Um artigo publicado na edição que começou a circular hoje da revista inglesa The Economist, uma das mais influentes do mundo, mostra que a política ambientalista do governo de Jair Bolsonaro está completamente equivocada.
A fumaça preta do Amazonas que deixou São Paulo ainda mais cinza no início da semana, é fruto de queimadas e para enfrentar as queimadas e a destruição da floresta, o presidente demite um respeitável físico, Ricardo Galvão, porque não acredita nos números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, que ele dirigia.
Deu no The Economist
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No meio da tarde de 19 de agosto, na maior cidade da América do Sul, o céu ficou escuro. Sob uma nuvem negra e espessa, às 3 da tarde, as luzes piscaram nos arranha-céus de São Paulo. Nas rodovias, as luzes de freio nos para-choques começaram a brilhar no trânsito da cidade. Muitos paulistanos estavam preocupados. Usuários de mídia social postaram fotos da escuridão, justapondo o céu da tarde distópico com lugares fictícios apocalípticos como Gotham City de “Batman”, Mordor de “O Senhor dos Anéis” e “o de cabeça para baixo” de “Stranger Things”.
Meteorologistas se esforçaram para explicar o que estava acontecendo. Mas a explicação mais provável, a mais aceita pela maioria, é que os incêndios queimando longe na floresta tropical eram os responsáveis. Climatempo, um popular site privado de meteorologia, relatou que uma frente fria trazia nuvens baixas que, em seguida, combinaram com a fumaça para formar a densa neblina negra. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os incêndios florestais são mais comuns do que nunca. O número detectado até agora este ano é 84% maior que no mesmo período do ano passado. Pouco mais da metade dos incêndios está na Amazônia.
Durante a estação seca da Amazônia, é comum os agricultores colocarem fogo ilegalmente para limpar a terra. O presidente populista do Brasil, Jair Bolsonaro, os encorajou enfraquecendo as agências que fazem a fiscalização ambiental. Ele acredita que proteger a floresta impede o desenvolvimento econômico. Quando perguntado sobre os incêndios, respondeu ridiculamente acusando as ONGs ambientalistas de atearem elas mesmas o fogo de modo a fazer que seu governo parecesse ruim, em retaliação aos cortes no orçamento.
O Sr. Bolsonaro argumenta que ele está lutando uma “guerra de informação” sobre a Amazônia. Diz querer que governos estrangeiros e ONGs parem de se intrometer no Brasil. Depois que o Inpe divulgou dados mostrando aumento do desmatamento em julho, o presidente afirmou que os números eram falsos. Em seguida, demitiu o chefe da agência, Ricardo Magnus Osório Galvão, um respeitado físico.
Tal beligerância ultraja cientistas e ambientalistas. “Demitir o diretor é um ato de vingança contra aqueles que expõem a verdade”, diz Marcio Astrini, do Greenpeace, grupo de pressão ambiental. Mas a destruição da floresta tende a ficar fora de vista, para muitos brasileiros, a maioria dos quais vive em grandes cidades perto da costa. A escuridão trouxe o desmatamento para a porta deles. “Não temos muito tempo”, escreveu um colunista no jornal Folha de São Paulo. “A noite cairá sobre todos nós.” ■
Este artigo apareceu na seção das Américas da edição impressa sob o título “Darkness on the edge of town”
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