Brasil

Direita liberal vacila frente ao impeachment

As denúncias de Moro contra Bolsonaro são graves o suficiente para justificar o impeachment. A direita liberal vacila frente ao impedimento temerosa da opção de esquerda, que mostrou sua força em 2018.

A demissão de Sergio Moro com todas suas consequências só comprova que o presidente Jair Bolsonaro é incompatível com a democracia e a luta contra a pandemia. Ele não vacilou, num momento de gravíssima crise social e humanitária, em colocar de novo país em suspense e criar mais uma crise política e institucional, rompendo com o lavajatismo que o levou a presidência e com Moro. Tudo para controlar os órgãos de investigação – a policia judiciaria da União, a Polícia Federal -, depois de aparelhar literalmente a receita Federal, o COAF e o Ministério Público Federal. 

A razão dessa busca do poder absoluto por Bolsonaro é dupla: sua vocação e ideologia de extrema direita, pois busca mesmo implantar uma ditadura, e a proteção de sua família. Esta investigada pelo laranjal do PSL, do qual se desligou para fugir das acusações; pelas fake news e pelo financiamento ilegal de sua campanha que pode levar à cassação de sua chapa com Mourão; pelo gabinete do ódio organizado no coração do poder, o Palácio do Planalto,  por seus filhos Carlos e Eduardo; pelas rachadinhas do filho Flavio; e pela ligação da família com as milícias e destas com o bárbaro e covarde assassinato de Marielle e Anderson. 

Apoio no centrão

Bolsonaro fez dois movimentos importantes nas últimas semanas para manter-se no poder. Aproximou-se dos partidos do centro politico majoritário na Câmara dos Deputados, com uma ampla troca de favores para garantir sua base parlamentares, e cedeu à ala militar de seu governo, contra a política ultra-liberal conduzida pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lançar o plano de investimentos Pró Brasil. Embora uma falseta, suficiente para erodir seu apoio no grande capital bancário financeiro e agravar sua relação com a mídia monopolista comercial, Globo à frente. 

Se havia uma grande razão para o capital rentista e financeiro e as elites apoiarem Bolsonaro, apesar de seu autoritarismo e obscurantismo, era a política econômica ultra-liberal de seu governo que a pandemia  desvendou para todo o povo brasileiro como era e é maléfica para o Brasil. Seu governo comete um crime de lesa pátria ao cortar gastos e desmontar nosso sistema único de saúde universal e gratuito, o SUS, a pesquisa científica, a educação universitária, a rede de proteção social do BPC, Bolsa Família, seguro desemprego, abono salarial, FAT e o sistema S. 

Com a queda de Moro, provocada pela demissão por Bolsonaro do chefe da Polícia Federal, o presidente da República rompe com grande parte da classe média, com o lavajatismo, pode perder o apoio das elites rentistas e financeira, agrava a cisão no bolsonarismo e de fato só conta com o apoio militar, do bolsonarismo de extrema direita (que envolve também parte das PMs; o baixo clero dos quartéis e as milícias) e de sua base evangélica, que pela sua tradição de fisiologismo não sabemos até quando dura. No Congresso Nacional, seu último refúgio é o chamado centrão.

Moro, para alegria da Globo, entra em cena como candidato em 2022. Mandetta e Moro eram para Bolsonaro adversários potenciais na sucessão que ele busca casada com seu projeto autoritário. A provável força eleitoral de Moro era e foi uma das principais razões de sua demissão como a de Mandetta, se bem que no caso do ex-ministro da Saúde pesou e muito a defesa da política de confinamento horizontal e a recusa em se submeter à politica suicida de Bolsonaro e seu entorno militar e politico com relação à pandemia. 

O apoio da Globo a Moro é incondicional e explicado pela sua participação e conivência com as ilegalidades da Lavajato e pelo medo de uma vitória eleitoral das esquerdas. A ponto de a emissora se expor publicamente e censurar não só as manifestações e declarações de petistas sobre a saída de Moro do governo como apagar o PT e seus lideres começando por Lula como se não existíssemos. O desejo secreto da família Marinho – a proscrição do PT e de Lula -, ela sublinha nos censurando, apagando nossa existência…

Luta pelo impeachment

O impeachment ou a renúncia de Bolsonaro recebeu apoio do PT, do PDT, do PSB e até de FHC, que por fim saiu do muro. PCdoB e PSOL já estavam no Fora Bolsonaro. Os pedidos de impeachment chegam na Câmara dos Deputados às dezenas e o STF é demandado para que Rodrigo Maia os coloque em tramitação e o PGR abre uma investigação sobre as graves denúncias feitas por Moro das tentativas de Bolsonaro de interferir nos inquéritos da PF envolvendo seus filhos que justificam legal e constitucionalmente um impeachment. Mas não se pode esquecer que foi Moro quem elegeu Bolsonaro, ao perseguir e prender Lula sem provas, e apoiou o presidente e sua família todo o tempo em que esteve à frente do Ministério da Justiça. Sem falar de seus acordos secretos para assumir o Ministério e ser indicado para o STF. Só rompeu de olho na disputa da Presidência da República em 2022.

Chegou a hora de enfrentarmos Bolsonaro, que combaterá com suas armas que não são poucas literalmente. Cabe a nós, a esquerda democrática e/ ou socialista, travar o bom combate Fora Bolsonaro, agora é impeachment. 

Essa batalha deve ser travada ao mesmo tempo que lutamos pela proteção do emprego e renda dos trabalhadores, pelo apoio às empresas e ao sistema produtivo e logístico do país e por recursos para a saúde pública e para os estados e municípios. Temos ainda que garantir a reconversão da economia para enfrentar a luta contra a pandemia, para que o Estado, o Tesouro, o BC, os bancos públicos assumam o financiamento e os gastos públicos necessários para o combate ao Covid 19 e a proteção da saúde e da economia popular.

Não há mais dúvidas. A oposição liberal de direita vacila em fazer o impedimento de Bolsonaro com medo da opção de esquerda que provou, em 2018, que tem força social e eleitoral e projeto para o país. Agora terá que se ver com outra via, um bolsonarismo sem Bolsonaro, que lhes garanta a continuidade da falida e fracassada politica ultra-liberal.

O candidato da direita liberal, das elites, Globo à frente, pode ser Moro ou outro, vai ter que enfrentar Bolsonaro e sua base social que não devemos subestimar e vai ter que nos enfrentar, sabendo que as esquerdas têm força política e eleitoral para se apresentar como alternativa para dirigir o pais. 

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