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BocaLivre: seu restaurante preferido serve jabá?



O que a gente pode concluir é que aquela fronteira entre conteúdo editorial e publicidade sumiu, pelo menos em gastronomia sumiu. A informação passou a ter valor e há pessoas que vendem mesmo.

Dória – Nós estamos aqui no The Little Coffe Shop, e é ‘little’ mesmo, tem dois metros, uma coisa assim. E a Flávia foi eleita a melhor barista do ano, pelo Comer e Beber da Veja. E nós estamos aqui eu e JB para conversar sobre jabá. Não a carne de sol, mas aquela grana, que corre de uma maneira disfarçada no meio da imprensa. Nós vamos falar do jabá em gastronomia. O JB teve um blog chamado Boteco do JB, e hoje tem um que se chama Edifício Tristeza. E você lendo você vê que às vezes é uma tristeza mesmo.

JB – É, é bem ruim.

Dória – Mas ele é um sujeito que fala bem e que fala mal dos restaurantes. Mas você que é um cara que fala bem e fala mal, que experiências você tem?

JB – O Dias Lopes quando assume a Gula, acho que foi Thomas Santos Correa que fundou né? Ele cria o modelo do jabá das revistas. Onde as revistas aceitam anúncios dos donos de restaurantes. Depois vem os Prazeres da Mesa, outras revistas, tudo viciado. E é uma época onde a única coisa que importava era o prêmio da Veja. E os jurados da Veja trabalhavam nas revistas. Então é um círculo vicioso comprometido. É uma espécie de jabá, e é burro porque poderia ir atrás de empresas que têm muito mais dinheiro. Felizmente hoje todas as revistas perderam relevância, acabou tudo. Daí você entra no jabá eletrônico. Muita gente tem conta de twitter, instagram. Gastrônomos são os novos blogueiros de moda. Eles aceitam convites e vendem publicidade em forma de conteúdo. Mas o jabá também parte dos Chefes de cozinha. São Chefes que, alguns se comportam como pilotos de fórmula 1, com dólmã, com nome em marca de café em cápsula. A gente está numa cafeteria né? Isso é uma vergonha, porque é papel do Chef educar, daí ele deixa de educar pra servir um negócio ruim e ganhar dinheiro.

Dória – Eu acho que esse negócio de educar é idealismo nosso JB. Os caras continuam servindo salmão de granja, continuam servindo panga, continuam servindo aquele Sant Peter.

JB – Tilápia né, dão um nome glamouroso.

Dória – Frango, essas coisas todas, essa merda toda eles continuam servindo. Mas vamos voltar à coisa do jabá. O negócio que você falou do blog, do instagram, por exemplo, é muito interessante, porque hoje você tem um promo post. Que é um conceito publicitário, que é você publicar notícias, posts que parecem notícias, mas são anúncios pagos né? Quer dizer, isso é uma coisa incrível.

JB – O maior problema é quando conteúdo se confunde com publicidade. E é essa a ideia do promo post, é confundir quem está te acompanhando. Isso é de uma desonestidade intelectual tremenda.
Dória – Eu sempre discuti com esses críticos de gastronomia, os mais tradicionais, a coisa de não serem anônimos né? Acho que é uma coisa bastante complicada, se eu tenho uma convivência com um chefe, com um restaurante, essa relação tende a ser promíscua. Eu acho. Então, você vê, tem críticos que são identificados há vinte, trinta anos aí, é difícil eles fazerem um trabalho independente.

JB – A internet hoje acabou com o anonimato, o anonimato é uma utopia. São outros tempos. Mas sim, quanto menos relacionamento com o Chef, é melhor. Eu escrevo sobre restaurantes, costumo dizer que eu tenho amigos que produzem uma coisa boa. Porque eu perco um amigo mas não perco um texto. Sou casado com meu texto. É a única coisa que importa pra mim. E de quem eu escrevo mal geralmente não me recebe muito bem não. Não quer me ver por perto. Daí é natural eu me aproximar de quem a meu ver faz um bom trabalho.

Dória – Então já que a gente está nesse momento de autoanálise ou autocrítica: eu não faço críticas exatamente por isso. A minha relação com os cozinheiros eu costumo dizer pra eles, é uma relação de antropólogo com índio. Eu quero suas informações então, me tome como seu amigo, eu nunca vou falar mal. Falo bem. Aqueles que são meus amigos eu falo bem. Por exemplo, o Marcelo do Jiquitaia eu não poupo elogios. Embora ele faça uma sobremesa de merda né? E ele já sabe, já disse isso. Isso é um problema na nossa amizade. É uma relação difícil, você ficar se debruçando sobre o trabalho do outro e dizer que ele é uma merda, é muito chato. É uma posição difícil, dá nisso aí, você fica sozinho, custa caro, né?

