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Furo da Folha: Mídia ignora denúncia contra secretário da Comunicação, o que distribui verbas de propaganda para a imprensa

Desde a quinta-feira (16), quando o jornal Folha de S.Paulo colocou em sua manchete de primeira página a denúncia contra o secretário da Comunicação, Fabio Wajngarten, os outros jornais e telejornais decidiram manter silêncio sobre o assunto.

É ele que divide o bolo da verba publicitária do governo entre os meios de comunicação. Desde que assumiu em abril, segundo a Folha, o secretário manteve pelo menos 67 encontros com atuais e ex-contratantes de sua empresa, FW Comunicação, inclusive encontros que exigiram viagem do secretário, pagas pelo governo.

Veja a íntegra da denúncia da Folha.

A agenda pública e os relatos oficiais de viagens realizadas pelo chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), Fabio Wajngarten, mostram que, desde que ele assumiu o cargo, teve pelo menos 67 encontros com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa FW Comunicação.

Segundo os registros, 20 viagens foram custeadas com dinheiro público para parte dessas reuniões. 

Folha mostrou nesta quarta-feira (15) que o chefe da Secom recebe, por meio da FW, da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro.

A Secom é a responsável pela distribuição da verba de propaganda do Planalto e também por ditar as regras para as contas dos demais órgãos federais. No ano passado, gastou R$ 197 milhões em campanhas.

 secretário tem 95% das cotas da FW, que tem contratos com ao menos cinco empresas que recebem do governo, entre elas a Band e a Record, cujas participações na verba publicitária da Secom vêm crescendo. 

legislação vigente proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. 

Em entrevista à Folha, Fabio Liberman, nomeado em abril para administrar a FW, disse que a firma teve negócios com SBT e Rede TV!, mas os contratos se encerraram.

Nomes ligados às emissoras e afiliadas de TV Record, SBT, Band e Rede TV! constam em 62 compromissos listados em sua agenda oficial e em suas viagens para fora de Brasília, custeadas com dinheiro público.

Os outros 5 foram com integrantes da agência Artplan, agência contratada pelo governo e que, ao mesmo tempo, paga pelos serviços da empresa do chefe da Secom.

A TV Globo, foco de críticas do secretário e do presidente Jair Bolsonaro, aparece em apenas três encontros, os últimos realizados em julho do ano passado, ocasião em que há registro de uma visita institucional de Wajngarten à sede da TV, no Jardim Botânico (RJ), para almoço com o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo, João Roberto Marinho.

O secretário também teve uma agenda com representantes do Grupo RBS, que tem 12 emissoras locais afiliadas à Globo. 

A agenda pública do chefe da Secom registra a realização de mais de 450 compromissos desde que ele assumiu o cargo, em abril do ano passado. 

Na lista de clientes ou ex-clientes estão as TVs Record e SBT, com 21 e 19 encontros, respectivamente. 

Seus donos, Edir Macedo (Record) e Silvio Santos (SBT), têm manifestado apoio a Bolsonaro.

Os dois, por exemplo, subiram no palanque do desfile de Sete de Setembro, no ano passado, e se sentaram na primeira fila junto com o presidente da República.

Apresentadores dessas emissoras têm estabelecido uma relação cordial com Bolsonaro, como é o caso de Ratinho (SBT).

Entre os executivos dessas emissoras recebidos pelo chefe da Secom estão Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, e Luiz Claudio Costa, presidente da Record TV.

Representantes de Band e Rede TV! tiveram 11 encontros, cada um, com o chefe da Secom desde abril, entre eles Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, e Marcelo de Carvalho, vice-presidente e cofundador da RedeTV!.

Record e Band possuem contrato em vigor com a empresa de Wajngarten. 

Wajngarten se encontrou com dirigentes ou representantes de emissoras e empresas em agendas oficiais no Planalto e durante viagens pagas pelo governo. 

O governo gastou R$ 147 mil em 44 viagens do chefe da Secom entre 8 de abril de 2019 e 15 de janeiro de 2020. Em 20 delas, ele se encontrou com executivos e outros funcionários de emissoras que tiveram ou têm contrato com a FW Comunicação. 

Wajngarten também se encontrou com jornalistas da Folha em 3 oportunidades durante viagens pagas pelo Executivo. A última vez foi em junho, de acordo com as informações do Portal da Transparência do governo federal. 

OUTRO LADO

Folha procurou a Secom e as emissoras de TV, além da Artplan, na noite de quarta-feira (15). 

Em nota, a Band afirmou que a empresa FW Comunicação presta serviços ao mercado de comunicação há anos. 

“A Bandeirantes tem contrato desde 17 de dezembro de 2004. Os recursos de publicidade do governo federal destinados à Band em 2019 foram menores do que os recursos destinados em 2018”, diz a emissora.

A RedeTV!, também em nota, afirmou que não mantém relações comerciais com empresas particulares do secretário. A emissora diz ainda que os contratos com a FW foram finalizados “anos antes” de Wajngarten ocupar cargo público.

Sobre as agendas com o chefe da Secom, a emissora afirmou que “todos os encontros versaram sobre temas importantes para a comunicação do governo federal, no escopo das atividades do secretário”.

O SBT informou que teve contrato com a FW até o primeiro semestre de 2019. O vínculo, segundo a assessoria da emissora, foi encerrado “por motivo de contenção de despesas”. 

A emissora controlada por Silvio Santos não se manifestou sobre os encontros entre Wajngarten e executivos e funcionários da empresa.

O diretor de Comunicação na Rede Record, Celso Teixeira, afirmou que os encontros entre representantes da empresa e o chefe da Secom foram institucionais e não trataram de assuntos privados ligados à FW.

Wajngarten e a Artplan não responderam até a publicação desta reportagem.

Anteriormente, o chefe da Secom afirmou não haver “nenhum conflito” de interesses em manter negócios com empresas que a secretaria e outros órgãos do governo Bolsonaro contratam.

“Todos os contratos existem há muitos anos e muito antes de sua ligação com o poder público”, afirmou, por meio de nota da Secom.

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