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Denúncias de Marinho podem se converter em fio desencapado para a família de Jair Bolsonaro

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo deste domingo, o empresário carioca Paulo Marinho, um dos pilares da campanha presidencial de Bolsonaro, pode atear fogo ao barril de pólvora que cerca o Genocida e seu filho, o senador Flávio “Zero1”. Hoje no PSDB, Marinho é candidato a prefeito do Rio. 

Manchete de primeira página da Folha deste domingo, a nova denúncia contra Bolsonaro, feita pelo empresário Paulo Marinho, bolsonarista de primeira hora, pode se converter, finalmente, em uma encrenca de bom tamanho para o presidente da República. Nada a ver com as “denúncias” de Sérgio Moro, que não conseguiu mostrar com clareza onde o Genocida teria praticado crimes que justiquem seu afastamento. A partir da entrevista de hoje (para ler clique em  https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/pf-antecipou-a-flavio-bolsonaro-que-queiroz-seria-alvo-de-operacao-diz-suplente-do-senador.shtml), a sociedade e as forças democráticas parecem ter, pela primeira vez, aquilo que os políticos chamam de “fato novo”. Em resumo, segundo o empresário, os escândalos do clã Bolsonaro vão muito além do que se tinha até agora: um delegado da Polícia Federal vazou informações sigilosas sobre uma investigação, atuou para adiar operações policiais e ainda aconselhou um investigado (o senador Flávio Bolsonaro, o Zero1) a demitir pessoas envolvidas para obstruir a investigação.

É bom lembrar que a investigação contra Flávio Bolsonaro não era da Federal, mas da Polícia Civil do Rio, juntamente com o Ministério Público-RJ,  já que se trata de suspeita de desvio de valores salariais pagos a funcionários que teriam sido contratado como fantasmas na Assembleia Legislativa. Mas foi originada em investigações da PF sobre desvios de recursos federais naquele Estado. A matéria fala de um “delegado bolsonarista” que atuou para postergar as ações na Polícia Civil, provavelmente com apoio de outros bolsonaristas. 

Há trechos da entrevista que parecem plantados para desinformar e não devem ser levados a sério. Engolir, por exemplo, que um delegado da PF, com o status e a responsabilidade que tem, iria marcar um encontro secreto em frente à sede da Superintendência da Federal no Rio, descer à rua, contar sobre uma investigação em curso e aconselhar os investigados sobre como se protegerem, é acreditar em Papai Noel. O mais provável é que alguém da equipe que fazia a segurança na campanha tenha recebido a informação e repassado a Bolsonaro e a seu filho, além de atuar para atrasar os trabalhos. Mas um fato é cristalino: crimes foram praticados ali.

Sobre o entrevistado de Mônica Bergamo, é bom lembrar que Paulo Marinho é suplente de Flávio Bolsonaro e seria o grande beneficiado com a cassação do titular. Certamente terá sido alguma causa “republicana” que o levou a romper com Bolsonaro. Na entrevista, o denunciante diz que viu o presidente pela última vez, em sua casa, logo após o segundo turno da eleição, que ocorreu em 28 de outubro de 2018. Em matéria do UOL, publicada no dia 12/jan/2020, ele conta que sequer foi convidado para a posse de Bolsonaro. “Movido por essa síndrome de conspiração, ele acredita que todos são traidores. Não cultiva nenhum sentimento de gratidão”, disse Marinho à reportagem. 

Com a saída de Gustavo Bebiano do governo, ele e Paulo Marinho foram para o PSDB, pelas mãos de João Dória. Houve uma desistência, Bebiano morreu e Marinho virou presidente do PSDB e pré-candidato a prefeito do Rio. O interesse eleitoral e o estímulo de Dória devem levá-lo a sustentar as informações e talvez até a colaborar com as investigações do inquérito contra Flávio, no Rio, ou mesmo no inquérito que corre no STF, esse contra Bolsonaro. Ou até mesmo a uma eventual CPI para investigar as denúncias, que já está sendo requerida no Congresso.

O foco é o inquérito no Rio, pois é duvidoso que esses assuntos possam ser objeto da investigação que está andando sob supervisão do ministro Celso de Mello, no Supremo. A Constituição diz que o presidente da República não pode ser processado por eventuais crimes praticados antes do mandato. Mas contra Michel Temer essa regra foi contornada: o ministro Fachin decidiu que, mesmo não podendo ser processado, o presidente podia ser investigado. E mandou tocar inquérito contra Temer. Decisão inédita, mas isso costuma virar o que os nativos chamam de “novo normal” – até porque era contra Temer, cujos adversários ficaram quietos ou festejaram. Acabei de ver o tuíte de um procurador da República afirmando que todas as pessoas mencionadas na matéria da Folha passam a ser testemunhas de interesse para o inquérito que tramita no STF.

Politicamente, parece bem plausível que a entrevista tenha sido articulada por setores próximos a João Dória. Ele tem posado abertamente de presidenciável, mas não tem chances se Bolsonaro continuar no páreo. Portanto, agir para explorar os crimes e lambanças do capitão que justifiquem um impeachment faz todo sentido. O certo é que a entrevista de Paulo Marinho complica muito a situação de Bolsonaro no que se refere à interferência na PF e o deixa mais vulnerável a um processo partindo do Supremo, com pedido de licença para que seja processado (quando teria que ser afastado). Também pode levar à cassação de Flávio Bolsonaro. Não pelo Senado, onde isso é quase impossível, mas por ação no Supremo. Dependendo do andar da carruagem, podemos tem um outono quente.

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