Brasil

Governo Temer alcança os piores índices de violência no campo


Paulo César Moreira: A violência no campo no Brasil é estrutural e histórica porque faz parte de um processo de expropriação de territórios, de negação do uso do campo e de expulsão de diversas comunidades, de todos os tipos, indígenas, quilombolas, posseiros, sem-terra que querem acesso a terra, e também uma violência sobre as comunidades que já estão assentadas. Isso vem de um processo longo, também pela conivência, inoperância intencional do Estado, inoperância também do poder Judiciário, que acaba perpetuando a situação de impunidade.
Alexandre Conceição: Mais de um ano do golpe, e o desmonte da política agrária é avassalador. Primeiro foi o fechamento do Incra, depois o corte no orçamento da reforma agrária, tirando recurso de obtenção de terra, da educação no campo, também da assistência técnica, mais de 450 mil famílias eram atendidas pela assistência técnica e neste ano nem 50 mil serão atendidas. Estamos assistindo, através desse golpe, a um desmonte completo da reforma agrária e das políticas agrícolas que fortalecem a agricultura familiar, que produz mais de 70% do alimento no Brasil.
Marcio Astrini: Temer, como todo mundo sabe, comanda um governo totalmente cambaleante. Ele acorda presidenta da República e ninguém sabe se termina o dia ainda no cargo. Faz qualquer coisa, precisa desesperadamente de votos no Congresso. Esse “qualquer coisa” e esse “precisar desesperadamente” abriu um balcão de negócios, uma janela de oportunidades para bancadas como a ruralista tirar do fundo da gaveta projetos de lei absolutamente absurdos e colocar nessa negociação. Temer vem recebendo esses projetos de bom grado e transformando aquilo que, pelas vias normais, não conseguiria vingar, em legislação.
Katia Brasil: A MP 759 é chamada de MP da grilagem, ela veio para regularizar todas aquelas áreas que foram griladas ou invadidas, e são terras da União. O governo sancionou recentemente. E o que vai acontecer? Vai aumentar os conflitos, principalmente na região sul da Amazônia, ali no triângulo entre Rondônia, Mato Grosso e Pará.
Paulo César Moreira: É uma política, que vem a partir dessa MP, para beneficiar o mercado de terra, para disponibilizar mais terras para o mercado e cumprir, nessa submissão total do governo, a pauta dos ruralistas.
Marcio Astrini: Nós temos consequências gravíssimas para esse pacote de legislações absurdas que estão sendo propostas. Uma delas, na área ambiental, é o óbvio impulsionamento ao desmatamento, principalmente na Amazônia. Isso deve acontecer de forma severa, infelizmente. Mas tem um outro dado que é muito preocupante, que chega a nós através de algumas organizações: os índices de violência crescentes. A Global Witness já revelou que no ano de 2016, um quarto de todos os assassinatos que ocorreram no mundo, aconteceram aqui no Brasil. Outro dado, da CPT, que mede violência e assassinatos no campo há 30 anos, já dá 2017 como o início de ano mais violento da série histórica.
Alexandre Conceição: Os latifundiários agora se acham no direito de matar. E utilizando não só as milícias particulares, mas também a força do Estado. Inclusive, em Pau D’Arco, foram os militares que foram contratados para matar.
Marcio Astrini: Nesse um ano de governo Temer, os absurdos já qualificam esse presidente como talvez o pior da história a ter ocupado a cadeira presidencial para essa agenda socioambiental.

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    “Salve lindo pendão da esperança!
    Salve símbolo augusto da paz!
    Tua nobre presença à lembrança
    A grandeza da Pátria nos traz
    Recebe o afeto que se encerra
    Em nosso peito juvenil
    Querido símbolo da terra
    Da amada terra do Brasil!!”
    Esse hino me vem à mente, nos momentos de maior desolação.

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