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Há trinta anos Chico, Milton e o aniversariante Tom Jobim cantavam para 25 mil pessoas no Ibirapuera

Neste sábado São Paulo faz 466 anos. Se estivesse vivo, Tom Jobim faria 93 anos. Exatamente trinta anos atrás, no dia 25 de janeiro de 1990, colocamos 25 mil pessoas no Ginásio do Ibirapuera para lançar a Universidade Livre de Música e ouvir Tom, Chico e Milton Nascimento. O presente do Nocaute para o aniversário de São Paulo é este curto vídeo, único registro disponível daquela noite inesquecível.

No começo de 1990, a equipe da Secretaria da Cultura do Estado conseguiu finalmente colocar de pé um projeto do compositor Arrigo Barnabé: a Universidade Livre de Música, concebida e instalada por Antonio Carlos Jobim. Tom morava em Nova York, mas apaixonou-se pela nossa ideia de “descobrir novos tom jobim entre a garotada pobre da periferia paulista” e topou vir a São Paulo regularmente, para orientar Arrigo e sua trupe.

Nossa inspiração era o projeto Música Viva, criado no fim dos anos 30 pelo compositor, regente e flautista teuto-brasileiro Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005). Um de seus primeiros alunos de piano e harmonia era um menino de treze anos e nome comprido, o carioca Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom. Ao longo de sua vida, Koellreutter formou e inspirou gerações de músicos brasileiros, entre os quais, além de Tom, Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Isaac Karabtchevsky, Diogo Pacheco, Caetano Veloso, Tom Zé, Edino Krieger, Clara Sverner,  Paulo Moura, Moacir Santos, Gilberto Mendes, Gilberto Tinetti, Nelson Ayres, Júlio Medaglia e José Miguel Wisnik.

Arrigo Barnabé, César Callegari, secretario-adjunto da Cultura, e eu decidimos que a inauguração da Universidade Livre de Música e a entronização de Tom como seu reitor (ou “magnificent rector”, como ele, brincalhão, preferia) teriam que ser feitas em grande estilo. O mais fácil foi escolher a data: 25 de janeiro, dia dos aniversários de São Paulo e de Tom Jobim, que completaria 63 anos. Com a ajuda de Roberto de Oliveira, produtor musical e diretor da TV Cultura, acabamos conseguindo juntar Tom, Chico Buarque, Milton Nascimento, a banda de Tom, comandada por Danilo Caymmi, e a Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, formada basicamente por jovens da periferia, regida naquela noite pelo jovem maestro Juan Serrano, que morreria meses depois, quando tinha 37 anos.

A escolha do local para o concerto, porém, foi complicada. Se fizéssemos num lugar grande e não aparecesse muita gente, a festa ia parecer um fiasco. E em um espaço pequeno, se o público fosse muito numeroso havia o risco de ocorrer algum tumulto. Acabamos optando pelo Ginásio do Ibirapuera, cujas arquibancadas comportavam quinze mil pessoas – que poderiam chegar a vinte mil se a quadra também fosse ocupada. Para desespero do tenente Henrique Grion, assessor militar da Secretaria e responsável pela logística e segurança da festa, naquela noite de quinta-feira apareceram 25 mil pessoas no ginásio. Apesar do temor de um tumulto, todo mundo entrou e se espalhou pelas arquibancadas e pelo chão sem que se registrasse um único incidente.

Salvo, é claro, se não acabasse a luz. Sim, no meio da apresentação, quando Tom Jobim, já empossado como magnificent rector, começou reger a Sinfônica Jovem, a luz apagou. Mesmo sem as caixas de som, a orquestra continuou tocando, agora acompanhada pelo coro de 25 mil vozes que lotavam as arquibancadas e a quadra central. Numa época em que não havia celular, milhares de isqueiros foram acesos pelo público, formando uma constelação brilhante que levou às lágrimas marmanjas e marmanjos.

Apesar da pane elétrica, como que por milagre, um único dispositivo permaneceu aceso durante o apagão, pairando no ar, sobre a orquestra: o discreto e elegante néon azul que mandáramos fazer com o nome da Universidade Livre de Música. Quando a luz voltou, Chico, Milton, a sinfônica e a multidão enfiaram um caco no script e passaram a entoar para Tom Jobim o “Parabéns para você”. Tomado de surpresa, o autor de “Garota de Ipanema” se levantou do piano e dançou sozinho, emocionado, fazendo evoluções pelo palco, de braços abertos e copo de uísque na mão.

Passados exatos trinta anos daquela noite inesquecível, Nocaute fez todos os esforços para localizar o vídeo completo do concerto. Nada. Os pequenos fragmentos disponíveis na Internet, além de muito curtos, têm baixíssima definição. O máximo que conseguimos, com a ajuda generosa da direção e da equipe do Departamento de Documentação da Fundação Padre Anchieta/TV Cultura, foi esse vídeo de quatro minutos, que oferecemos aos internautas como homenagem à memória e ao 93º aniversário de Tom Jobim, nosso eterno magnificent rector.

Uma alma generosa descobriu mais alguns minutos de vídeo daquela noite:

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