Terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, atrás apenas da Boeing e da Airbus, o filé mignon da Embraer está sendo vendido à americana Boeing pela merreca de US$ 3,8 bilhões – quase dez por cento de todo o capital público investido na empresa ao longo dos anos. Nocaute entrevista três especialistas sobre o assunto.
Sessenta anos atrás, quando o Brasil ainda importava privadas e arame farpado, o marechal-do-ar Casimiro Montenegro sonhou: “Um dia este país ainda será uma potência aeronáutica”. Foi dado como louco, mas realizou seu sonho: criou o ITA e o primeiro embrião do que viria a ser a Embraer.
Passado quase meio século, a Embraer é a terceira maior empresa do mundo na fabricação de aviões comerciais, atrás apenas da Boeing e da Airbus. É a única de tal porte no hemisfério sul, e conta atualmente com cerca de 15 mil funcionários de altíssima qualificação. É o maior pólo gerador de tecnologia da América Latina.
Pois na calada da noite, no breu das tocas, em plena Copa do Mundo, na véspera do jogo do Brasil contra a Bélgica, o governo anunciou a venda da Embraer para a americana Boeing. Mais precisamente, vendeu o controle de 80% de sua divisão de jatos comerciais. Ou seja, o filé mignon da empresa.
A Boeing pagou pelo negócio a merreca de US$ 3,8 bilhões. Para se ter uma idéia do que isso significa, basta lembrar que, ao longo dos anos, o BNDES injetou na empresa quase dez vezes o valor pela qual ela está sendo vendida agora. Sim, o que a Boeing pagou pela Embraer equivale a 10 por cento do que o governo investiu na empresa. Dinheiro público, dinheiro nosso. Seu dinheiro, meu dinheiro.
Além dos aviões, a Embraer também desenvolve importantes sistemas de defesa do Brasil que agora ficarão nas mãos dos EUA.
As empresas correm contra o tempo para fechar a venda ainda no governo Temer, como fizeram com o Pré-Sal. Têm que vender tudo o que puderem até a meia-noite do dia 31 de dezembro, derradeira hora da permanência dos golpistas no poder.
O Nocaute falou com três especialistas para saber o significado dessa venda: o professor da UFABC, Demétrio Toledo, o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos, Ivanil Barbosa, e o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Campos.
Veja o que eles têm a nos dizer sobre mais esse crime que Temer e seus golpistas cometem contra o Brasil e os brasileiros.
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José Eduardo Garcia de Souza says:
Ao mencionar as injeções de dinheiro do BNDES na Embraer, a nota “esquece” de mencionar que, em 2014 – em plelo governo Dilma – a Odebrecht liderou o ranking dos empréstimos do BNDES no período, com US$ 5 bilhões, abocanhando 41% do bolo, para financiar suas exportações a governos e empresas estrangeiras. Foi seguida pela Embraer, com US$ 4,9 bilhões (não dez vezes o valor da venda, como afirmou a nota) Andrade Gutierrez (US$ 802 milhões), Queiroz Galvão (US$ 254 milhões) e Camargo Corrêa (US$ 216 milhões).
Mais ainda, o setor militar da EMbraer não foi vendido e será mantido sob empresa própria 100% nacional. .
NELSON ANTONIO COELHO DA ROCHA says:
Esses idiotas do Nocaute distorcem os fatos e esquecem os bilhões roubados pelo Lula e seis asseclas. Muito conveniente. Babacas, quem lê essas bobagens s não são só seus militantes, tem também gente inteligente.
José Emílio says:
O empréstimo do BNDES de US$ 5 bilhões para a Odebrecht não significou “doação” de nossas riquezas/propriedades/dinheiro público a estrangeiros; mas propiciou investimentos no exterior, que redundaram em milhões de empregos para brasileiros que trabalharam nessa empresa mundo a fora, além de incrementar a participação da engenharia brasileira em diversas áreas de engenharia no exterior. Aliais, esse foi um dos motivos do Golpe: eliminar a Odebrecht do mercado internacional, onde “atrapalhava” (superava) as empresas de engenharia dos EUA.
