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Dilma desafia Villas Bôas: o general deve esclarecimentos à República

Em entrevista ao jornal O Globo, o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, declarou que durante o golpe contra Dilma, “dois parlamentares de partidos de esquerda” o sondaram sobre a decretação, pela presidente, do “Estado de Defesa”. Dilma Rousseff reagiu com uma nota em que exige do general da reserva “uma atitude responsável”, a começar da revelação dos nomes dos referidos parlamentares, sem o que “a responsabilidade cabe ao general e à sua assessoria parlamentar”.

Leia, a seguir, a pergunta feita pelo repórter Thomas Traumann (que foi ministro de Comunicação Social do governo Dilma) e a resposta do general Villas Bôas. E, em seguida, a íntegra da nota da ex-presidente.

Thomas Traumann – Houve algum risco de decretação de “Estado de Defesa” durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff?

General Villas Bôas – Esse episódio ganhou uma versão que não é totalmente verdadeira. Ao longo do processo de impeachment, dois parlamentares de partidos de esquerda procuraram a assessoria parlamentar do Exército para sondar como receberíamos a decretação de um “Estado de Defesa” (possibilidade constitucional na qual o presidente decreta por 30 dias situação emergencial restringindo direito de reunião e de comunicação). Confesso que fiquei preocupado, porque vi ali uma possibilidade de o Exército ser empregado contra as manifestações. Contudo, corre uma versão de que a presidente Dilma teria me chamado e determinado a decretação do “Estado de Defesa”, e eu teria dito que não cumpriria. Isso não aconteceu. Mas que houve a sondagem, ela de fato houve.

Íntegra da nota oficial da ex-presidente Dilma Rousseff:

Sobre as declarações do General Villas Boas

As declarações do General Villas Bôas, em entrevista ao jornal O Globo, exigem dele uma atitude responsável e, para tanto, é necessário que:

1. Apresente os nomes dos “dois parlamentares de partidos de esquerda” que, segundo ele, “procuraram a assessoria parlamentar do Exército para sondar como receberíamos (o Exército sic) a decretação de um Estado de Emergência”. Se isso ocorreu é imprescindível o nome dos deputados pois que eles devem esclarecimentos ao País. Caso contrário, a responsabilidade cabe ao general e à sua assessoria parlamentar.

2. Explique por que, se ficou preocupado, não informou as autoridades superiores, Ministro da Defesa e Presidente da República — Comandante Supremo das Forças Armadas — sobre o fato de dois integrantes do Legislativo sondarem a assessoria parlamentar do Exército sobre um ato contra a democracia, uma vez que contrário ao direito de livre manifestação? Por que não buscou esclarecer se a iniciativa dos deputados contava com respaldo da Comandante das Forças Armadas? Não respeitou a hierarquia?

A intervenção militar contra a democracia é um golpe. A minha vida é prova do meu repúdio político e repulsa pessoal a essa etapa da história do País. Jamais pensei, avaliei, considerei, fui sondada para qualquer possibilidade ou alternativa, mesmo que remota, a esse tipo intervenção antidemocrática.

Os golpistas são aqueles que apoiaram a nova forma de golpe, ou seja, um processo de impeachment, sem crime de responsabilidade e o meu consequente afastamento da Presidência da República.

O Senhor General deve à República, a bem do Estado Democrático de Direito, esses esclarecimentos.

Dilma Rousseff

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