Um dia depois de ser derrotado na eleição da Mesa da Câmara – para qual elegeu-se Rodrigo Maia, contra a vontade do Planalto – o governo deu o troco no Senado. Após denunciar um “processo de corrupção” (apareceram 82 votos, quando há apenas 81 senadores), Renan Calheiros retirou sua candidatura, permitindo a vitória do desconhecido Davi Alcolumbre (DEM-AP), apoiado por Bolsonaro.
Após uma conturbada votação, com “sequestro” da pasta de condução dos trabalhos pela senadora Kátia Abreu (PDT-TO), recurso ao STF e votação anulada por suspeita de fraude, o plenário do Senado elegeu na noite deste sábado (2), Davi Alcolumbre (DEM-AP) como presidente da Casa até janeiro de 2021. Alcolumbre recebeu 42 dos 77 votos.
A vitória se deu depois da renúncia do até então favorito, Renan Calheiros (MDB-AL), que se retirou da disputa sob o argumento de que pressões antidemocráticas lhe suprimiram votos. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Renan chegou a citar os senadores José Serra (PSDB-SP), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Senador de primeiro mandato, Alcolumbre teve uma atuação inexpressiva nos primeiros quatro anos de mandato no Senado. O novo presidente contou com o apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também filiado ao DEM.
Aos 41 anos, Alcolumbre foi vereador em Macapá, três vezes deputado federal e chegou ao Senado em 2015. Nas eleições de outubro passado, concorreu ao governo do Amapá e ficou em terceiro lugar.
Eleição
A eleição para a Presidência do Senado foi marcada por um embate sobre se a votação seria aberta ou secreta. Ontem (1º), após cinco horas de sessão, a maioria dos parlamentares decidiu pelo voto aberto. Mas uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli determinou que a votação deveria ser secreta.
A eleição foi feita em cédulas e teve que ser realizada duas vezes, pois na primeira apuração foi encontrada uma cédula a mais na urna. Após ser suspensa ontem, a sessão começou hoje por volta das 12h.

Flávio Bolsonaro comemora a vitória de Davi Alcolumbre como presidente do Senado (Foto: EBC)
Renan e aliados
O resultado representa uma vitória do governo, mas as desavenças com Renan e aliados podem trazer problemas para a gestão de Jair Bolsonaro.
Para aprovar a principal medida do início de sua gestão, a reforma da Previdência, o governo precisa do apoio de pelo menos 60% dos deputados federais e dos senadores.
O governo tentará trabalhar também em outros temas prioritários que dependem do Congresso, como o pacote de combate à corrupção e à criminalidade que está sendo montado pelo ministro Sergio Moro (Justiça).
O grupo de Renan, que ainda tem relativo poder no Senado, pode trazer problemas para a aprovação dessas pautas.
Em seu discurso de vitória, Davi citou Renan e prometeu não fazer revanchismo, defendeu a proposta de reformas e disse que vai priorizar os “anseios das ruas” em detrimento da “troca de conchavos das elites partidárias.”
O novo presidente do Senado também disse que combaterá a “intromissão amesquinhadora do Poder Judiciário”.
