando que a juventude é a vanguarda da luta. Uma luta que não se limita à defesa da democracia. Ela é contra a violência policial, o racismo e tudo o que esse governo fascista, como gritam os jovens, representa. 

Vozes da rua

O que ouvimos nas ruas foram as vozes da juventude, das periferias, das torcidas organizadas, dos negros, dos sem teto, dos sem emprego, dos que tem sede de justiça, dos trabalhadores super explorados dos aplicativos – condição de trabalho que devia ser proibida, como foram no passado as 14 ,16 horas de trabalho e o trabalho infantil. Em várias capitais, também se ouviu a voz das classes médias que, das janelas, bateram panelas em apoio ao Fora Bolsonaro! 

As faixas das torcidas de times adversários unidos e juntos na luta contra o fascismo – em várias cidades – são o símbolo e a síntese deste momento em que a sociedade começa a sair da letargia e a reagir. Momento que pode ser resumido por duas palavras: unidade e luta contra Bolsonaro e pela democracia. Esta é a batalha deste momento. Isto não quer dizer abrir mão de nossas identidades, histórias e interesses. Ao contrário, nós, das esquerdas, temos que mobilizar nossas forças para a segunda batalha, a das reformas sociais e políticas.

Transições e rupturas dependem de muitos fatores e atores. Nas Diretas Já! havia mobilização e acúmulo suficiente para derrubar a ditadura nas ruas. As direções dos partidos de oposição optaram pela transição via Colégio Eleitoral após a derrota da emenda Dante de Oliveira, apesar da posição contrária do PT, de setores autênticos do PMDB e de outros atores sociais. Tancredo foi eleito e Sarney tomou posse.

A interrupção da ascensão das classes trabalhadoras e de seus interesses e representações políticas não deteve a luta e, em 2002, Lula chegou ao governo. O governo Collor, seu impeachment e os governos liberais do PSDB viram crescer a presença das classes trabalhadoras na vida social e política do país. Ela tinha se transformado em um novo e decisivo protagonista que soube nas urnas eleger seus governos.

Ultraliberalismo e conservadorismo

Hoje vivemos o nascimento de uma nova fase de lutas sociais e políticas na qual as formas de luta são moldadas, em grande medida, por uma economia ultraneoliberal onde o capital financeiro predomina e traz consigo a desconstituição dos direitos sociais das classes trabalhadoras.

Junto com o neoliberalismo e a globalização – e até para que pudessem avançar no ritmo que avançaram –, desenvolveram-se as tecnologias da comunicação e informação, a internet, as redes sociais. É este pano de fundo que criou o caldo de cultura para a ascensão de um governo de extrema direita, obscurantista e autoritário onde o estamento militar é hegemônico e governa a serviço da elite financeira e seus sócios menores com o objetivo de destruir o Estado nacional e impedir de novo uma vitória das esquerdas.

O caráter conservador e negacionista da ciência do grupo político no poder no Brasil atraiu as religiões neopentecostais e encontrou eco em parte da sociedade. Mas empurrou para a oposição a juventude, as mulheres e as classes médias cosmopolitas. O caráter ditatorial do governo está permitindo ampliar o leque da oposição com setores que apoiaram o golpe contra Dilma, embora ainda sustentem a política econômica ultraliberal de Guedes – até pelo temor das esquerdas e sua agenda de reformas. Muitos dos que hoje clamam por frente democrática se recusaram a apoiar Haddad em 2018.

Assim, só a presença do povo trabalhador e da juventude pode mudar o caráter da luta contra Bolsonaro e levar a agenda democrática às suas últimas consequências: reformas estruturais em nossa sociedade que distribuam o produto do trabalho de todos brasileiros, a renda, a riqueza e a propriedade hoje concentradas em 1% ou, no máximo, em 10%, principal causa da pobreza, miséria e desigualdade.

Para termos um país democrático não basta garantir a pluralidade e diversidade. A democracia em nossa sociedade exige a igualdade e a justiça social.

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