De acordo com especialistas em segurança pública consultados pelo jornal El País, o plano de segurança do presidente eleito Jair Bolsonaro tem potencial de multiplicar as milícias e grupos de extermínio.
Segundo a reportagem, o programa do ex-capitão se apoia em três propostas que podem aumentar a violência: permitir que a polícia mate mais e fique impune, flexibilizar o porto de armas e endurecer o código penal para acabar com as progressões de regime e prender mais.
Para Daniel Cerqueira, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e conselheiro do Fórum de Segurança Pública, um menor controle social do uso da violência deixaria os policiais livres para subornar ou se unir a grupos de extermínio e milicianos: “Quando falam que a polícia vai matar sem controle, estão pregando uma ação criminosa, que não sigam o Estado Democrático de Direito. Vamos sentir saudades de quando só traficantes eram o problema”.
Ignacio Cano, sociólogo da Universidade do Estado de Rio de Janeiro (UERJ), afirma que o discurso de Bolsonaro somado ao do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witel, que pretende “devolver o poder aos policiais”, “manda mensagem de descontrole e autonomia totalmente contrária à lógica militar tradicional. (…) Talvez nem precise de grupo de extermínio. No Rio, a polícia já faz esse trabalho”.
Silva Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes, diz que a violência policial “sempre vem acompanhada de corrupção”: “se tem autorização para matar, também tem para extorquir, porque ele troca segurança por dinheiro”.
Para Jaqueline Muniz, antropóloga e cientista política da Universidade Federal Fluminense (UFF), a política de segurança de Bolsonaro causará mais mortes também entre os policiais. “Se todo encontro com a polícia vai ser violento, sem a possibilidade de rendição, então vou levar o outro comigo. Pode ser a polícia ou a vítima. Isso já acontece, mas veremos isso de uma maneira ainda mais perversa. Policiais vão virar zumbis de policiamento, mortos-vivos”.
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