Brasil

Dois poemas pugilistas assim!

Marcílio Godoi

Semana após semana, Marcílio Godói vai captando as palavras no ar, juntando as letras e transformando em versos tortos, o dia-a-dia do nosso país.

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Um partido assim
uma marca assim
um número assim

um excludente de ilicitude assim.

Uma quadrilha assim
um discurso assim
um cadastro assim
um programa miliciano assim.

Uma ousadia assim
um descaramento assim
uma insanidade assim
um fundamentalismo explícito assim.

Um ministro assim
um advogado assim
um sigilo truculento assim
uma manipulação de provas assim.

Uma fragilidade institucional assim
um grande teste, explícito, enfim
para nossa tolerância sem fim
em sermos liquidados assim.

Num silêncio assim…

Segurança nacional

Tiros perdidos do helicóptero,
perdidos do camburão.

Tiros perdidos do coldre impune da polícia.
Tiros perdidos da truculenta 
batida do exército brasileiro.

Tiros perdidos de mandados de reintegração
expedidos por juízes com posse
e lado.

Tiros perdidos de tribunais coxos
anestesiados pelo dinheiro.
Tiros perdidos do gabinete do prefeito.

Tiros perdidos da elétrica tropa
de choque do governador.
Tiros perdidos das falas pusilânimes
do Presidente da República.

Tiros sempre achados
invariavelmente pelo povo miserável
de pé, abordado;
sentado, alvejado;
deitado, pisoteado.

Tiros sempre encontrados
pelos globos oculares de quem protesta
por melhores condições de trabalho,
por um canto onde cair morto,
ou pelo cumprimento da Constituição.

Tiros deparados por negros abordados,
metralhados para averiguações.
E por crianças quase brancas
vindas da escola
indo direto pro céu.

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