Avisados com antecedência de que o site The Intercept Brasil faria um programa paralelo ao Roda Viva, também ao vivo, via Youtube, comentando as perguntas da bancada e as respostas do ministro da Justiça Sergio Moro, os jornalistas Alan Gripp (O Globo), Andreza Matais (Estadão), Leandro Colon (Folha), Malu Gaspar (Piauí) e até mesmo a nova âncora, Vera Magalhães, se prepararam.
Para não serem massacrados nas redes sociais no dia seguinte, acusados de chapa branca, fizeram perguntas sobre quase tudo: Marielle, truculência de Bolsonaro contra jornalistas, o perdão a Onyx, o silêncio em torno de um discurso nazista, Queiroz, convivência com ministros acusados de corrupção, e até mesmo sobre os vazamentos do Intercept.
Moro, como sempre, agiu como um sabonete, escorregando pra lá e pra cá. Não respondia, mesmo quando o entrevistador insistia. Aprendeu a arte de enrolar, de enganar os telespectadores, de ludibriar os leitores. Quando eram diretos nas perguntas, indagando o ministro sobre atitudes bizarras de Bolsonaro, por exemplo, Moro sempre respondia que obedecia a hierarquia e que não podia fazer análises públicas do seu chefe. Chegou a dizer que não era “comentarista político”.
Enquanto isso, a turma do Intercept, do outro lado e de olho no programa, ia comentando cada pergunta, cada resposta. Curiosamente, na tela da TV Cultura, de tempos em tempos surgia um comentário em forma de tarja: “Nosso herói”, “Nosso futuro presidente”, “Moro 2022”, enquanto os comentários no Youtube, passando numa velocidade estonteante, diziam o contrário: “Fora Moro”, “Marreco de Maringá”, “Moro ladrão”. Às vezes aparecia um comentário do tipo “os entrevistadores são todos comunistas”. Coisas do Brasil atual.
No final do programa, a turma do Intercept lembrou de duas perguntas que não foram feitas e que certamente seriam, caso algum jornalista do site estivesse na bancada: “O que o senhor quis dizer com In Fux we trust?” e “porque o senhor não quis melindrar FHC?” Mas aí, Moro já estava longe e fora do ar.
Fica aqui um lembrete para quem escolhe a bancada do programa da TV Cultura: os jornalistas independentes, fora do circuito da chamada grande imprensa, também merecem ter voz ativa no Roda Viva.
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