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Morre, aos 81 anos, o ex-governador Alberto Goldman

Faleceu hoje no Hospital Sírio Libanês, aos 81 anos, o ex-deputado, ex-ministro e ex-governador de São Paulo, em decorrência de problemas vasculares cerebrais. Goldman fora submetido na noite de 19 de agosto a delicada cirurgia cerebral. Em julho Goldman sofrera uma inesperada alteração de pressão arterial, tendo sido transportado de helicóptero de São José dos Campos, onde se encontrava, até São Paulo.

Ex-militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro, Goldman tinha 81 anos e filiou-se ao MDB em 1970, partido no qual permaneceu por quase três décadas, até filiar-se ao PSDB em 1997. Exerceu seis mandatos de deputado federal e foi secretário de Estado, ministro, vice-governador e governador de São Paulo.

Nos últimos meses Goldman vinha protagonizando uma polêmica pública com o hoje governador João Dória, acusando-o de recorrer a métodos aéticos para assumir o controle do PSDB em São Paulo. Em resposta a uma provocação de Dória, Goldman respondeu: “Comecei minha vida política na década de 1960, lutando para o Brasil ter um regime democrático, enquanto ele só pensa em dinheiro”. O grupo ligado a Dória retrucou pedindo a expulsão de Goldman do PSDB.

Goldman talvez tenha sido o mais importante político de esquerda na efetivação da estratégia de transição para a democracia. Não só foi um expoente do MDB como teve papel ativo ao afirmar a necessidade de que anistia fosse recíproca entre aspas.

Soube identificar oportunidades de avanço democrático em aliança com Orestes Quércia, que era visto com reservas pelos setores mais à esquerda da sociedade. Teve papel fundamental também ao convencer Quércia da necessidade política de conceder legenda para senador ao desconhecido professor Fernando Henrique Cardoso. Havia duas vagas, mas Montoro preferia concorrer sozinho. Quércia convenceu o segundo candidato, o vereador campeão de votos Samir Achoa, a abrir mão de sua candidatura em benefício de FHC.

Foi também a dupla Quércia-Goldman que tomou a iniciativa de dobrar os setores mais conservadores do partido e garantir legenda para um grupo de jovens lideranças intelectuais e católicas de esquerda que pretendia disputar as eleições de 1978. Entre eles estavam Antonio Rezk, Eduardo Suplicy, Benedito Cintra, Irma Passoni, Geraldo Siqueira, Sérgio Santos, Flávio Bierrenbach e Fernando Morais.

Goldman integrou uma missão parlamentar “rebelde” que foi a Cuba em 1980 sem autorização oficial para pressionar o governo brasileiro a normalizar as relações diplomáticas com aquele país.

Como secretário de Administração do governo Quércia, foi autor do decreto que pela primeira vez atribuía autonomia financeira para as universidades públicas.

Ligado à intelectualidade, foi Goldman quem propôs e instaurou uma comissão de inquérito para apurar irregularidades na USP, identificando-as no setor de construção da Prefeitura Universitária, na gestão das heranças vacantes e no uso indevido é privado da logomarca da universidade

Hábil político nas articulações de cúpula, sempre conseguiu garantir para si um lugar de destaque na máquina partidária.

O corpo de Alberto Goldman será velado, segunda feira, das 8 às 14h, na Assembleia Legislativa. O enterro será às 15h no Cemitério Israelita do Butantã.

Os Goldman do meu baú:

Vasculhando os arquivos, na correria, achei estas três fotos do Goldman, em três momentos diferentes do tempo em que fazíamos parte da mesma tribo.

Fundação do PMDB: Quércia, Montoro, Covas, Fernando Henrique, Ulysses Guimarães, Robson Marinho, Freitas Nobre, Goldman e Fernando Morais.
Goldman, Marcelo Bairão, Fernando Morais, Carlos Alberto Dória, Sergio Santos e Haydée Santamaría, em Cuba, 1980.
Comício da campanha “Diretas Já”: José Ibrahim, Alberto Goldman e Fernando Morais.

O chamados anais da História

Nesta reportagem de junho de 1982, o jornal Gazeta Mercantil
revela os bastidores da conspirata da esquerda para impedir que o setor montorista do PMDB lançasse uma chapa puro-sangue e rachasse o partido.

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