JB – É, mas tudo bem.
Dória – Tudo bem, tem o texto. Você espera que seu texto sobreviva…

JB – É melhor ficar sozinho e com texto.
Dória – Sim, é melhor ficar sozinho e com texto, do que acompanhado e sem texto. Mas o melhor é ficar acompanhado e com o texto, não é? Ou não?

JB – Não dá é inconciliável.
Dória – Poxa vida. Você acha que a crítica é uma relação solitária com o mundo?

JB – Sem dúvida, escrever é um ato solitário.

Dória – Escrever sim, mas eu estou falando da crítica.

JB – Eu não me considero crítico, eu me considero um cronista gastronômico. Mas o texto é crítico, um texto crítico dentro de uma crônica. É solitário sim.

Dória – No fundo eu quero saber, pra quem tiver nos assistindo, quais são os contornos desse universo, da “jabalândia”, entendeu?

JB – O grande problema da “jabalândia” é a desinformação, esse é o grande desserviço. Porque a partir do momento que o blogueiro, o instagramer, o jornalista promove um jabá e forma um conteúdo, ele confunde o comensal que tem muito a aprender. Todos nós temos muito a aprender. Assim como o chef o cozinheiro, ele pode informar, pode prestar um serviço a mais, o blogueiro quem tem uma mídia, que trabalha uma mídia ele também tem que informar. Mais até que o Chef, ele só faz isso. Daí você me faz um jabá e não fala isso, é péssimo. Tem vários nomes, por exemplo, Alienation é o nome de maior relevância na mídia. Segundo os donos dos restaurantes que eu conversei é nessa ordem: Alienation, instagram do Fábio Moon que faz jabá afetivo, defende trabalho de merda de amigos e eu em terceiro.

Dória – Você é jabá afetivo também.

JB– De maneira alguma.

Dória – Anti-afetivo?

JB – (Risos) Não, não é oposto. Eu falo bem de quem trabalha bem, na minha opinião. Mas a Alienation por algum tempo ela colocou posts publicitários no instagram dela, com uma hashtag publi (#publi). O site da Gastrolândia você não sabe o que é institucional, o que é crítico e o que é uma ação de marketing. É uma confusão. Isso é um desserviço tremendo, causa confusão. Ela faz tudo, ela informa tudo, mas não de maneira clara. A falta de fluência causa a desinformação. Vai na escola, quando o Josimar Melo era relevante, daí a ex-mulher dele abre com o afilhado um restaurante, o Le Jazz, por seu um restaurante de um afilhado e de uma ex-mulher ele deu uma carimbo de qualidade e autenticidade que não existe, porque é uma comida muito ruim. É um jabá. Tem o Fábio Moon né? O Fábio Moon tem uma quadrilha, Andre Mifano, Alex Atala, um monte de bobo porque ele é amigo ele vai… o que é perigosíssimo, porque ele é rico, ninguém sabe de onde vem o dinheiro, paga suas contas. Se envolveu com um monte de picareta, que vai lá e fala que é bom, ele sabe que não é bom. Mas ele fala que é bom, o que se pode fazer? Agora você tem o Digital Influencer, tem gente que não domina assunto algum, mais que tem popularidade e daí marcas vão atrás. Por exemplo, o Otavio Albuquerque do Roller Gourmet, ele tem 10 vezes mais seguidores do que eu, ele é popular mesmo. Daí pega uma marca como o Tanqueray e fala vem aqui participar de uma ação com a gente, a gente te da três gin tônicas e a gente tira uma fotinho. Esse é o novo jabá. Vamos pedir mais um café para a Gisele Coutinho?

Dória – É, vamos.

JB – Gisele tem jabá, aí?

Gisele – Não.

Dória – Não tem jabá?

JB – Então, dá café mesmo.

Dória – O que a gente pode concluir JB é que aquela fronteira entre conteúdo editorial e publicidade sumiu, pelo menos em gastronomia sumiu. A informação passou a ter valor e há pessoas que vendem mesmo. A relevância de quem não vede, é mínima. Olha aqui nosso segundo café. É bom mesmo o café aqui, hein?

JB – É bom o café.

Dória – Não foi jabá isso aqui não, na Veja não tem jabá.

JB – Depois você me paga, bananeira?

Flávia – Pode deixar.

Dória – Como esse mundo virou cheio de ciladas, de falsas informações, sair para comer é uma coisa arriscada, custa caro. Geralmente você vai comer uma coisa medíocre que talvez seja melhor comer em casa mesmo, um jabá por exemplo.

JB – Fazer o seu jabá em casa, jabá mesmo, é uma delícia. Jabá, cebolinha roxa, uma pimenta, bem queimada, é uma boa solução.

Dória – Mas não escondidinho pelo amor de Deus.

JB – Não escondidinho não.

Dória – Escondidinho é meio brega. Quer dizer eles pegaram uma comida da tradição brasileira, para fazer uma coisa brega. Chega.
 

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