Por Gabriel Priolli
A Folha de S.Paulo publicou a nova versão de seu Projeto Editorial. É a sétima, desde que começou a explicitar a sua visão de mundo para o público, em 1981.
Como os documentos anteriores, o Projeto Editorial 2017 analisa o cenário mundial e o brasileiro nos planos da economia, da política e das comunicações, para apontar o papel do jornalismo e da Folha na informação da sociedade, e na mediação do debate público.
É sempre muito interessante observar a autoimagem que a imprensa cultua, seja em documentos como esse ou nos seminários de jornalismo que ela frequentemente promove.
Projetos editoriais permitem enxergar como pode ser vasta a distância entre a intenção e o gesto, mesmo quando a intenção é a melhor possível e o gesto é totalmente exequível.
A Folha acredita, por exemplo, que o seu jornalismo “se desenvolve num registro crítico, apartidário e pluralista”.
Diz que a “sua singularidade na imprensa brasileira se traduz na abrangência com que interpela e problematiza os poderes instituídos na esfera pública e privada, estendendo sua voz inquisitiva às mais diversas direções, inclusive à própria mídia.”
A Folha pondera que “praticar o pluralismo não significa abrir mão da apuração factual, mas entender que, muitas vezes, existe uma dimensão sujeita a controvérsia, a ser contemplada em termos de dosagem, perspectiva e proporção”.
A Folha estabelece como princípio editorial “manter atitude apartidária, desatrelada de governos, oposições, doutrinas, conglomerados econômicos e grupos de pressão”.
E a Folha também se compromete a “estabelecer distinção visível entre material noticioso, mesmo que permeado de interpretação analítica, e material opinativo”.
É uma lástima que milhões de brasileiros, muitos dos quais já foram seus leitores e mesmo assinantes, não enxerguem a Folha de 2017 com esse mesmo óculos cor-de-rosa.
Talvez fossem mais felizes, se não vissem como a Folha fez e faz jornalismo de campanha há mais de dez anos, desde o Mensalão; como ela é implacável com o PT e indulgente com os tucanos; como lutou pelo impeachment de Dilma e pela imposição dessa agenda neoliberal que corta direitos todos os dias; enfim, como ela pratica a sua forma tão peculiar de apartidarismo e isenção.
Acreditar na isenção do jornal e na sua pretensão de ser uma verdadeira praça pública, efetivamente plural e aberta ao debate, exigiria anular todo o conhecimento acumulado por uma importante ciência humana, a semiótica.
Qualquer iniciante no estudo dos signos verbais e visuais, e da sua interação, pode identificar em uma única capa da Folha muitas violações do seu belo ideário.
Porque a Folha e os outros jornais opinam o tempo todo, discriminam, valorizam, excluem, priorizam, manipulam, induzem e objetivamente dirigem a visão do leitor.
E fazem isso na mera escolha do que consideram digno de noticiar, nas fontes que julgam autorizadas, na disposição dos elementos nas páginas, nos múltiplos significados que produzem com a mistura de tudo isso – sem precisar de um único adjetivo, um único juízo de valor.
Na sua autoimagem gloriosa, que é a mesma de toda a imprensa corporativa brasileira, a Folha ao menos indica um caminho para o cidadão sair do buraco em que ela ajudou a meter o país.
Se cada um comprá-la pelo que ela acha que vale e vendê-la pelo que de fato ela tem valido à democracia brasileira, vai sobrar dinheiro até para emprestar.

WALDOMIRO PEREIRA DA SILVA says:
Depois dos Gaspari trazendo seu apoio ao Temeroso fica dificil acreditar que a FOIA mudou algo. Pra mim ainda é o fim de tarde, já anoitecendo.
Carlos Alberto says:
Consagrado o Golpe virá o passo seguinte do “apaziguamento de ânimos”. Logicamente será necessário continuar vendendo jornais e revistas, vender os Leitores aos anunciantes de produtos e do próprio Golpe para os mais abrangentes segmentos políticos. Para o negócio funcionar será necessário iniciar a construção (reconstrução não é o termo correto porque nunca haverá isenção da parte forte de nossa imprensa como a história nos mostra) de uma imagem de IMPARCIALIDADE. Agora este caro princípio do jornalismo passa a ser importante, já que atingiram os objetivos tramados desde 2009. Vivemos tempos de altíssimo Relativismo, fluidez completa de princípios, deterioração do contrato social.