{"id":39004,"date":"2018-09-22T17:03:25","date_gmt":"2018-09-22T20:03:25","guid":{"rendered":"https:\/\/nocaute.blog.br\/?p=39004"},"modified":"2018-09-22T17:18:14","modified_gmt":"2018-09-22T20:18:14","slug":"o-estado-reconhece-mais-uma-vitima-o-embaixador-jose-jobim-foi-torturado-e-assassinado-pelos-militares","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nocaute.blog.br\/2018\/09\/22\/o-estado-reconhece-mais-uma-vitima-o-embaixador-jose-jobim-foi-torturado-e-assassinado-pelos-militares\/","title":{"rendered":"O Estado reconhece mais uma v\u00edtima: o embaixador Jos\u00e9 Jobim foi torturado e assassinado pelos militares"},"content":{"rendered":"

O Estado brasileiro reconheceu oficialmente que o diplomata Jos\u00e9 Jobim foi morto ap\u00f3s sequestro e tortura pela ditadura militar no Brasil em mar\u00e7o de 1979. Nessa sexta-feira (21) o Estado brasileiro emitiu uma nova certid\u00e3o de \u00f3bito de Jobim corrigida 39 anos ap\u00f3s sua morte.<\/h2>\n

A nova certid\u00e3o corrige o motivo de \u00f3bito de Jobim: “O falecimento ocorreu por volta do dia 24 de mar\u00e7o de 1979, na Cidade do Rio de Janeiro-RJ, em raz\u00e3o da morte n\u00e3o natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da persegui\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica e generalizada \u00e0 popula\u00e7\u00e3o identificada como opositora pol\u00edtica ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.<\/p>\n

O documento \u00e9 resultado dos trabalhos da Comiss\u00e3o Especial sobre Mortos e Desaparecidos Pol\u00edticos e da Comiss\u00e3o Nacional da Verdade, que em seu relat\u00f3rio final, ainda em dezembro de 2014, recomendou que o pa\u00eds retificasse a causa de morte de pessoas que faleceram em decorr\u00eancia de graves viola\u00e7\u00f5es de direitos humanos, incluindo desaparecidos pol\u00edticos.<\/span><\/p>\n

A filha do de Jobim, a tamb\u00e9m diplomata Lygia Maria Collor Jobim, <\/span>entrou com um pedido para corrigir a certid\u00e3o de \u00f3bito de seu pai, que at\u00e9 hoje trazia causa de morte “indefinida”, a depender “dos resultados dos exames complementares solicitados”<\/span>. Em entrevista \u00e0 revista \u00c9poca ela afirmou que o Brasil tem que conhecer o que aconteceu no passado para que isso n\u00e3o continue acontecendo no presente.<\/span><\/p>\n

“Ainda vemos desaparecidos, assassinados, torturados, pelo mesmo Estado. Isso tem que parar. O que me deu for\u00e7as para n\u00e3o desistir, muito mais do que um dever para com a minha fam\u00edlia, foi o que meus pais me ensinaram: que, antes de mais nada, temos um de`ver para com o pa\u00eds”, disse Lygia.<\/span><\/p>\n

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Jos\u00e9 Jobim, \u00e0 esquerda, no vel\u00f3rio do irm\u00e3o Danton, em 1978. Junto com ele est\u00e1 o almirante Amaral Peixoto, genro de Get\u00falio Vargas.<\/p><\/div>\n

Desaparecimento<\/b><\/p>\n

O embaixador havia desaparecido uma semana depois de anunciar que denunciaria um esquema de corrup\u00e7\u00e3o cometido durante a ditadura do regime militar. Jos\u00e9 Jobim iria revelar em um livro de mem\u00f3rias o superfaturamento de dez vezes o valor original para a constru\u00e7\u00e3o da Usina Hidrel\u00e9trica de Itaipu – obra gigantesca constru\u00edda em sociedade entre os governos do Brasil e do Paraguai, ambos ent\u00e3o governados por ditaduras..<\/span><\/p>\n

Depois de trabalhar como jornalista, Jos\u00e9 Jobim ingressou na carreira diplom\u00e1tica em 1938, tendo servido no Jap\u00e3o, EUA, Arg\u00e9lia, Argentina, Uruguai, Equador, Col\u00f4mbia, Paraguai, Vaticano e Marrocos. <\/span><\/p>\n

