Mundo

O fim dos tempos modernos

Revista francesa criada por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, “Les Temps Modernes”, deixa de ser publicada por falta de leitores.

A França tem dessas coisas. Revistas comemoram seus centenários, seus números mil, dois mil, muitas vezes indiferentes aos sucessivos tsunamis provocados pelos tempos modernos, mudança de hábitos e as voltas que o mundo dá.

Apesar de toda a revolução tecnológica dos últimos tempos, os franceses são uns privilegiados e se dão ao luxo de escolher uma entre uma dúzia de revistas mensais de História, de Cinema, de Ciência, de Música Clássica, de comportamento.

No entanto, em pleno 2019, uma das mais prestigiadas publicações do país, a revista “Les Temps Modernes”, criada em outubro de 1945 por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, além de um colegiado de notáveis, acaba de entregar os pontos. Anunciou o seu fechamento e o motivo não é outro: Faltam leitores.

“Les Temps Modernes”, publicada cinco vezes ao ano, em formato livro, era uma publicação de referência no meio intelectual francês desde o final da Segunda Guerra Mundial. Passou por várias editoras, inicialmente a Gallimard (até 1948), depois a Julliard (de 1949 a 1965), mais tarde pela Presses d’Aujourd’hui (até 1985) e finalmente de volta à Gallimard, até o seu fechamento.

Com um comitê de redação composto de nomes, além de Sartre e Simone, Raymond Aron, Michel Leiris, Maurice Merleau-Ponty, Albert Olivier e Jean Paulhan, o primeiro número causou um furor no meio intelectual francês. A partir daí e por todos os anos seguintes, pensadores, filósofos, pesquisadores e sociólogos queriam publicar seus artigos e estudos na “Temps Modernes”.

Nesses anos todos, passaram pela revista Samuel Beckett, Jean Genet, Marguerite Duras, Hannah Arendt, Nathalie Sarraute, Michel Foucault, Jürgen Habermas, para citar apenas alguns.

A revista, através dos anos, foi construindo uma verdadeira enciclopédia do pensamento, com dossiês que entraram para a História. Números especiais sobre a Alemanha, Israel, Vietnã, Estados Unidos, Venezuela, a Esquerda, são hoje itens preciosos de colecionadores. Mas, infelizmente a revista não resistiu aos tempos modernos. Fechou suas portas deixando para trás uma incógnita: Será que novos tempos modernos virão?

Notícias relacionadas