Brasil

José Dirceu: “Bolsonaro deve ser removido o mais rapidamente possível, pelo bem do Brasil.”

O presidente da República é o único responsável pela crise político-institucional, paralela à crise da pandemia, e não tem condições de continuar governando o país.

A pandemia da Covid 19 chegou em um momento de desconstrução do Estado brasileiro em nova arremetida tardia do ultra-liberalismo, agora casado com o autoritarismo e o obscurantismo na figura de Jair Bolsonaro. Um presidente que saiu vencedor em uma eleição fraudada por fake news amplamente financiadas por grandes empresários e foi apoiado  pelas elites de sempre e pela omissão — quando não conivência e mesmo apoio — das forças politicas de centro direita, inclusive da dupla PSDB-DEM, todas irmanadas no golpe que depôs Dilma e prendeu Lula o inabilitando para uma eleição onde seria o vencedor. 

A economia brasileira e a mundial já caminhavam a passos lentos para a recessão, aqui agravada pelo teto de gastos e corte de investimentos públicos, afetando antes de mais nada os trabalhadores de baixa renda, os desempregados, os autônomos e informais e os serviços públicos essenciais como saúde e educação. Medidas econômicas que também paralisaram parte da máquina do Estado, a exemplo da Previdência e do Bolsa Família. E atingiram outra área fundamental para o país, a da ciência e tecnologia.

O coronavírus encontrou o Brasil desarmado e com um presidente que se nega a reconhecer a gravidade da crise humanitária e que tem, junto com as instituições, em decorrência do golpe parlamentar jurídico de 2016, baixa legitimidade. A isso soma-se uma luta política permanente que Bolsonaro trava em busca de plenos poderes, da volta da ditadura que ele não cansa de elogiar ganhando apoio no último dia 31 de março dos comandantes das Forcas Armadas. Há uma paralisia, fruto da sabotagem aberta do presidente, que pode nos levar à uma tragédia nacional e à morte de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, principalmente daqueles que ele diz representar: os mais pobres e desprotegidos, a maioria da nossa gente.

Crise política

 Assim, não bastasse a gravidade da crise sanitária temos uma crise política, de exclusiva responsabilidade de Bolsonaro, que a cada dia se agrava com sua atitude criminosa e assassina de sabotar o combate ao coronavírus. É fato que a Câmara dos Deputados -mais do que o Senado da República – e o STF têm colocado limites constitucionais à ação deletéria do presidente, com apoio e luta das oposições aprovando medidas básicas de proteção da saúde e da economia popular. Mas o país precisaria estar um passo à frente, em Estado de Guerra, com reconversão da indústria e de toda economia para garantir  a saúde, a alimentação e a renda, o funcionamento básico dos serviços, do comércio e da logística nacional, a defesa das empresas pequenas e médias, da economia popular. 

É fato também que amplos setores da centro direita e das classes médias, apesar do apoio às reformas ultra-liberais, ao culto ao mercado e ao Estado mínimo, se opõem à marcha acelerada de Bolsonaro ao autoritarismo e sua politica obscurantista agora expressa na recusa da ciência e da saúde pública. Partidos de oposição assinaram, por suas lideranças, um pedido de renúncia de Bolsonaro; entidades como a OAB representaram contra o presidente na Suprema Corte; deputados pedem seu impeachment; e as janelas do país gritam Fora Bolsonaro com apoio de amplos setores dos  movimentos sindicais, populares e do campo. Dentro do governo Bolsonaro, os setores militares, hegemônicos, oscilam entre impor limites à ação de sabotagem criminosa do presidente e apoiá-lo; e na Câmara se ensaia um parlamentarismo branco às vezes vocalizado publicamente. 

Tempo esgotado

A única certeza é que chegou a hora de colocar limites à Bolsonaro e deixar claro que o pais não tolerará a continuidade suicida de sua ação politica. As pesquisas de opinião, com todas suas limitações, apontam para o isolamento e perda de apoio do presidente. É verdade que 59% se opõem à sua renúncia, enquanto 48% são favoráveis a seu impeachment. Na juventude ele não tem  apoio para  mais nada. Outro dado relevante é que a maioria da população pobre quando recebe informações de suas ações cada vez mais o rejeita. 

A questão politica institucional está colocada. Não há como escamoteá-la.  Ainda que priorizemos, na prática, o combate ao coronavírus, a saúde pública, a alimentação e a renda do povo, a solidariedade social, a atuação parlamentar na Câmara dos Deputados e no Senado, o apelo ao Judiciário e a luta nas redes, é evidente que não há como fugir do centro da crise,  que é Jair Bolsonaro. Ele que deve ser removido para o bem de todos e do Brasil, seja pelo instrumento jurídico constitucional que for, o mais cedo possível antes que sua ação criminosa e suicida leve nosso povo a uma tragédia nacional, cujo custo tem um nome, a vida. 

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