“O que está me perturbando mais é que eu sei que o Sergio Moro está tentando me investigar, que a Polícia Federal quer me prender. Eles estão usando a linguagem de criminalizar o jornalismo, falando que nós somos ‘aliados do hacker’, quase me acusando de envolvimento no que acham que foi um hackeamento.” São palavras do jornalista Glenn Grenwald, em entrevista ao portal UOL, um dia antes da Polícia Federal prender os supostos hackers de Araraquara. O que aconteceu nas últimas 24 horas?
O site The Intercept divulgou novos diálogos envolvendo procuradores da operação Lava Jato, principalmente Deltan Dallagnol.
O primeiro, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo na manhã de sexta-feira (26), revela que o procurador Deltan Dallagnol recebeu 33 mil reais para realizar uma palestra na empresa Neoway, empresa investigada pela Lava Jato. Depois da palestra, a Neoway prestou serviços de tecnologia à Lava Jato. Dallagnol se defendeu dizendo que não sabia que a empresa estava sendo investigada e comentou, num dos vazamentos, disse: “Vai ser um pepino pra mim”.
O segundo vazamento foi divulgado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, em seu programa O É da Coisa, na Rádio BandNews, na noite de sexta-feira. No vazamento, a assessora da XP, Debora Santos, acerta com Dallagnol, não uma palestra, mas um encontro reservado com banqueiros e investidores brasileiros e estrangeiros. Apesar de Dallagnol perguntar se o encontro seria remunerado, não se sabe se ele recebeu por isso.
No vazamento, a assessora diz a Dallagnol que o juiz Luiz Fux, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, já tinha feito um encontro desse tipo. Ontem, em depoimento a policia federal, um dos hackers de Araraquara, conhecido como Vermelho, que era filiado ao DEM (foi expulso assim que a notícia chegou à mídia), disse que entrou em contato com a ex-Deputada Federal Manuela D’Ávila, do PSOL-RS, e que teria sido ela quem passou o contado do jornalista americano, Glenn Grenwald, aos supostos hackers. Na noite, de sexta-feira, Manuela confirmou a informação, mas disse que nunca soube quem era a pessoa (ou hacker) que havia entrado em contato com ela por telefone.
Uma parte da mídia, principalmente o jornal Folha de S.Paulo, o site UOL, a revista Veja, a Rádio BandNews e os blogs independentes, estão publicando todos os conteúdos vazados e divulgados pelo Intercept. O outro lado, principalmente a Rede Globo de Televisão, os jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, estão ignorando o conteúdo das mensagens vazadas e atendo-se apenas ao lado policial da questão.
