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A democracia e a Nação estão em perigo. Impeachment já.

Estamos numa encruzilhada de vida e morte. A tutela militar desfila garbosamente pela Esplanada e toma de assalto as instituições da República. A hora é agora. Unidade de todas forças políticas e sociais em defesa da democracia e pelo impeachment do presidente Bolsonaro.

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio?”, disse o cônsul romano Marco Túlio Cícero em um de seus discursos contra a conspiração engendrada pelo senador Lúcio Sérgio Catilina para derrubar o governo republicano e tomar o poder.

Depois da tragicomédia que nos ofereceu o governo Bolsonaro na semana passada — um vídeo de uma reunião do governo interpretada por desajustados, fanáticos e saqueadores do país e o assalto militar ao ministério da Saúde —, a frase de Cícero, quase 2.100 anos depois, nunca foi tão atual. 

Se a divulgação do vídeo, autorizada pelo ministro do STF Celso de Mello, pouco contribuiu para elucidar as versões dadas por Moro e Bolsonaro sobre a interferência do segundo na Polícia Federal, em benefício de sua família e amigos, ela desnudou de vez o total descompromisso do governo com o controle da pandemia e a saúde da população, com o suporte às pequenas e médias empresas, com o meio ambiente, com as populações indígenas. Foi um festival de baixarias, autoritarismo explícito, total desrespeito às instituições e à democracia, uso do Estado em benefício de projetos próprios. 

Já a invasão do ministério da Saúde pelos milionários verde oliva, como são conhecidos na Esplanada os recém nomeados secretários da pasta mais importante e decisiva para a vida de milhões de brasileiros na pandemia, expõe o descaso do governo com a população do país, especialmente com o povo pobre que vive nas periferias das grandes cidades, o mais atingido pelo coronavírus. Já somos o segundo país em número de novos casos e logo, logo estaremos no topo das estatísticas em número de mortos.

Fim da paciência

Mas a paciência da sociedade, que o governo Bolsonaro vem colocando à prova, começa a se esgotar. O que força a união, como mostra o pedido de impeachment apresentado, na semana passada, à Câmara dos Deputados por personalidades, 400 entidades e pelos partidos PT, PSOL, PCdoB, PSTU, PCB, PCO, UP. Um exemplo prático da necessária e imprescindível unidade das forças democráticas e de esquerda, já expressa no 1º de Maio unitário, nas lives de todas centrais sindicais, na pauta comum dos partidos de esquerda na Câmara e no Senado para aprovação de medidas de apoio à luta contra a pandemia, apesar do governo.

Muito expressivas, com repercussão a longo prazo, foram as declarações de Lula de que não é candidato em 2022 e que desautoriza iniciativas nesse sentido. Quer dar espaço para novas lideranças. E, pela segunda vez, indica a possibilidade de uma candidatura fora do PT para liderar a chapa de Frente de esquerdas.

O mais importante está nas entrelinhas dos movimentos de Lula: o prioritário, neste momento, é a luta contra a pandemia, salvar vidas, sustentar o esforço sacrificado e com risco de vida de todos e todas que estão à frente na área da saúde e de todos serviços essenciais lutando contra o coronavírus. Todo apoio aos governadores e prefeitos; todo apoio ao SUS; crédito sem juros e sem exigência de garantias para os micros e pequenos empresários, para os ambulantes e autônomos; renda básica para os trabalhadores desempregados e informais, única forma comprovada de sustentar o isolamento social sem o que dezenas de milhares morrerão.

Não há como salvar a economia sem enfrentar a pandemia. Cada dia em que se persistir na insana e tresloucada ação de sabotagem do governo e do presidente custará à nação vidas humanas e inviabilizará a retomada do crescimento, da renda e do emprego, pós pandemia.

Impeachment, única alternativa

Ao se tornar o principal aliado da pandemia, essa é a verdade nua e crua, Bolsonaro não deixa alternativa à nação que não seu impeachment com base na Constituição e nos crimes de responsabilidade que cometeu e comete diariamente.

Há consenso nas esquerdas sobre a urgência do afastamento constitucional do presidente. PSB, PDT, PV e REDE já haviam protocolado um pedido nesse sentido. E vozes em todo país, de todos matizes políticos e classes sociais pedem que a Câmara dos Deputados, por meio de seu presidente Rodrigo Maia, a Suprema Corte e mesmo o Tribunal Superior Eleitoral cumpram seu papel constitucional.

Só interesses econômicos e de classe, o apoio das mesmas elites que se opõem a Bolsonaro, a agenda liberal do governo dirigida por Paulo Guedes, cálculos políticos e eleitorais da coalizão PSDB-DEM-MDB-Cidadania e o temor da tutela e reação militar, o apoio interesseiro do chamado Centrão, explicam a dubiedade e timidez dessas instituições em cumprir seu papel constitucional. Há quatro anos foram céleres em cassar uma presidente honesta e legitimamente eleita, rasgando o pacto político constitucional de 1988.

Só o egoísmo histórico de nossas elites e a defesa de seus privilégios e poder justifica a tibieza e a irresponsabilidade frente a Bolsonaro. Só a total ausência de um mínimo de coragem explica a vassalagem aos militares, quando os mesmos desprezam a política e a democracia  e manifestam seu ódio a  toda e qualquer oposição e caminham para nos retirar as liberdades e a democracia duramente conquistadas que eles usurparam pela violência, em 1964.

Da Corte Suprema, a mesma que nos condenou em 2012 sem provas, na AP 470, e cuja maioria de integrantes convalidou o golpe de 2016, a nação espera e exige que cumpra seu papel e faça valer a Constituição. Da mesma forma que vem limitando as investidas anticonstitucionais de Bolsonaro. 

A democracia e a Nação estão em perigo, numa encruzilhada entre a vida e a morte. A tutela militar desfila garbosamente pela Esplanada e toma de assalto as instituições da República. Sem pudor ou medo, um general que jurou defender a Constituição ameaça a Suprema Corte e o próprio presidente confessa que arma o seu “povo” numa confissão pública de seu objetivo golpista. O que esperamos? A paciência esgotou.

A hora é agora. Unidade de todas forças políticas e sociais em defesa da democracia e pelo impeachment do presidente Bolsonaro. Nada mais.

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