Cristina says:
Você tem prova que Lula roubou? Se tiver entregue para o Moro porque ele está desesperado atrás de uma! Se não tiver está cometendo crime ao acusar alguém sem provas!
luis macedo neto says:
Profundo e equilibrado sua resposta José Emílio.
jose carlos lima says:
Nelson, vai estudar sobre imperialismo, há muitos autores, inclusive de direita, assim você passara a pensar com a cabeça e não com o figado: assim você ficará sabendo o quanto é importante a defesa do interesse nacional. Xingar é coisa de quem não consegue argumentar.
Roseane Rezende de Britto says:
José Emílio, ainda bem que existe ser pensante ainda aqui no Brasil, parabéns. Já os daí de cima são uma lástima.Chega a dar pena brasileiros desinformados defendendo o fim do nosso patrimônio público. Gente como essa é co-partícipe da nossa miséria como país.
Fernando Morais Santos says:
São coisas diferentes no contexto. Pode-se abrir debate sobre isso também, mas o que a boeing pagou é sim, dez por cento do que o BNDS imvestiu, fora outros investimentos. Muna-se de argumentos sólidos e venha para o debate. (e deixe o ranço de lado).
Fernando Morais Santos says:
Tire a venda de seus olhos e jogue o ódio fora. use argumentos e não discursos veja-globalizados.
Se Moro e sua tropa condenaram Lula (imoralmente) por “convicção” como se pode afirmar “bilhões roubados”.
Pare de matraquear e traga fatos, e nao FAKE.
jorge de souza santos says:
Caro Fernando Morais ótima essa matéria comentando a compra da Embraer pela Boeing. Com todo respeito, eu faria uma correção. A venda não foi realizada na calada da noite. O interesse da Boeing é antigo, o anúncio da proposta de compra foi feito no final de 2017 e, a partir daí, o assunto tem rolado.
A Embraer foi privatizada em 1994, no governo Itamar Franco e o Estado ficou com o poder de veto sobre as alterações do controle do capital da empresa. O governo atual chegou a levantar objeções, mas a verdade é que essa história de “golden share” é uma piada. A transação não sofreu veto, até onde eu sei.
É triste constatar a nossa fragilidade política, fragilidade de oposição às situações desse tipo. Os sindicatos têm se manifestado contra, assim como foram contra a privatização. Mas, nada disso tem sido suficiente para barrar essas transações. A rigor foi uma transação comercial corriqueira na economia capitalista. A Boeing deve ter pago um bom preço, possivelmente pagou o preço de mercado, e a venda deve ter sido uma boa opção para os acionistas. Quem perde é o país. Hoje, no conjunto de 18,5 mil empregados da Embraer estão incluídos cerca de 4000 engenheiros. Imaginar que serão mantidos núcleos de desenvolvimento de tecnologia no Brasil por força de ação governamental e uso da “golden share” é acreditar em conto da carochinha. Vai-se mais um núcleo de pesquisa e desenvolvimento, como já foram outros junto com as demais estatais privatizadas.
Nesse processo há uma figura que sempre é idolatrada, quase consensualmente, o ex-ministro Osires Silva, fundador da Embraer e uma referência na área. Para mim ele tem tido uma atuação bem escrota. Osires apoiou a privatização da Embraer e é um dos apoiadores da venda para a Boeing. Os seus argumentos demonstram mais uma espécie de vaidade tecnocrata do que uma preocupação com um projeto estratégico para o país.
O último número da revista Pesquisa FAPESP publicou três artigos muito interessantes sobre o caso Boeing – Embraer. São três matérias serias que fazem um bom apanhado das questões que envolvem o caso e com alguns quadros sinópticos bem interessantes.