Brasil

PT é o partido mais popular nas redes

Pesquisa publicada pelo site jurídico Jota (www.jota.info) comprova que o Partido dos Trabalhadores é o mais popular nas redes sociais. Após saída de Bolsonaro, PSL perde mais de 50% de influência digital; PT se mantém como maior partido nas redes

Felipe Nunes, Fernando Meireles e Jonatas Varella (*)

O ano de 2019 talvez tenha sido o melhor e o pior ano da curta história do Partido Social Liberal (PSL). Seu candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, tomou posse contando com uma bancada partidária na Câmara composta por nada menos que 52 parlamentares. Essa influência inevitavelmente extrapolou o mundo offline: nos meses iniciais do ano, o PSL também chegou a ser o partido com maior popularidade nas redes sociais.

A ascensão do PSL, no entanto, durou pouco. Após os primeiros conflitos entre ministros ligados ao Presidente da legenda, Luciano Bivar, e os filhos de Bolsonaro, o partido desidratou nas redes. Hoje, rivaliza apenas com o Partido Democrático Trabalhista (PDT) em popularidade digital.

Todas essas informações vêm do Índice de Popularidade Digital (IPD), iniciativa que nós, da Quaest, desenvolvemos ainda em 2018 para mensurar a influência nas mídias digitais de políticos e marcas privadas.

Com dados coletados do Twitter, Facebook e Instagram e posteriormente processados por um algoritmo de inteligência artificial, mensuramos a popularidade digital dos partidos políticos brasileiros desde janeiro de 2019 para investigar como as legendas projetam poder e influência nas redes sociais. O resultado é um painel que mostra nitidamente a ascensão e a queda do PSL; a hegemonia do PT no posto de partido mais popular no meio online; e o crescimento de novas legendas, como o NOVO.

Os partidos no mundo digital

A eleição de 2018 foi marcada por dois grandes movimentos: um de renovação, que tirou cadeiras de diversos políticos experientes; e outro relacionado ao uso intensivo das redes sociais. O resultado foi disruptivo. 

Partidos que eram inexpressivos alcançaram visibilidade e poder de agenda, como foi o caso do PSL e do NOVO. Nas redes sociais, isso pode ser visualizado no gráfico a seguir, que mostra quais partidos tiveram as maiores notas médias no IPD da Quaest ao longo do ano (100 indica a máxima popularidade possível).

Entre todos os partidos tradicionais, apenas o PT se manteve com uma forte mobilização e protagonismo no cenário digital. Esse dado é ainda mais relevante quando se considera os reveses pelos quais o partido passou ao longo dos últimos anos.

Os grandes destaques do IPD, entretanto, são NOVO e PSL. O primeiro ganhou espaço por meio de uma atuação ativa nas redes sociais, combinando disseminação de propostas, live streams e memes. Já o ex-partido do Presidente surfou na onda do bolsonarismo e só não ocupa a primeira colocação no nosso ranking devido aos conflitos internos que enfrentou ao longo do ano.

A disputa entre PT e PSL ao longo de 2019

PT e PSL estiveram no centro da polarização política no último ano. Em abril, o partido pelo qual Bolsonaro foi eleito chegou a produzir o maior nível de atenção e engajamento nas redes sociais. Como fica claro pelo gráfico abaixo, que compara as notas de PSL e PT no IPD da Quaest desde janeiro de 2019, esse cenário mudou radicalmente. 

As disputas internas no PSL afetaram a imagem do partido nas redes. Com a demissão do ex-Ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebiano, a família Bolsonaro se distanciou da legenda. Negociações para que o PSL adotasse maior transparência emperraram. Depois, com a saída do Presidente da legenda, seu esvaziamento atingiu o auge.

A tendência de queda do PSL fica patente quando comparada à tendência do PT: embalado pelo crescimento da campanha “Lula Livre”, o PT só ganhou influência nas redes e, desde então, mantém-se como o partido brasileiro mais popular no meio digital. Se por um lado, as lideranças do partido têm dificuldade no cenário eleitoral em várias cidades do país; por outro, não há outro partido que consiga disputar com o PT em termos de relevância nas redes sociais. 

Trata-se do principal partido político do país, para os que gostam ou para os que o odeiam. 

O que esses dados nos dizem sobre o futuro dessas legendas?

Como já comentamos em outro texto, o IPD guarda estreita relação com o que acontece no mundo político. Encontramos uma correlação de 94% entre os resultados do IPD e a votação na eleição de 2018. Ou seja, alguém popular nas redes normalmente também é popular fora delas. 

O PT, que apresenta-se como hegemônico entre os partidos políticos comparados no meio digital, espera eleger mais prefeitos em 2020 do que em 2016. Espera que a polarização com o Bolsonaro lhe favoreça. Já o PSL, que inicialmente preencheu o vácuo deixado pelo PSDB, já sinaliza a necessidade de buscar uma nova identidade. Sem um novo posicionamento, e sem Bolsonaro, o partido tende a desaparecer. Nas redes já está acontecendo… 

(*) Felipe Nunes é Ph.D. em Ciência Política pela University of California Los Angeles (UCLA), professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em estratégia e comunicação política e Diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa. Fernando Meireles é Doutor em Ciência Política e pesquisador de Pós-Doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em análise de dados e Big Data e Head de Processamento e Análise na Quaest Consultoria e Pesquisa.
Jonatas Varella é Mestrando em Ciência Política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), metodólogo junior na Quaest Consultoria e Pesquisa e especialista em análise de dados de survey.

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