Brasil

No subsolo de um livro pode-se encontrar um retrato do Brasil

Costumo dizer às pessoas que escrever um livro é uma alegria precedida de uma maratona de exaustivo trabalho braçal: as pesquisas e, sobretudo, entrevistas.

Pois acabo de receber do Reinaldinho Tatarana Lagarta de Fogo (viga-mestra do projeto Casa de Mariana)o pré-inventário das duas primeiras caixas de fitas cassete com entrevistas que fiz para o livro “Chatô, o rei do Brasil”. Em apenas duas caixas (ao todo são dezenas delas) estão depositadas 376 fitas de uma ou duas horas de duração cada. Passei os olhos por alto na lista e me lembrei de um fato curioso: a grande maioria dos entrevistados não falava apenas de Chateaubriand, mas se estendia em longas explanações sobre o Brasil do Século XX.

Alzirinha Vargas, por exemplo, já no fim da vida, falou dez por cento do tempo sobre Chatô e noventa sobre seu pai, Getúlio, e sobre o Brasil. Juraci Magalhães falou, além de Chatô, do tenentismo e da Revolução de 30. O embaixador Hugo Gouthier falou um pouco de Chatô e muito de Juscelino Kubitschek. O banqueiro Walther Moreira Salles falou muito de Samuel Wainer, desafeto de Chatô. Otávio Frias de Oliveira (o pai) falou de Chatô e falou muito do conde Francisco Matarazzo. O resultado é que, além de exumar Assis Chateaubriand, os entrevistados acabaram desenhando um amplo retrato do Brasil do século passado. 

Alzira Vargas, Walther Moreira Salles, Antônio Callado
Jânio Quadros, Luís Carlos Prestes, José Sarney
Otto Lara Resende, Itamar Franco, Otavio Frias de Oliveira

Olhando de novo a lista, desconfiei que nessas duas caixas devem estar também algumas entrevistas feitas para outros livros (pelo menos para o “Olga”, acho). Seja como for, dê uma olhada nessa lista de personagens que selecionei a esmo, só nas duas caixas de fitas para o livro “Chatô”:      

Alfredo Machado, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, Antonio Callado, Antonio Carlos Vieira Christo, Antônio Sánchez Galdeano, Apolônio de Carvalho, Austregésilo de Athayde, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Castello Branco, Cassiano Gabus Mendes, Dario de Almeida Magalhães, Edmar Morel, Edmundo Monteiro, Ernani do Amaral Peixoto, Eugênio Silva, Fernando Collor de Mello, Franklin de Oliveira, Fred Chateaubriand, Freitas Nobre, Gilberto Chateaubriand, Goffredo da Silva Telles, Guilherme Figueiredo, Helena Lundgren, Hélio Fernandes, Hugo Gouthier, Ibrahim Sued, Israel Klabin, Itamar Franco, Jânio Quadros, Jean Manzon, João Calmon, Joaquim “Baby” Monteiro Carvalho, Joel Silveira, José Ermírio de Moraes, José Medeiros, José Pires de Sabóia, José Sarney, Júlio de Mesquita Neto, Juracy Magalhães, Leonardo Alkmin, Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Luiz Carlos Barreto, Maria da Penha Müller Carioba, Moacir Werneck de Castro, Neiva Moreira, Nelson Werneck Sodré, Orlando Villas Boas, Otávio Frias de Oliveira, Otto Lara Resende, Paulo Cabral, Paulo Niemeyer, Pietro Maria Bardi, Rachel de Queiroz, Raphael de Almeida Magalhães, Rubem Braga, Tereza Chateaubriand, Tônia Carrero, Walter Clark, Walter Durst, Walter Forster e Walther Moreira Salles.

E, finalmente, não é incomum que, de uma entrevista feita para um determinado livro, acabe nascendo um segundo livro. Foi assim, por exemplo, com “Corações Sujos”. Descobri a história da seita japonesa durante uma entrevista… para o livro “Chatô, o rei do Brasil”.

 

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