Quando nasceu a id\u00e9ia da constru\u00e7\u00e3o de Itaipu, entre 1957 e 1959, Jobim era embaixador no Paraguai. Chegou a ser enviado pelo presidente Jo\u00e3o Goulart a uma miss\u00e3o, em fevereiro de 1964, com ministros paraguaios para tratar do tema. Em 1966, voltou a participar de um encontro para assinar a “Ata das Cataratas”.<\/span><\/p>\n

Sete dias antes de seu desaparecimento, no dia 15 de mar\u00e7o de 1979, o embaixador Jos\u00e9 Jobim compareceu \u00e0 posse do general Jo\u00e3o Figueiredo como o novo presidente do Brasil. Na ocasi\u00e3o, mencionou a algu\u00e9m que estava escrevendo um livro de mem\u00f3rias, no qual revelaria o esquema de corrup\u00e7\u00e3o. Ao sair para visitar um amigo no dia 22 de mar\u00e7o daquele ano, n\u00e3o retornou.<\/span><\/p>\n

O diplomata conseguiu entregar um bilhete \u00e0 dona de uma farm\u00e1cia na Barra da Tijuca, informando que tinha sido sequestrado e que seria levado para “logo depois da Ponte da Joatinga”. A menos de um quil\u00f4metro da ponte, seu corpo foi encontrado, pendurado pelo pesco\u00e7o em uma corda de n\u00e1ilon amarrada a uma \u00e1rvore, mas suas pernas tocavam o ch\u00e3o.<\/span><\/p>\n

De acordo com o Relat\u00f3rio da CNV, Jos\u00e9 Jobim foi sequestrado e mantido em cativeiro por dois dias e meio, em local incerto, e interrogado sob tortura.<\/span><\/p>\n

N\u00e3o se sabe que segredos o diplomata levou para o t\u00famulo, mas s\u00e3o incont\u00e1veis as hist\u00f3rias obscuras envolvendo a constru\u00e7\u00e3o da mega usina de Itaipu – a maior do mundo, superior \u00e0 de Tr\u00eas Gargantas, na China. Empres\u00e1rios testemunharam, por exemplo, que ao ver o resultado da licita\u00e7\u00e3o, vencido por um cons\u00f3rcio liderado pela construtora Mendes J\u00fanior, e de cujo grupo n\u00e3o fazia parte a gigante Camargo Corr\u00eaa, o ditador paraguaio Alfredo Stroessner passou os olhos pela papelada e perguntou:<\/span>
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– Pero donde est\u00e1 el Chino? No veo el nombre del Chino.<\/span><\/p>\n

\u201cEl Chino\u201d era como Stroessner tratava seu melhor amigo, o brasileiro Sebasti\u00e3o Camargo, dono da Camargo Corr\u00eaa, que havia sido alijada da lista dos vencedores. Diante dos olhares espantados dos presentes, o ditador disse apenas uma frase e virou as costas:<\/span><\/p>\n

– Si no est\u00e1 el Chino, no habr\u00e1 usina de Itaipu.<\/span><\/p>\n

A exig\u00eancia do ditador foi cumprida, deu-se um jeito, claro, e a Camargo Corr\u00eaa acabou recebendo sua fatia na obra monumental.<\/span><\/p>\n

A fam\u00edlia Jobim nunca foi pr\u00f3xima dos militares que tomaram o poder em 1964. Ao contr\u00e1rio. Danton Jobim, irm\u00e3o mais velho do diplomata, foi quem assumiu a presid\u00eancia do jornal oposicionista \u201c\u00daltima Hora\u201d quando seu criador, Samuel Wainer, foi exilado pela ditadura. E em 1970 seria eleito senador pelo MDB, partido de oposi\u00e7\u00e3o ao regime.<\/span><\/p>\n

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Segunda via da certid\u00e3o de \u00f3bito de Jos\u00e9 Jobim<\/p><\/div>\n

Com informa\u00e7\u00f5es do <\/span>Jornal GGN<\/span><\/i><\/p>\n